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Campanha relembra machismo musical e supera 100 mil compartilhamentos
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A campanha “Música: uma construção de gênero” ganhou notoriedade em todo o país ao abordar o assunto machismo. Feita pela Secretaria de Políticas para Mulheres de São Leopoldo (Sepom), teve por objetivo lançar um olhar reflexivo sobre canções, muitas delas famosas, que trazem em suas letras temas como violência, abuso e feminicídio.  

“A ideia surgiu na época em que foi lançada a música ‘Surubinha de leve’, funk do MC Diguinho. Ela repercutiu bastante, trazendo à tona o debate sobre o machismo e a incitação à violência contra a mulher na música”, relembrou a secretária Danusa Alhandra, da Sepom.  

A ação contou com a participação de 19 integrantes, entre eles funcionários da secretaria, do gabinete da vice-prefeita, da rede municipal de ensino, além das redes sociais e sociedade civil. A campanha levou um mês para ser concluída e os gastos se limitaram à impressão das fotos, um custo que chegou a 338,30 reais.  

Machismo não é específico, é generalizado 

Mesmo tendo o funk como ponto de partida, a ação abordou diferentes gêneros musicais. “O funk geralmente é criminalizado por ser uma música de periferia. Conseguimos provar com a campanha que não é só esse ritmo que incita à violência em suas letras”, explicou Eduarda Moraes, estagiária de jornalismo da Sepom e estudante de Jornalismo da Unisinos.  

Para chamar a atenção dos gaúchos, a canção “Ajoelha e chora”, do Grupo Tradição, foi usada na campanha. O refrão “Ajoelha e chora, ajoelha e chora. Quanto mais eu passo laço, muito mais ela me adora” representa uma forma de abuso, salientou Eduarda. “A cultura musical do mundo é machista. O machismo não é algo que acontece apenas no Rio Grande do Sul. Por isso, mostramos todos os estilos de músicas”, disse a secretária.

Foto: Thales Ferreira

No dia 21 de fevereiro, a primeira imagem da campanha foi postada nas redes sociais. A partir disso, uma sequência de publicações, realizadas até o dia 8 de março, chamou a atenção da página do Facebook Professora Problematizadora, que compartilhou as fotos e impulsionou as visualizações. No dia 10 de março, havia mais de 50 mil compartilhamentos. “Recentemente, eu fui atualizar esse número e já estava em mais de 100 mil”, enfatizou Eduarda.  

 

Exemplificando o machismo 

A artesã Solentina Janice Noronha Cabral foi uma das modelos que participou das fotografias que fizeram parte da campanha. “Me chamou a atenção que músicas, que antes eram cantadas sem que o ataque moral fosse percebido, passaram a ser vistas como realmente são. Elas instigam a violência contra a mulher sem nenhum limite”, avaliou. 

Foto: Thales Ferreira

 Nas imagens, Solentina segura o cartaz com os dizeres “Tudo que é perfeito, a gente pega pelo braço, joga lá no meio, mete em cima e mete em baixo. Depois de 9 meses, você vê o resultado”, trecho da música “Pau que nasce torto”, do grupo É o Tchan. “Para mim, caracteriza que, independente da mulher querer ou não ter relação, sua decisão não importa, muito menos as consequências deste ato”.   

De acordo com Eduarda, a campanha recebeu muito apoio, mas não foi imune a comentários negativos. “Muitos continham bastante xingamentos. Algumas coisas que realmente ofendem bastante, relatos de que a gente estaria fazendo mimimi”, contou a estagiária.  

Danusa achou muito importante uma ação nas redes sociais que combata o machismo. “Significa mexer nas estruturas da sociedade e preservar as vidas de mulheres, pois todo dia, toda hora, uma mulher morre por causa do machismo. O machismo mata! Nunca viveremos em uma sociedade humanitariamente igual enquanto as mulheres não se emanciparem”, defendeu a secretária.  

A experiência foi muito boa para Janice. “É uma forma de ajudarmos muitas mulheres a se libertar do machismo, seja ele por atos, palavras ou mesmo ações”. 

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