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Edição especial do Enfoque acompanha abordagens do projeto Ação de Rua pelos bairros de Porto Alegre 
"Jornal traz histórias coletadas em um dia de visitas a moradores de rua da Capital"
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Alunos da disciplina de Projeto Experimental em Jornalismo foram a campo, neste primeiro semestre de 2023, para acompanhar os atendimentos realizados pelo projeto Ação de Rua, promovido pela Fundação Fé e Alegria, em bairros de Porto Alegre. O resultado foi a produção de uma edição especial do jornal Enfoque, já disponível na internet.


A professora Beatriz Sallet orientou as quatro equipes de estudantes, que se dividiram para cobrir o máximo possível da ação. “Trata-se de um trabalho muito sensível, no qual cada repórter e fotógrafo puderam trazer diferentes histórias”, conta Bea, como é conhecida pelos alunos.


A empatia e a solidariedade foram imediatas quando os estudantes conheceram pessoas que passam por dificuldades e que não foram amparadas de forma correta. A ideia do trabalho da Fé e Alegria é prevenir situações de risco pessoal e social decorrentes de diversos problemas, como a pobreza, falta de acesso aos serviços públicos e fragilização de vínculos afetivos e comunitários. “Acompanhando tudo isso, nota-se que há de ter cada vez mais políticas públicas avançadas nesse tema. O direito de viver com dignidade é essencial para a coletividade humana”, avalia a professora.


Antes da saída das abordagens, a psicóloga Michele Nunes explica como irá funcionar o trabalho deles durante a manhã
(Foto: Lucas Kominkievicz)


Assistentes sociais e educadores da Fé e Alegria saem as ruas e dialogam com as pessoas que estão morando na rua. Bruna Schlisting, que acompanhou um desses momentos, pode observar a Fundação levar cuidado e preocupação de integridade para essas pessoas. “De um lado, pudemos ver o quanto tem gente nessa situação vulnerável e que não está em nossas mãos resolver o problema. Porém, posso escrever sobre isso, trazendo a situação à tona e, quem sabe, fazer com que os leitores se sensibilizem para também ajudar”, salienta a aluna.


O Projeto Ação de Rua auxilia moradores sem-teto de Porto Alegre com documentos, roupas, alimentos e cobertores
(Foto: Bruna Schlisting)


“A parte positiva é que existem instituições que dão atenção da porta para fora, ou seja, a ajuda vem até eles, e não o contrário, dando um auxílio básico com um cobertor, cesta básica, documentos e orientações”, afirma Bruna.


Ela fez parte da equipe que atuou no Centro da capital, ao lado da também repórter Paola Torres e da Julia Azevedo, que ficou responsável pelas fotografias. “Por mais que soubéssemos como seria, ver realmente a maneira como as pessoas em situação de rua se viram para sobreviver é uma experiência que nos tira da nossa bolha”, reflete.


Abordagem começa com uma conversa inicial com os moradores de rua para saberem de suas principais necessidades
(Foto: Júlia Azevedo)


Bruna conta que elas foram levadas para conversar com pessoas com dependência química, e os relatos deles evidenciam muito a importância desses trabalhos da Fé e Alegria. Houve um momento em que Julia falou com um homem que mora há anos no mesmo lugar. Ele tem uma “estrutura” maior, com um colchão protegido por madeiras, algo parecido com uma barraca. Essa moradia precária acaba dificultado a possiblidade dele conseguir trabalho, pois, se ele se ausentar do local, outras pessoas podem passar ali e achar que utensílios e objetos não estão sendo usados, e ele perderia tudo o que tem.


Com a ajuda do projeto, o morador de rua conseguiu ter documentos de identidade, além de receber auxílios que tem direto. “Agora, ele espera conseguir alugar um lugar para morar e poder voltar a trabalhar como pintor. Passamos só algumas horas com eles, que fazem essas ações todos os dias, atendendo centenas de pessoas, e pudemos ver o impacto que esse serviço tem, fornecendo apoio, ajuda para eles receberem seus direitos e até outros itens, como cobertores, para ficarem mais confortáveis dentro do que têm”, comenta Bruna. 


A futura repórter pondera que existe certo preconceito por quem vê de longe o drama dos desassistidos, pois muita gente pensa que todos os moradores de rua são só dependentes químicos. Porém, existem outros fatores que levam as pessoas a perderem tudo, como a má situação financeira e problemas psiquiátricos, por exemplo.


Bruna notou que a maioria da população de rua é formada por homens, e as mulheres, muitas vezes, estão ali pra fugir dos maridos abusivos. “Um comunicador social que estava com a gente contou que existem relatos de que elas sofrem abusos na rua, vindo de todos os lados, então, às vezes, preferem voltar para casa e sofrer isso só do marido.”


Roupas, sacos e objetos ficam espalhados pelo pequeno espaço da moradia improvisada de um morador de rua
(Foto: Alessandra Araújo)


Para Julia, todo mundo merecia viver com dignidade, segurança e conforto, e é triste ver a quantidade de gente que não tem isso. Paola Torres falou que, para ela, foi uma experiência jornalística muito interessante, porque é preciso contar histórias muito duras, e acessar elas não são fáceis. “As pessoas que estão na rua sentem medo, além de nem sempre estarem sóbrias. Estivemos percorrendo o Centro de Porto Alegre e vimos ele de outra perspectiva, entrando em lugares que não teríamos visto no nosso dia a dia”, destacou.


Paola observa que foi tomado todo o cuidado em preservar a identidade das pessoas e a identificação dos lugares onde elas ficam, para evitar retaliações. “Por fim, foi uma experiência muito forte do ponto vista humano. Acho que é uma vivência que todo cidadão deveria ter: acompanhar e ouvir o que as pessoas em situação de rua vivem e passam. Fizemos um trabalho que uniu a informação, a construção de narrativa e a divulgação de um serviço da maior importância”, avalia.

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