#Ativismo #Contraversão #fotografia
Verônica Marques Martins
"“Quem fotografa natureza e animais acaba se apaixonando pela natureza por causa da fotografia. Eu fiz o caminho inverso”"
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Mais que um clique na câmera, a fotografia é uma forma de ativismo para a recém egressa da Unisinos Verônica Marques Martins, 22 anos. Recentemente, a jovem foi finalista do 13º Festival Internacional de Fotografia Paraty em Foco 2017, na categoria Convocatória Portfólio com o ensaio “Contraversão”, clicado para o projeto de conclusão de curso. A fotógrafa nasceu e reside até hoje em São Leopoldo, lugar de infância tranquila, onde sempre esteve rodeada pela natureza.

O projeto retrata a paixão da fotógrafa por dar voz àqueles que são criados para serem invisíveis. Vegana, ela conta que usou o ensaio para se colocar no lugar dos animais e expor suas histórias de dor e sofrimento. É claro que o trabalho fotográfico de Verônica não se resume ao “Contraversão”, mas poder unir a fotografia com a natureza, e principalmente aos animais, é um sonho antigo dela.

Aos 15 anos, uma experiência encantadora mostrou para a fotógrafa que as imagens tinham um significado especial, de, naquele momento, guardar recordações. Verônica encontrou um filhote de passarinho que havia se perdido do ninho e o abraçou em seus cuidados. A relação com o animalzinho foi engrandecedora para a família, e a fotógrafa decidiu que precisava registrar aquele convívio. “Ele era incrível, a relação que ele tinha comigo e com meus pais era maravilhosa. Eu precisava registrar aqueles momentos até quando pudesse libertar ele”, confidenciou.

Foi então que ela decidiu: iria cursar algo que pudesse estar relacionado à natureza. Engana-se quem pensou que Biologia seria a escolha. Participando do evento “Conecta”, da Unisinos, Verônica encantou-se pela fotografia e viu ali uma oportunidade de graduação. “Depois que descobri a fotografia vi a chance de unir duas paixões. É o que eu mais amo fotografar, e o ramo da fotografia que quero seguir como carreira”, contou.

Verônica contou que o curso superior em Fotografia foi fundamental para a construção da profissional. “A fotografia não é só o conhecimento técnico. A graduação nos traz a chance de experimentar em muitas áreas, criar repertório, conhecer a história da fotografia e dos grandes fotógrafos”, assegurou. Ela disse ainda que mesmo se tivesse a oportunidade de recomeçar e fazer diferente, não o faria, pois sua trajetória é formada por erros e aprendizados.

Um clique, talvez dois, é assim que a fotógrafa faz seus ensaio. Nada de mil fotos para selecionar depois. “Tiro pouquíssimas fotos, não consigo ir pro lugar e começar a testar na hora, fotografar de tudo. Em ensaios eu sempre monto a imagem que quero mentalmente antes de começar”, confessou. A maior produção de seus ensaios acontece distante do local das fotos, quando ela idealiza os cenários e enquadramentos necessários.

O ensaio “Contraversão” foi um dos trabalhos vencedores do Prêmio Unicos 2017 – Foto: Gabriela Höerlle

O grande projeto

O “Contraversão” é a menina dos olhos para a fotógrafa. Nesta semana, ela foi a vencedora do Prêmio Unicos, da Unisinos, na categoria “ensaio”. Mas o grande sucesso dos cliques é o resultado do sentimento colocado em cada fotografia. “É o trabalho mais verdadeiro que eu poderia fazer, é 100% o que eu sou e luto”, contou.

No ensaio Verônica, literalmente, coloca-se no lugar dos animais. Corpos riscados para definir cortes, gaiolas minúsculas, redes de pesca e ganchos para pendurar as carcaças. Tudo isso foi retratado nas fotografias. “Ver um humano onde normalmente estaria um animal, nos faz parar ao menos por alguns segundos para observar o quão desumana é aquela condição que o animal vive e que passa despercebida diariamente”, desabafou.

Participação de Verônica no 13º Festival Internacional de Fotografia Paraty em Foco 2017 – Foto: Leonardo Savaris

A ideia do projeto surgiu um pouco antes do Trabalho de Conclusão de Curso. Em uma disciplina em que deveria realizar um projeto documental, Verônica contou por meio das fotografias o destino dos animais criados para abate. Foi naquele momento que a percepção da fotografia como forma de ativismo veio à tona.

No primeiro projeto, “Destino”, a ideia ficou centralizada na indústria da carne, mas foi ampliada com o tempo. “Depois, surgiu a ideia de me colocar no lugar dos animais nas fotografias, poderia falar de modo mais geral sobre as milhares de torturas que os animais passam e talvez fosse mais comovente. Aproveitei para desenvolver a ideia durante o projeto integrador então”, contou Verônica.

Fotografia do projeto “Destino”

Para quem pensa que o projeto está finalizado, engana-se. Verônica está em processo de criação de mais fotos para o “Contraversão”. Por se tratar de um assunto amplo, existem mais assuntos que a fotógrafa pretende abordar. “Acho que é um trabalho pra vida toda, infelizmente ainda estamos longe do dia em que veremos os animais de forma consciente, então a fotografia política, de ativismo animal me parece cada vez mais importante”. Mesmo os trabalhos futuros de Verônica, tem a questão animal como centro de discussão.

Confira as fotos do projeto “Contraversão”:

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