Vitória Macedo, 25 anos, egressa do curso de Fotografia da Unisinos, foi selecionada em duas premiações de artes visuais. Em julho, ficou na terceira posição do 4º Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea, e também foi uma das selecionadas no 25º Salão Anapolino de Arte Contemporânea.
Formada em dezembro de 2019, Vitória apresentou em ambas premiações trabalhos produzidos durante sua trajetória acadêmica que abordam vivências pessoais dela como mulher negra. Por exemplo, uma vez em que ela viajou para São Paulo e as pessoas ficaram chocadas quando ela disse que é gaúcha, pois diziam conhecer gaúchos que afirmavam que no sul não tem negros. “Gaúchos saindo daqui para afirmar lá fora que no sul não tem negro quer dizer duas coisas. Um: a gente é invisível aqui; dois: um estado que supostamente não tem negros se torna socialmente higienizado, consequentemente melhor do que o resto do Brasil”, explica a fotógrafa.
Para retratar isso, Vitória apresentou um trabalho analógico feito para a Unisinos que não deu certo, pois na revelação as imagens ficaram muito esbranquiçadas. Mesmo assim, ela guardou as fotos, que acabaram servindo como uma representação metafórica do processo de apagamento e do domínio do branco sobre o preto. Além desse, também foram apresentadas fotografias retratando inseguranças que ela teve com sua aparência, seu desejo por um mundo onde as mulheres não sofram assédio e pesquisas que ela fez sobre a diáspora africana.
Vitória diz que sempre acreditou que artistas nascem com sua criatividade e talento, mas o curso de fotografia da Unisinos foi fundamental para ela entender que existe um processo entre querer expressar algo e conseguir executar isso. “Geralmente os meus projetos vêm de acontecimentos cotidianos e de coisas que eu fico pensando durante muito tempo, até que eu vou pesquisar sobre o assunto e procurar referências visuais e teóricas”, diz. Porém, ao buscar referências teóricas, Vitória sentiu que havia pouco material produzido por pessoas negras, o que dificultou seu trabalho.
A fotógrafa já havia sido selecionada em 2019 para o prêmio da Aliança Francesa de Artes. Ela acreditou que levaria anos para ter um trabalho exposto, e ficou muito feliz não apenas por ter sido selecionada pela segunda vez esse ano, mas também por ver um crescimento na diversidade entre os selecionados da premiação. “Esse ano a seleção da mostra está trazendo artistas bem diversos em suas representatividades, como a Mitti Mendonça e o Xadalu, que ficaram com as duas primeiras colocações. Isso demonstra que há o interesse e o esforço por parte dos organizadores em dar visibilidade e espaço de inclusão a todos”, afirma.
A professora e coordenador do curso de Fotografia, Marina Chiapinotto, diz que sente um orgulho enorme de ver uma fotógrafa que foi sua aluna selecionada nessas premiações. “A Vitória é uma aluna que representa, como todos os outros, um pouco do que é a construção da Fotografia na Unisinos. Ela desenvolveu múltiplas habilidades durante o curso, e possui uma voz importante dentro da representatividade”, conta a coordenadora.
Atualmente, Vitória trabalha como fotógrafa freelancer e pretende se especializar em direção de arte para cinema. Ela conta que essas premiações servem como incentivo tanto para ela quanto para outros fotógrafos no início da carreira para que sigam com suas produções.