O segundo semestre do ano de 2023 inicia com um feito importante, motivo de orgulho para a Unisinos e, mais especificamente, para o Instituto Humanitas (IHU). Os estudantes do curso de Jornalismo, que também integram a equipe jornalística do site do IHU Marcelo Zanotti, Bruna Chaves e Stephany Oreli produziram um podcast chamado “Informe IHU: Especial Povo Yanomami”. Nele, trataram sobre o drama dos Yanomami, que ficou mais evidente na mídia no início do ano, época em que o programa especial foi lançado (janeiro).
Agora, os três concorrem como finalistas a um importante prêmio de comunicação brasileiro, o da Fundação José Luiz Egydio Setúbal, ao lado de organizações do jornalismo de referência, como O Estado de São Paulo, Terra, Veja, além de cursos acadêmicos, como a Faculdade Cásper Líbero e a PUCRS. Os profissionais vencedores serão premiados com R$ 11.000,00 cada, e serão R$ 6.000,00 para os estudantes universitários vencedores (R$ 4.000,00 para os alunos e R$ 2.000,00 para o professor orientador, que assina a inscrição). A premiação ocorrerá no dia 25 de setembro em São Paulo.
O objetivo do episódio foi ajudar o público a entender a questão indígena, “que é negligenciada pelo governo brasileiro e pelas pessoas também. O público não se interessa pela pauta indígena e é, muitas vezes, xenofóbico e racista com eles”, segundo Stephany, uma das narradoras do Especial e que está atualmente no quinto semestre do curso.
A estudante destaca que o IHU já vinha trazendo à tona a temática Yanomami, do genocídio e situação de fome, por exemplo, há muito tempo, ainda segundo Stephany. “Noticiamos muitas coisas, muito antes da tragédia. Tanto é que tínhamos notícias de setembro, outubro e dezembro (de 2022) sobre essa mesma situação. A situação era tão grave que o Informe foi só sobre isso”. Geralmente, são trazidas reportagens de vários assuntos diferentes no compilado semanal do Informe.
Informe IHU e Jornalismo Experimental
A realização faz parte da categoria “Informe IHU”, uma espécie de compilado de notícias relevantes transpostas em formato de áudio, sugerida inicialmente por Marcelo. O Informe é inovador porque isso não existia antes no universo do Instituto. Segundo o criador do programa, a proposta é fazer uma tradução em áudio do conteúdo tradicional do site, que consiste, em sua maioria, em textos longos, densos, acadêmicos e teóricos, com temas como Teologia, Ciências Políticas e Sociológicas. “Transformar em algo mais acessível e ágil, para aproximar o público dos assuntos relevantes tratados durante a semana”.
Além dessa categoria que é o Informe IHU, eles citam o Jornalismo Experimental, setor editorial onde a própria equipe pode publicar textos de autoria própria. Lá, se encontram diversos materiais, como resenhas, crônicas, notícias mais enxutas e até mesmo especiais de fim de ano.
O formato podcast
Esse formato de transmissão de informações permite a incorporação de elementos diferentes, que servem de ilustração do que está sendo dito. “Eu trato a edição como uma colcha de retalhos. É muito difícil explicar o que acontece na nossa cabeça, o que a gente quer dizer”, diz Marcelo.
O aluno do segundo semestre do curso de Jornalismo, que já é graduado em História pela Unisinos, continua discorrendo sobre a importância de produzir podcasts hoje em dia: “Esse formato tem uma vitalidade muito grande, é um passo muito importante porque o mundo está mudando. Não existe mais revista impressa quase. Então, são caminhos que temos que buscar para nos reinventarmos”.
Junto de Stephany, Bruna, que também já é formada, porém em Fotografia, e está iniciando o curso de Jornalismo neste semestre, compõe a dupla de narração. Além das vozes delas, se ouvem trechos de políticos e líderes de fundação dos povos indígenas. Na opinião de Stephany, “isso traz veracidade. Quando o Marcelo traz um recorte de uma fala do presidente (Lula), é diferente de nós só afirmarmos que o presidente falou algo. Tem impactos totalmente diferentes”.
O desenho de som surpreende o ouvinte, pois inclui músicas indígenas e a reprodução sonora de um tiro. “Representam a ambientação. A gente não vive dentro daquela terra, não sabe como é a realidade deles. O que acontece é que a sociedade está cada vez mais suprimindo eles, tirando o espaço em que eles convivem”, diz Stephany.
Ela complementa dizendo que o tiro representa a invasão, a violência sofrida pelo povo Yanomami. “É um som que vem do nada. E é exatamente o que acontece com eles. Eles não estão esperando, e do nada chega alguém atirando”. A estudante cita também uma notícia publicada pelo IHU no dia em que concedeu essa entrevista, que conta que quatro indígenas Tembé foram baleados.
Reconhecimento
“No meu caso, foi muito bacana, pois eu recém tinha entrado no IHU. E foi minha primeira experiência com um produto de áudio. O processo todo é muito legal, porque a gente acaba ficando por dentro de todas as notícias no dia a dia, mas colocar “para fora”, em voz alta, é totalmente diferente”, explica Bruna.
Além do retorno em forma de reconhecimento que veio com o prêmio, os números de acesso ao podcast também surpreenderam a equipe. “Ele não foi postado no site principal, apenas divulgado nas redes sociais. Ainda assim, tiveram muitas visualizações”, explica Marcelo. No site do IHU, há sempre o artigo principal, que é a entrevista do dia, e outras três notícias destaque. “A (notícia) principal recebe, em média, 700 acessos em um dia. O Informe chegava a bater 10 mil acessos em um dia. Esse dos yanomami tem, hoje, 20 mil visualizações”.
Para eles, receber a notícia dessa premiação é um reconhecimento da qualidade do trabalho desenvolvido, de que estão “no caminho certo”, já que é um trabalho essencialmente popular (no sentido de ser acessível à população, ao povo).
“Arrisca tua cabeça pensando o que ninguém pensou”
“Esperamos que quem ouvir o podcast até o final entenda que aquilo é uma denúncia, de algo que culminou numa crise humanitária muito grande. Um genocídio fruto de uma série de negligências políticas”, ressalta Marcelo. “Quando aquilo (toda a tragédia que já estava iminente) estourou, todos estavam falando sobre. Mas o importante é que quando tiram o refletor dali e posicionam em outro lugar, aquilo ainda está acontecendo, não terminou”.
O trio de estudantes traz exemplos de veículos de uma mídia alternativa, em que se pode acompanhar questões muitas vezes deixadas de lado tradicionalmente, além do IHU: sites como O Eco, Infoamazônia, Amazônia Real e Sumaúma, que priorizam questões ambientais.
“O povo ainda está sofrendo. O Informe serve para fazer a pessoa pensar, o que vai de acordo com a missão do IHU, que diz ‘Arrisca teus passos por caminhos pelos quais ninguém passou; arrisca tua cabeça pensando o que ninguém pensou’”, termina Marcelo.