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Como a pandemia afeta a saúde mental
" Em aula aberta, professores do curso de Medicina da Unisinos revelam aumento dos relatos de estresse, depressão e ansiedade durante o período de isolamento social"
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Você já se deu conta do quanto as coisas à sua volta se transformaram com a chegada do novo coronavírus? E como cada uma dessas mudanças impactou diretamente na sua rotina e no seu comportamento? Talvez não saibamos exatamente o que pode ter mudado dentro da gente e nem os nomes dessas sensações. Mas uma coisa é certa: existem maneiras de você diminuir os impactos dessas alterações em sua vida. 

Para ajudar a identificar essas transformações, o curso de Medicina da Unisinos tem realizado para a comunidade acadêmica aulas abertas sobre os cuidados em relação à Covid-19. Uma delas ocorreu na última quinta-feira, dia 4 de junho. Os professores Lucas Primo, Marina Londero, Felipe Gutiérrez Carvalho e Ricardo Lugon promoveram debate sobre os cuidados em relação à saúde mental em tempos de isolamento social. 

Marina apresentou informações sobre o aumento dos quadros de estresse agudo. Segundo ela, esse comportamento saltou de 6,9% para 9,7%. A depressão quase dobrou o percentual: de 4,2% subiu para 8%. A ansiedade tem registrado os maiores índices, com aumento de 8,7% para 14,9%. “Muito desses sentimentos surgem por estarmos enfrentando um vírus extremamente poderoso e invisível”, comentou a professora. Ricardo concorda e acrescenta: “Além da doença, a crise está generalizada, nos âmbitos da saúde, política e economia. Situações que por si só  causam receio. Quando vinculadas, potencializam ainda mais esses sintomas”, avaliou. 

O aumento dessas doenças está diretamente ligado à predisposição que muitas pessoas têm a transtornos psicológicos. As relações interpessoais também impactam diretamente no desenvolvimento de sintomas. Com isso, indivíduos acabam gerando respostas psicológicas e comportamentais a situações adversas, além de desenvolver comportamentos de risco, como aumento do consumo de bebidas alcoólicas, uso de substâncias psicoativas e tabaco, automedicação e até situações de violência e vulnerabilidade. 

Durante o debate, os professores concordaram que a “saúde mental precisa ir além da psiquiatria, psicologia e psicanálise. Ela diz respeito ao tipo de mundo que escolhemos e quais tipos de relações queremos construir com ele”. A fábula de Higino foi lembrada: fala do cuidado que as pessoas devem ter com a natureza e como se conectam com os outros seres vivos.

A importância das relações interpessoais para manter a saúde mental em dia nos tempos de isolamento foi destacada por Lucas. “Manter e reafirmar laços, mesmo que a distância, são fundamentais nesse período, pois as conexões íntimas são cruciais para a sobrevivência humana”, disse o professor. 

Os professores Felipe, Lucas, Ricardo, Cláudia e Mariana durante aula aberta.

Para colocar esse modo de vida em prática, Felipe apresentou alguns hábitos que todos nós podemos adotar para que esses sintomas sejam amenizados. Confira: 

  1. Mantenha horários regulares de sono e atividade:
    – Levantar todos os dias sempre no mesmo horário, inclusive nos finais de semana;
    – Auxilia a criar uma rotina e o corpo se adapta;
    – Evita prejuízos da dessincronização circadiana.
  2. Vá para a cama apenas quando estiver com sono, e evite:
    – Excesso de notícias;
    – Preocupações ruminativas;
    – Estímulos que possam causar distrações ou estados de alerta.
  3. Não tome medicamentos sem orientação médica:
    – Automedicação pode ter consequências graves.
  4. Não permaneça na cama se não conseguir dormir:
    – Após 20 minutos, recomenda-se levantar, fazer alguma atividade tranquilizadora e voltar para a cama apenas quando sentir sonolência novamente.
  5. Evite cochilos diurnos longos:
    – Cochilos maiores do que 20 minutos podem causar inércia de sono e dificultar o início e a manutenção do sono à noite.
  6. Exponha-se à luz solar:
    – Principalmente no período da manhã;
    – Promove sincronização com os ritmos exógenos.
  7. Evite exposição à luz artificial próximo ao horário de dormir:
    – A luz sinaliza para nosso relógio biológico que ainda é dia;
    – Há a inibição da liberação de melatonina;
    – Há dificuldades para adormecer.
  8. Evite o uso de estimulantes próximo ao horário de dormir:
    – Estimulantes: café, chimarrão, álcool e cigarro;
    – Eles dificultam e até podem levar à privação de sono por diversos mecanismo moleculares.
  9. Tenha um quarto favorável para dormir:
    – Utilize a cama somente para as rotinas de sono e sexo;
    – Escureça o quarto ou use tapa-olho;
    – Mantenha uma temperatura agradável;
    – Livre-se de ruídos.
  10. Realize atividades relaxantes próximo ao horário de dormir:
    – Exemplos: banho quente, chá com ervas, yoga, meditação.
  11. Evite alimentos próximo ao horário de dormir:
    – Deixar de estômago cheio pode causar refluxo, indigestão e pressão alta;
    – Mantém estado de alerta;
    – Fome também pode dificultar o sono.
  12. Evite exercícios físicos à noite:
    – O efeito estimulante pode prejudicar o sono;
    – Não é desculpa para permanecer sedentário.

Manter-se bem sempre será uma prática diária e de múltiplos fatores. Não é um tarefa fácil, ainda mais em isolamento social. Mas se você tomar cuidados e manter boas relações, dará o pontapé inicial para cultivar hábitos mais saudáveis. 

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