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A universidade é “um oceano que não tem fim”, diz Sergio Endler
"Despedindo-se da Unisinos como professor, no final de 2023 o jornalista cedeu uma entrevista exclusiva ao Mescla refletindo sobre sua trajetória e aprendizados até aqui, assim como legado e planos para o futuro"
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Finalizando a programação especial do Mescla de despedidas do professor Sergio Endler, no final de 2023 Endler cedeu uma entrevista exclusiva refletindo sobre sua trajetória e aprendizados até aqui, assim como planos para o futuro. 

Foram 37 anos da existência de Sergio Endler dedicados à Unisinos, e as marcas que esse grande profissional deixa provam sua excelência e simpatia. Confira como foi a conversa com o Mescla sobre esse momento tão delicado e especial, que conta com trechos em áudio gravados no estúdio de rádio da universidade. 

Quem é Sergio Endler? 

A vida da gente é um contínuo exercício de se autoconstruir. Nesse percurso, devo muito a diversas instituições. Primeiramente à UFRGS, onde estudei Letras e, antes de concluir, ingressei no jornalismo. Devo muito a esses dois cursos. Logo a seguir, trabalho já como jornalista no Correio do Povo, na Rádio Gaúcha, Rádio Guaíba… Tive a oportunidade também de criar dois espaços, que foram a nova Rádio Bandeirantes e a Rádio Sucesso, essa última sendo berço para alguns jornalistas como Sérgio Boaz e Cacalo. Vim para a Unisinos, então, ser professor por querer. “Por querer”, no sentido de estar querendo levar a sério essa carreira na docência, e não só a levando como “bico”, fonte de “renda extra”, como vários outros levavam. Em um período da vida anterior ao jornalismo, fui professor de inglês como ganha pão. No jornalismo foi muito diferente, tinha desejo. Então, Sergio Endler é um jornalista e professor por querer.” 

Como está o coração de professor no último semestre de docência? 

“Pode-se dizer que vivo três momentos nesse último semestre de 2023: dar tchau para o “ser professor”, viver esse momento de despedida com os alunos e colegas, e uma ansiedade com esse futuro imediato.” 

“É próprio do ser humano estar, a todo momento, encontrando algo, vivenciando algo e se despedindo daquilo.” Foto: Gabriele Rech 

Ao longo de tantas décadas de trabalho, qual vivência te marcou mais? 

“O convívio de uma pessoa que está aqui por querer, que se prepara para isso e deseja muito estar com os alunos e alunas. O mútuo querer fazer é uma coisa inigualável. (…) (Estar na universidade) é estar mergulhado num oceano que não tem fim e, ao mesmo tempo, conseguir aprender a nadar, surfar…” 

E sobre legado, o que tu gostarias de deixar de “herança” para quem passou por ti nesse caminho profissional? 

“A gente não controla essas coisas de legado. Até pela natureza daquilo que tu estás fazendo, na tua atuação tu acaba beneficiando muitíssimo alguém. Seja ao indicar para uma vaga de emprego, preparar para algum concurso, capacitar para a vida profissional. Por outro lado, tu pode estar se esforçando muito em uma direção e o grupo estar precisando de outra coisa. Quando paro para pensar na quantidade de guris e gurias que tive a oportunidade de conviver, eu acho que o legado é esse amor à causa, amor à vida. Eu amo o Internacional, adoro Porto Alegre, gosto muito de ser brasileiro, apesar de ter visitado e até morado em outros lugares, mas sempre tendo a certeza de que voltaria. O legado principal é esse: de que o jornalismo é uma causa que vale à pena empunhar e viver.” 

Quais foram os maiores desafios que tu passou, tanto como jornalista quanto como professor? 

“Bah, foram muitas as aventuras. Desde implementação de novos projetos, inovações na universidade, trabalhos com os alunos, assumir a coordenação do curso…”. 

Sérgio expõe alguns de seus feitos em forma de obras escritas. Foto: Gabriele Rech 

Ao olhar para trás, para todos estes feitos, qual é o primeiro sentimento que vem à mente? 

“Se fosse para resumir em uma palavra, seria alegria. Uma segunda palavra seria ‘afeto’. Porque, ao contrário do que diz a letra do hino à bandeira nacional, o afeto não se encerra em nosso peito juvenil, ele se expande, renova e segue, sempre seguirá. Agradeço muito à Agexcom também, que inclusive foi uma das coisas que eu criei, lá em 2002. Um lugar espetacular com diferentes safras de grupos muito bem cuidados pelos professores, com equipes muito dinâmicas de aproveitamento e visibilidade no que sempre fizeram.” 

E quais alunos te marcaram nessa caminhada? 

“A gente encontra ao longo do caminho os alunos e as alunas que serão nossos amigos para sempre, né? Outro sentido bonito da docência é ver onde aqueles que passaram determinado período contigo estão. (…) Às vezes, quando a gente está meio ‘jururu’, mais abatido, é bom pensar nessas contribuições que a universidade conseguiu fazer.” 

Qual lição mais valiosa que tu aprendeu sendo professor e jornalista? 

“Bom, eu adoro conversar. Mas isso eu sempre soube. A mais sábia das lições que eu tenho aprendido é saber ouvir. Ser bom ouvinte, não só de rádio. Eu gosto de ouvir as histórias das pessoas e é interessante que quando as pessoas falam elas estão sempre te nutrindo. A situação de conversação é de grande valia para mim. Por isso o meu apego pela entrevista, tal como estamos fazendo agora. Parece paradoxal, mas para um bom radialista é bom que ele saiba ouvir, para depois poder falar. Fui marcado por um professor de rádio de voz muito exuberante que falava a aula toda. Pensei: ‘se algum dia eu for professor de rádio, eu vou falar pouco’. Escute bastante, vai valer a pena.” 

“Obrigado por tudo, sempre, mestre!”, escreve aluno em postagem no Facebook: Foto: Reprodução Facebook Leonardo Oberherr 

Por último, o que tu pretendes fazer depois desse fechamento de ciclo? 

“Escrever mais, ler mais e viajar mais. Fazer com calma o que antes eu não tinha tanto tempo.” 

Para a comunidade acadêmica, o sentimento que fica é de orgulho e gratidão por toda a diferença que Endler fez na Unisinos, tanto com seu trabalho como com a pessoa que é. Até breve, professor! 

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