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A prática da colagem: conheça esta arte por quem faz
"Do passatempo de criança até o trabalho profissional, a técnica da Colagem pode ser usada das mais diferentes maneiras para construir novas narrativas a partir do que já existe"
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Colagem: arte feita a partir do desmonte e combinação dos mais diversos materiais, que podem variar em texturas, para a criação de uma nova imagem. Uma técnica antiga, mas popularizada pelo movimento cubista ao ser utilizada por Picasso e Braque na composição de seus quadros, a colagem, por muito tempo, foi considerada uma atividade direcionada para crianças, porém, sua caracterização criativa e capaz de estimular a interpretação fez com que ela chamasse a atenção dos mais diferentes públicos.

Hoje, existem muitos jeitos de fazer colagem. Não é algo que só aconteça a partir de uma formatação “x” ou apenas em um determinado espaço. Na literatura, publicidade, ou em exposições, a prática pode servir como hobby ou profissão. No Mescla, por exemplo, ela tem sido cada vez mais usada nas capas que dão cara aos textos, a série sobre a Semana de Arte Moderna sendo o exemplo mais recente da presença desse tipo de ilustração na plataforma, que mostra, também, que a colagem está sendo incorporada pelo jornalismo.

Para entender melhor este mundo, o Portal Mescla conversou com quem trabalha com esta arte, como Tatiana Cruz e Marcela De Bettio


Colagem “Beleza Tropical” para a marca ‘Sta Cena’
(Arte: Marcela de Bettio)
Colagem “Bollo mata desejo”
(Arte: Tatiana Cruz)

A primeira é jornalista, poeta e criadora do Fabulário Collage, perfil no instagram para compartilhar colagem. Para ela, esta arte é uma forma de expressão do inconsciente. Tatiana entrou em contato com a prática da colagem para ilustrar seus poemas, “Mas, aí, me dei conta que eu também poderia criar algumas coisas, então a colagem nasceu na minha vida como uma forma de fazer poesia visual”, explica. A colagista participou da 67ª Feira do Livro de Porto Alegre autografando seu livro de poesia Na Minha Casa Há um Leão, ilustrado com colagens feitas por ela.



Colagem “Desjejum”, do livro
‘Na Minha Casa Há um Leão’
(Arte: Tatiana Cruz)
Colagem “Bollo Relâmpago”, do livro ‘Na Minha Casa Há um Leão’ (Arte: Tatiana Cruz)

No caso de Marcela, artista-designer responsável por produzir as capas para o Especial sobre a Semana da Arte de 22, a conversa da colagem com o seu trabalho está, justamente, na capacidade de misturar os meios que a produzem. “Além de eu gostar muito de fotografia, consigo unir à ilustração, arte e ao design. Por isso me considero artista-designer, porque é uma característica do meu trabalho unir  não só as técnicas, mas, também, áreas diferentes com a minha percepção artística”, esclarece.


Projeto pessoal “Origens: Pai”
(Arte: Marcela de Bettio)
Projeto pessoal “Origens: Mãe”
(Arte: Marcela de Bettio)

Como usar esta técnica


A colagem parte da criação de uma nova imagem a partir de elementos pré-existentes, de forma manual ou digital. “Ela é muito democrática, não se precisa estudar arte para fazer colagem, qualquer pessoa pode fazer. Claro que, depois de pegar o gosto, tu estuda e junta referências, mas ela é acessível para quem tem tesoura, revista, cola e criatividade”, fundamenta Tatiana. A colagista começou a experienciar a prática através do material que encontrava em livros antigos de anatomia, trabalhando o corpo humano em suas obras, sem curso ou técnica, apenas movida pela vontade de materializar seus pensamentos.



Aos poucos, novos elementos começaram a ser incorporados em sua arte. Desde partituras de música até a experimentação com esmalte e linha, embalagens de roupas e guardanapos de papel, tudo/ressignificado em algo único. “Eu me acalmo. Sou capaz de ficar horas recortando coisas e separando em caixinhas, mas tu vira um acumulador (risos). Eu tenho tudo recortado e quando vou fazer uma colagem tenho que mexer em tudo!”

Colagem “Take 12 slices of heart and roll them flat”
(Arte: Tatiana Cruz)
Colagem “A Noiva”, capa da
54ª edição da revista R.Nott
(Arte: Tatiana Cruz)





Com a necessidade de trabalhar com as mãos, Tatiana usa para a construção de suas obras estilete de alta precisão e tábua de corte, para conseguir os efeitos que gosta, e indica essas como boas ferramentas a serem investidas para quem quiser iniciar com a colagem. Entretanto, essa expressão artística não é exclusiva da prática manual. Usar outras plataformas para influenciar a obra também é livre. Tati Cruz, em seu perfil do instagram, posta quadros onde é possível enxergar o movimento dos elementos, por exemplo.

No caso das artes de capa produzidas para o Mescla, o trabalho de Marcela De Bettio foi inteiramente digital, através do Photoshop, mas isso não significa que foi uma montagem menos trabalhosa. “A Paola [repórter e irmã] mandou várias imagens que ela achou que representasse o Especial. Eu fiz uma seleção pensando no que visualmente fosse mais interessante e busquei elas em alta qualidade. Além dessas imagens, procurei por texturas e outros elementos para compor a imagem”, explica. 

Ainda que nem sempre seguindo as mesmas etapas, ela reitera que seu processo se resume em pesquisa sobre o conteúdo, busca por referências e seleção de imagens, para, então, começar a dar cara à colagem. Quanto à pesquisa por materiais para a composição das imagens, a artista usa de diversas fontes, desde bancos de imagem até fotografias originais. “É por isso que gosto de colagem. Identifico meu estilo artístico pela mistura de técnicas e materiais, então gosto muito de mesclar manual e digital. Gosto de ilustrar e escrever com meu traço junto das colagens”, complementa Marcela.


Colagem “Roupa Viva” para
o ‘Fashion Revolution’
(Arte: Marcela de Bettio)
Colagem “Fusão”, para o para
o projeto ‘Planner Estelar’
(Arte: Marcela de Bettio)

Minha experiência com colagem


A repórter que vos escreve também gosta de tentar a mão na colagem, inclusive produzindo algumas capas mais simples para as minhas matérias no Portal. A primeira manifestação dessa forma de arte que me recordo de ter feito foi quando tinha uns oito ou nove anos. Lembro de estar olhando revistas, quando, do nada, fiquei com vontade de fazer alguma coisa com as fotografias que estava vendo. Assim, construí meu primeiro “corpo”, feito de diferentes partes das modelos que via. Um tronco e cabeça pequenos quando comparados ao olho direito gigante e com pétalas de rosa, que tirei do jardim da minha avó, usadas como um tutu de bailarina.
 

Pouco tempo depois joguei o trabalho fora por considerar que não tivesse construído algo visualmente bonito e, por um longo período, não mexi mais com colagem. Gostaria de ter algum registro daquele trabalho, porque, agora, sei que a colagem não se trata do que é aceito como padrão, mas sim (como a própria essência da arte), de expressar e desconstruir – no caso da colagem, literalmente. 


Colagem “Suas linhas”
(Arte: Karolina Kraemer)

Quando fui para o ensino médio, mais “esclarecida”, descobri que essa era uma ótima prática para ilustrar um trabalho, principalmente em música e teatro, já que pode passar uma ideia geral do cenário que você quer construir e os sentimentos que deseja exprimir. Porém, para mim, que nunca tive muitas habilidades com artes manuais, minha alternativa era o digital e, considerando que não sabia mexer em plataformas mais elaboradas, comecei a produzir no PowerPoint por conta do fácil manuseio das ferramentas disponíveis.

Pessoalmente falando, enxergo esse como um ótimo meio para quem deseja experimentar colagens digitais. Além de possuir recursos básicos, como retirar o fundo, duplicar a imagem, mudar a cor, sobrepor os elementos um nos outros, entre outras possibilidades, ele pode ser complementado por outros aplicativos para coisas mais específicas. Utilizo o Canva, por exemplo, quando quero escrever nas artes com alguma fonte diferente.

Como começar com colagem?


A melhor forma de iniciar com a prática da colagem é buscando inspirações. Podem ser inspirações de colagens já existentes ou de imagens que, para você, poderiam formar uma estética interessante para uma arte. Muitos já conhecem o Pinterest, uma plataforma para compartilhamento de imagens, que possui milhões de imagens dos mais variados nichos, mas, para aumentar o seu repertório, fizemos um compilado, integrando indicações das entrevistadas, de perfis de artistas e bancos de imagem que podem te dar uma luz para começar a fazer arte. Confira: 


Alguns perfis para acumular referências: @tatianabcruz_; @marceladebettio; @fabulario.collage; @sociedadebrasileiradecolagem; @rochelezandavalli; @thecollageclub; @colla.art; @nicollagem; @pilarrius; @metacolage


Alguns bancos de imagem para procurar material: Pixabay; Adobe Stock; Unsplash; Freepik; Pngimg; Flickr Commons

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