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Especial Rosental: a criação do Knight Center e o Jornalismo Investigativo
"Dos Estados Unidos, professor Rosental trabalha para o jornalismo nas Américas, da capacitação profissional ao fomento de novos modelos de negócio "
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Rosental Calmon Alvez certa vez citou a filantropia como “uma das coisas mais maravilhosas que há nos Estados Unidos”. No campo menos abstrato, essa palavra representa entidades privadas ou fundações sem fins lucrativos que fazem doações para causas diversas, entre elas as humanitárias. Foi numa dessas doações, de dois milhões de dólares, que Rosental teve recursos para criar um dos principais órgãos de fomento ao jornalismo no ocidente: o Knight Center. 


Em português, chamado de “Centro Knight para Jornalismo nas Américas”, o Knight Center foi um dos projetos de Rosental durante sua primeira década (de 1995 a 2005) atuando na Universidade do Texas, em Austin, na posição de Knight Chair in Journalism. A fundação filantrópica John S. e James Knight teve a ideia para o Centro e escolheu o professor para ser o líder do projeto. Com o auxílio financeiro da Fundação e a gestão de Rosental, foi desenvolvido um espaço para jornalistas “terem uma melhor formação e poderem contribuir para um jornalismo melhor em seus países”, nas palavras do professor.


Uma das atividades mais conhecidas do Centro são os cursos de treinamento online, chamados Massive Open Online Courses  (MOOCs) ou Cursos Online Abertos e Massivos (livre tradução). De 2012 a 2017, foram mais de 125 mil pessoas alcançadas, de 171 países. Esses cursos são gratuitos, a única obrigação é ter um cadastro no site do Knight Center. Qualquer jornalista de qualquer local do mundo pode aprender a utilizar um software, a programar, empreender no jornalismo e até treinar o uso de banco de dados em reportagens investigativas. O grande foco dos cursos está na tecnologia e nas inovações que elas trazem ao fazer jornalístico.


“A magia dos MOOCs é permitir que qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo, em uma vila em África ou em uma redação em Nova York, faça o mesmo curso com habilidades ensinadas por seus pares, colegas, jornalistas ou educadores, que são os melhores especialistas nestes temas”, conta Rosental em relato publicado no site do Centro em 2016. 


Mais da história


A carreira de Rosental como correspondente internacional e seu vasto conhecimento sobre América Latina lhe renderam a indicação de encarregado a coordenar o Knight Center. Em 2002, junto à criação, Rosental também assumia a posição de diretor do Centro. Hoje, o Knight Center é um site trilíngue (inglês, português e espanhol) que se define como “um programa de extensão e capacitação profissional”, segundo o próprio site. Além disso, ele atua para ajudar a “criar uma nova geração de organizações jornalísticas independentes”.


A equipe coordenada por Rosental é formada por estudantes da Universidade do Texas, responsáveis por atualizar o site com as principais notícias sobre jornalismo nas Américas e Caribe. Em 2007, a Fundação Knight doou um adicional de um milhão e 600 mil dólares para que o Centro expandisse seu alcance e direcionasse mais atenção ao trabalho digital.


O Knight Center também atua de modo parecido ao Tecnosinos, polo tecnológico da Unisinos. O Centro recebe projetos independentes de cunho jornalístico, como a criação de organizações de mídia, que lá podem ser incubados para, no futuro, encararem o mercado financeiro tendo mais estrutura e capacidade. 


O Knight também tem papel importante no apoio e criação de organizações que trabalham para qualificar o jornalismo na América Latina, como a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), o Fórum de Periodismo Argentino (FOPEA), o Fórum de Jornalistas Paraguaios (FOPEP) e o Conselho de Redação (CdR) da Colômbia.


O apoio do Knight Center na criação da Abraji


Na história do Knight Center, ainda em 2002, o primeiro projeto apoiado pelo Centro veio de um grupo de jornalistas brasileiros. Foi nessa mesma época que um amigo de Rosental, o jornalista Tim Lopes, foi assassinado no Rio de Janeiro. 


“O Brasil estava em choque. Eu fui para lá, fui para o funeral, e percebi uma grande comoção, mas ao mesmo tempo, uma grande necessidade de treinamento em Jornalismo Investigativo. Daí, apoiando esse grupo de jornalistas, eles criaram a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)”, conta Rosental.


Segundo o professor, não se trata de um sindicato nem de uma organização empresarial. A Abraji representa uma “sociedade de jornalistas interessados em melhorar o jornalismo”.  


Durante os anos na posição de diretor do Knight Center, Rosental diz ter percebido uma procura grande pelo Jornalismo Investigativo. O professor também observou que essa forma de investigação, ao longo dos anos, tem sido negligenciada, tanto nas universidades quanto na indústria, pelo alto custo financeiro e a demasiada demora quando comparados às outras formas de jornalismo, como o hardnews. “O jornalismo Investigativo é sempre a primeira vítima”.


Ainda no período de criação da Abraji, Rosental percebia o interesse de jornalistas brasileiros pela organização de Jornalismo Investigativo dos Estados Unidos, a Investigative Reporters and Editors (IRE). O dinheiro oferecido pela Fundação Knight somado a esse interesse pela IRE formaram as bases da Abraji. “Ela é, eu diria, a organização de jornalismo investigativo mais importante do mundo, ou maior do mundo, depois da IRE”.


No Brasil, em 2019, Rosental observa alguns modelos de negócio interessantes surgindo e que sustentam o jornalismo investigativo:


Novos modelos de negócio


“A indústria de jornais sabia que, algum dia, viria um desenvolvimento tecnológico que iria afetar o modelo tradicional”, relata Rosental. 


A crise financeira na manutenção de modelos tradicionais do jornalismo é uma das grandes pautas abordadas pelo professor, e isso, segundo ele, vem da necessidade de o jornalismo pensar em novas formas de se sustentar financeiramente. Para ele, “primeiro a gente tem que entender qual é a crise”. Rosental pontua que trata-se de mudanças de hábito do consumidor – que está deixando de ler jornal impresso e focando em informação virtual.


Essa mudança de comportamento gerou um problema entre o jornalismo e a publicidade. Rosental afirma que na década de 90, pensava-se “ingenuamente” que os espaços publicitários vendidos em jornais impressos seriam apenas transferidos para o online. 


Essa ingenuidade, segundo o professor, ocorreu pela não antecipação dos jornais em perceber as estratégias de empresas como Google e Facebook. Rosental ressalta que essas duas empresas, sozinhas, abocanham 85% da publicidade digital. “Isso foi devastador porque não é só uma questão de que eles foram mais espertos, é que eles destruíram o valor da publicidade, e a tecnologia tornou a publicidade mais eficiente em outras plataformas e outras maneiras de se chegar ao consumidor”.


“Nós não temos que salvar o jornal ou o rádio, a gente tem que salvar o jornalismo”, explica Rosental. Para o professor, é nessa lógica que se insere o empreendedorismo, pois a profissão vai depender de novos modelos. “Por isso que o empreendedorismo, a inovação, as iniciativas de busca de linguagens novas, de fontes de receita novas para financiar o jornalismo se tornaram fundamentais hoje e eram totalmente ausentes antes”.


Corroborando com as ideias de Rosental, no início de junho, o jornal norte-americano The Boston Globo tornou-se o 1º veículo de comunicação local com origem no impresso a ter mais assinantes digitais. Nesta matéria do laboratório Nieman, aquele da bolsa de estudos em Harvard mencionada na primeira reportagem desse especial, você pode ler mais sobre o processo. A matéria também está disponível no site Poder 360.


Continuem acompanhando a uma série de reportagens sobre Rosental Calmon Alves. A primeira está disponível aqui , e a terceira e última estará no Portal Mescla na quinta-feira, dia 4 de julho.


Guilherme (bot Rui Barbot) já ministrou um curso no Knight Center. Olha aí: https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-20258-como-cobrir-inteligencia-artificial-e-entender-seu-impacto-no-jornalismo-mooc-em-portu 

Pedro (bot Fátimabot) já ministrou um curso no Knight Center. Olha aí: https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-18934-com-apoio-do-google-news-lab-centro-knight-oferece-curso-online-de-programacao-em-pyth

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