Anos atrás, comprar roupas e acessórios em brechós era uma atividade para nossas tias e avós. Antes visto como um sinônimo de mofo, traças e naftalina, os brechós hoje tornaram-se uma opção de compras para jovens consumidoras, principalmente por meio das redes sociais. Os pontos de venda comercializam roupas de boa qualidade, limpas, com preços acessíveis – mas o preconceito em cima desse empreendimento se mantém.
Não é à toa que muitas consumidoras estão optando por comprar roupas usadas: a crise financeira que o país vem se recuperando ainda deixa marcas em lojas varejistas de roupas com seus preços altos. Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), é possível economizar até 80% em relação as lojas tradicionais de roupas e acessórios.
Uma influência da preferência pelos brechós é a consciência de moda sustentável que consumidoras estão optando. A representante do movimento Fashion Revolution na Capital, Cacá W. Camargo, afirma que foi somente nos últimos cinco anos que os brechós se popularizaram no Brasil, alcançando status de moda consciente e de boa qualidade.
“A sociedade tem despertado para modos mais sustentáveis, não só na área da moda, como na alimentação, mobilidade urbana, arquitetura, etc. E o brechó, juntamente com o guarda-roupa compartilhado, são importantes alternativas para a moda sustentável”.
Fazer um brechó pelas redes sociais, além de alcançar um público maior (praticamente o país todo), também cria contato direto com o consumidor, e é mais rápido e prático para quem compra. Uma das redes mais procuradas para a venda de roupas usadas é o Instagram. Por meio de um compartilhamento de foto da roupa a ser vendida, a pessoa interessada apenas deixa um comentário na foto demonstrando seu interesse na peça, combina com a proprietária a forma de entrega e pronto.
Foto: Brechó Alternativo e Vintage (@brechoav)
Sobre o uso das redes sociais nas vendas de roupas e trocas de peças, Cacá vê como uma boa forma de compartilhar a moda sustentável. “Acho que o Pinterest também é uma rede social potencial para fomentar marcas, inclusive brechós e trocas. O Roupa Livre e o Enjoei também são ótimas opções. Mas realmente o Instagram é um fenômeno, ele aproxima marcas dos seus usuários e permite uma interação recorrente e transparente” afirmou a representante de Porto Alegre do Fashion Revolution.
Daniele Antunes criou uma das maiores páginas de brechó da capital e Viamão, no Instagram. Seu usuário, Brechó Alternativo e Vintage, conta com mais de 25 mil seguidores e quase mil e oitocentas publicações de roupas, acessórios e itens de decoração. Para ela, a ideia de abrir este tipo de negócio surgiu ao vender roupas suas para comprar uma câmera fotográfica: “Eu comecei a vender o que não usava para comprar uma câmera, consegui e continuei fazendo isso. Criei uma página, um Instagram, minha irmã vestia as roupas e eu fotografava”, relembra Daniele de quando começou a vender suas roupas.
“Fiz porque achei divertido todo esse processo e para tirar uma grana extra, mas não me planejei ou investi. Foi muito espontâneo”, afirma a proprietária de uma das maiores páginas de brechó da capital, Daniele Antunes.
Foto: Daniele Antunes (@brechoav)
Uma de suas peças mais procuradas é o estilo de calça jeans chamada Mom Jeans (“Calça de Mãe”), roupa característica dos anos 80 e 90, de cintura alta e modelagem reta, muito usada em produções casuais. Segundo Daniele, a calça é um exemplo do porquê os brechós ainda é um negócio em expansão: “Eu acredito que o que leva as pessoas a comprarem em brechós do Instagram são os valores mais baixos que na loja e também o fato de ter coisas que não são tão fáceis de achar. Um exemplo é uma Mom Jeans bem vintage, não se acha uma calça que tem 20 anos na loja, só em brechó. Por isso acredito que cada vez mais cresça esse tipo de negócio”.
Na visão de consumidora, Carol Steques, 19 anos, os brechós nas redes sociais são uma maneira de visar a moda sustentável: “As pessoas acabam usando poucas vezes a mesma peça e descartam logo em seguida. Hoje em dia, com a internet, há vários brechós online que permitem a troca e venda de roupas já usadas, visando a sustentabilidade”, afirmou a jovem.
Para a nova consumidora de brechós de Instagram, esse mercado tende ainda a crescer cada vez mais. Segundo Carol, “quando utilizamos a palavra “brechó”, muitas pessoas ainda têm o preconceito. Porém, devemos incentivar a todos a cada vez mais a essa troca de peças, pensando sempre no meio ambiente e nas roupas que são diariamente descartadas nos lixões (além de que, as roupas sempre veem bem cheirosas e conservadas)”.
Outra grande página do Sul do país é o Instagram do Velharia Brechó, de Florianópolis, mas que tem consumidores de todo o país. A ideia de criar um brechó online surgiu na necessidade de uma renda extra para a proprietária, Vitória Mota: “Também precisava que os horários fossem felxíveis por conta da faculdade, resolvi abrir o Velharia pois já curtia muito comprar roupa de brechó, então uni o útil ao agradável”, afirmou.
Foto: Vitória Mota (@velharia_brecho)
“E pra que comprar roupas de menor qualidade quando há brechós vendendo por um preço bem menor peças de maior qualidade? É uma maneira inteligente e sustentável de se consumir moda”, afirma Vitória Mota, empresária do Velharia Brechó.
Para ela, os brechós também desempenham um papel importante para a moda sustentável e como o fast fashion diminui a qualidade das roupas. “Acredito que faz um tempo que essa visão que as roupas (de brechó) são de pouca qualidade não existe mais. As qualidades das roupas de hoje, do mercado fast fashion são bem inferiores. O fast fashion abaixa a qualidade do material e do custo de produção para oferecer um valor baixo e mesmo assim obter muito lucro”, ressalta Vitória.