A paixão pelo futebol levou a apresentadora do SBT Esporte Débora de Oliveira para o jornalismo. Profissão que a aproximou de jogadores, dos telespectadores e a tornou uma das primeiras mulheres a trabalhar como repórter esportiva no Rio Grande do Sul. Egressa da Unisinos e com passagem por alguns dos maiores veículos de comunicação do Estado, a jornalista teve contato com os gramados ainda muito cedo, em Novo Hamburgo, sua cidade natal.
“Sempre quis trabalhar com futebol, desde criança. Desde que me conheço por gente, eu frequento campos de futebol. Cresci neste ambiente”, lembra Débora, puxando na memória os tempos em que ia com o pai aos jogos do Esporte Clube Novo Hamburgo, ainda na divisão de acesso do Campeonato Gaúcho. Para ela, a ideia de trabalhar com jogadores, de alguma forma, foi o que a guiou no jornalismo.
O talento para comunicar o público surgiu ainda na adolescência, com uma facilidade de conversar com as pessoas e criar laços, algo que até hoje atrai bons trabalhos à Débora. “Eu era muito tagarela. Estudava numa escola de freiras em NH e uma professora resolveu usar isso a favor da escola. Então começou a me colocar como mestre de cerimônia”, explica. Ainda antes de ingressar no jornalismo, a apresentadora pensou em fazer fisioterapia para trabalhar num clube ou educação física e arriscar-se como árbitra. Porém, o caminho natural foi pela comunicação.
O começo
Aos 17 anos, a jornalista ingressava na Rádio ABC para um programa esportivo de debate entre mulheres onde não havia nenhum requisito para participar, apenas um concurso e, claro, entender sobre o esporte da região. “Eram 22 meninas participando da seleção e apenas quatro iriam para o programa e mesmo assim tinha que correr atrás quando entrei, pois tinha bem menos experiência que as outras”, conta.
Logo depois, chegou à Unisinos, onde nutriu um carinho especial pelos professores de rádio Patricia Weber e Sergio Endler. Aliás, nunca esqueceu de um momento especial com a docente na formatura. “Ela me vestiu o barrete e falou ‘isso aqui é uma mera formalidade, tu já és jornalista’, foi algo que me marcou bastante”, relembra.
A carreira começou a decolar ainda na faculdade, quando foi convidada para trabalhar também na Bandeirantes, tendo que conciliar com sua função na ABC. Lá, foi repórter e comentarista no programa Toque de Bola, atualmente chamado de Os Donos da Bola. A partir dali, passou a construir matérias e reportagens com abordagem mais humana sobre o futebol e seus personagens.
Foi com este tipo de produção que a jornalista teve o primeiro furo de reportagem. Ao notar que o lateral-esquerdo do Inter Chiquinho estava “triste” no treino, resolveu entrar em contato com o jogador que contou da história de uma lesão que não estava nem nos livros. Ninguém conhecia. “Consegui o contato do médico dele e tentei uma tarde inteira até ele atender. Depois de eu entrar no ar, a notícia pipocou em todas as capas de jornal do Estado”, explana, lembrando também que não liga muito para a competição de quem “dá” a notícia primeiro.
Porém, nem tudo foram flores em sua chegada à Capital. Apesar de não achar que as portas se fecharam para ela por ser mulher, a jornalista lembra que algumas pessoas a viam de forma diferente. “Foi aí que eu pensei ‘como assim as mulheres não vão a campo?’ Eu ia ao estádio desde muito nova. Com minhas primas, com minha mãe. Era algo normal para mim”, afirma.
A chegada à RBS
Em 2006, chegou à RBS, onde de cara teve um trabalho importante: repórter de campo da final do Mundial do Internacional, contra o Barcelona. Era a primeira transmissão de jogo ao vivo que ela participava na TV. “Minha primeira entrada foi logo no Mundial com o Galvão Bueno. A RBS é uma escola importantíssima. Os padrões que a gente aprende aperfeiçoa muito”, explica.
Na afiliada da Globo, a jornalista, além de repórter foi também apresentadora e comentarista de programas como Lance Final, RBS Esporte e Bate-Bola, sem contar as entradas ao vivo nos principais telejornais da emissora.
Entretanto, ela fala também da rotina exaustiva no jornalismo esportivo. “Quando fazia jogo, saía do estádio uma da manhã. Até chegar na emissora, baixar o material, editar e tudo, acabava saindo de lá 3 horas” lembra. “Quanto tinha jogo fora, tu saías um dia antes, perde o final de semana… muita coisa abri mão. São renúncias por uma escolha”, completa.
Uma nova casa
Há quatro anos, Débora de Oliveira mudou um pouco a rota e os objetivos. Mais experiente e com “cancha”, como os boleiros gostam de dizer, assumiu o desafio de ser apresentadora no SBT e rasga elogios aos colegas. “Aqui é uma família. Todo mundo se dá bem. Todo mundo se ajuda. Não tem a vaidade que já encontrei. Eu saio de casa e venho para casa”, avalia. Agora, trabalhando apenas de segunda a sexta, apesar de ter que acompanhar os jogos no final de semana, ela conta também que ficou mais fácil conciliar a família, amigos e trabalho.
Com o perfil de telespectador diferente dos torcedores mais fanáticos nas outras emissoras, Débora ainda busca matérias mais humanas. “Todo mundo sabe do gol que o Edilson fez ontem (contra o Fluminense), mas eles sabem o que se passa na família do jogador? O Bruno Cortez vinha sendo criticado e sem crédito depois de trabalhos ruins, porém os torcedores sabem que ele tava com um filhinho de dois meses no hospital? O menino melhorou e semana passada ele fez gol (contra o Bahia). Futebol tem disso”, explica.
Para as jovens estudantes de Jornalismo que querem buscar espaço no esporte, Débora é enfática. “Alguém vai te ouvir e te buscar. aonde quer que tu esteja. Pode ser no teu blog, na tua rádio comunitária, onde for. tenta sempre ser a melhor, que o mercado com certeza vai querer contar contigo”, acredita. Segundo a apresentadora, qualquer experiência de comunicação é válida. Assim, naturalmente muitas outras Déboras de Oliveira surgirão em reportagens na beira do gramado.