Onde o jornalismo e a literatura se encontram? Com a pergunta em foco, professores e estudantes das disciplinas de Jornalismo Literário, Projeto Experimental em Jornalismo e Teorias Contemporâneas da Comunicação se reuniram na segunda-feira (5) para receber dois jornalistas que se arriscaram a respondê-la. Lelei Teixeira e Poti Silveira Campos contaram sobre suas trajetórias e os caminhos que os levaram a passear entre as duas áreas.
Lelei, que é egressa da Unisinos, começou a carreira com um estágio no jornal Zero Hora. Uma de suas primeiras tarefas era escutar o programa A Voz do Brasil — produzido pelo Governo Federal e transmitido obrigatoriamente em todas as rádios — com o objetivo de fazer um resumo de notícias para disponibilizar à redação. Mais tarde, ela foi efetivada para trabalhar no Departamento de Pesquisa do diário. “Era o Google de hoje”, compara Lelei. Em sua carreira,a jornalista passou por diversas áreas da comunicação, como rádio, TV, impresso e assessoria, se arriscando, inclusive, a empreender na área. Hoje, Lelei realiza edição de livros e textos para a Gira Produção e Conteúdo. Além disso, lançou o livro “E fomos ser gauche na vida”, que conta experiências de vida dela e da irmã Marlene, já falecida, ambas com nanismo.
Poti entrou no jornalismo tardiamente, como ele mesmo diz. Se formou com 39 anos, mas antes de conquistar o diploma, acreditava que seria livreiro. Foi por isso, inclusive, que aprendeu a diagramar quando ainda nem pensava em se tornar jornalista. Poti, assim como Lelei, trabalhou na Zero Hora, ele como repórter de política e editor. Depois de um tempo, começou a produzir livros institucionais até que teve a oportunidade de fazer seu o próprio: “Uma outra banda oriental”. A obra relata histórias que chamaram a atenção dele durante uma viagem que fez ao Uruguai.
“A história de vida da Lelei é muito interessante, como ela conseguiu se adaptar e superar desafios para ser uma jornalista. Ela conhece, praticamente, toda a história da comunicação do Rio Grande do Sul”, comenta o aluno Henrique Tedesco, que acompanhava atentamente o bate-papo. Para o futuro jornalista, conhecer a experiência profissional de Lelei e Poti foi importante para manter os estudantes com esperança e inspirados para trabalhar na área.
Top 8
O Mescla separou os melhores momentos do evento para quem não conseguiu estar presente. Vale lembrar que o top 8 a seguir é responsabilidade dessa repórter que vos fala e, para conferir toda a conversa na íntegra, basta acessar o link.
8. Larguei
Aparentemente, Lelei nunca teve medo de ficar sem emprego. Na conversa, ela lembrou de vários momentos em que optou em largar o trabalho mesmo não tendo nenhuma perspectiva do que faria a seguir. A jornalista foi corajosa, e nunca ficou muito tempo desempregada.
7. Lelei encara o chefe
A irmã da jornalista era professora. Lelei quase seguiu os passos de Marlene antes de entrar para o jornalismo. Certo dia, na redação, o chefe de Lelei reclamava da quantidade de greves que os professores estavam fazendo. A jornalista, no dia seguinte, levou todos os contracheques da irmã para mostrar ao chefe. Talvez, assim, ele tenha entendido o motivo das paralisações.
6. Jornalismo literário e Poti
O jornalista explica que, para ele, fazer jornalismo literário é dar um enfoque maior aos aspectos humanos da história. Por isso, — aqui vai um alerta de spoiler às avessas! — um dos capítulos do livro “Uma outra banda oriental”, que focava no trajeto da viagem ao Uruguai, acabou não indo para a edição final. Dessa forma, Poti pode dedicar a obra às histórias que descobriu no país e as decisões que tomou lá.
5. Jornalismo literário e Lelei
Quando escreveu o livro “E fomos ser gauche na vida”, Lelei não se preocupou se estava fazendo jornalismo ou literatura. Ela apenas queria contar sobre as experiências que a impactaram. “Todo repórter, por mais que a matéria seja crua, vai deixar escapar a questão humana, porque a gente é humano, e vai permitir a subjetividade”, observa. Ela ainda comenta que a linha entre jornalismo e literatura pode acontecer naturalmente ou ser algo planejado.
4. A escolha dos títulos
Escolher o título de um trabalho pode ser algo difícil. Para os dois jornalistas presentes na aula, não foi diferente. Poti confessou que sua primeira opção era “Uma volta pelo Uruguai”, mas uma conversa com Flávio Ilha, da Diadorim Editora, trouxe à luz a ideia do título oficial. Já Lelei explica que o seu título vem de uma brincadeira que fazia com a irmã. Ambas repetiam essa frase quando precisavam sair juntas. “Ser gauche na vida” foi extraído do “Poema de Sete Faces”, de Carlos Drummond de Andrade.
3. Fã de Moby Dick
Poti contou para os alunos que é um grande fã do clássico da literatura “Moby Dick”, do autor estadunidense Herman Melville. Para ele, a obra é sobre viagens. O livro de Poti segue, também, na mesma linha. “Moby Dick” e “Uma outra banda oriental” falam sobre pessoas que viajam para buscar a paz interior.
2. O planejamento e a pauta
Poti confessou que não tinha pauta ou planejamento prévio para a viagem ao Uruguai. O jornalista pegou a estrada e, no caminho, tomava as decisões quando a necessidade aparecia. Isso acabou prejudicando um pouco o trabalho, fazendo com que até pensasse em desistir de produzir o livro. Para nossa sorte, não abandonou a empreitada. No total, Poti precisou de quatro anos para finalizar o projeto. Se tivesse planejado, salienta o jornalista, o tempo poderia ter sido cortado pela metade.
1. Se sentindo em casa
O ponto alto da aula foi, sem dúvida, assistir os convidados super à vontade e conversando livremente. A sensação é de que estavam todos reunidos em uma mesa de bar. Deu saudade de quando isso ainda era possível de ser feito.