A cerveja artesanal é uma febre no país. É o que aponta uma pesquisa realizada pelo Instituto da Cerveja do Brasil. Os números mostram que o mercado das grandes cervejas diminuiu nos últimos três anos, uma queda de 1,8% em 2016 em relação a 2015 e de 2% em 2015 em relação a 2014. Já o cenário das artesanais tem crescido, com um aumento em 2015 de 17% em relação a 2014.
O motivo da febre? A gourmetização e o interesse por produtos que vão além do básico é a avaliação de Thiago Zanoni Cardoso, estudante do curso de Gastronomia e cervejeiro. “Quando o consumidor experimenta um produto que chama a atenção, acaba buscando aprender mais sobre ele e procura novas experiências e, em algumas vezes, passa a produzir e atingir novos consumidores curiosos”, afirma.
O professor e gastrônomo Alexandre Baggio de Freitas explica que pela lei da pureza a cerveja precisa de água, malte, lúpulo e fermento. Na produção de cervejas artesanais, o professor vê a escala de produção e equipamentos como principal diferença. “Vejo mais liberdade, não só de estilos mas de experimentações nas artesanais”, afirma. De acordo com Baggio ele percebe mais paixão e um estilo de vida no consumo artesanal, que agrega amigos, a degustação e celebração envolvendo a bebida.
A produção de cervejas artesanais é cara, o custo dos equipamentos não é baixo. De acordo com Cardoso, há o risco de errar a receita ou por descuido contaminar o lote todo, abrindo brecha para a perda de tempo e dinheiro. O mesmo não ocorre com as cervejas comerciais, já que além de mecanizar grande parte da produção, eles substituem insumos. “O uso de milho, arroz, carboidratos ou cereais não maltados são algumas das substituições”, cita o cervejeiro.
Como aprender a produzir cerveja artesanal
Existem diversos cursos que ensinam a produção artesanal de cerveja, alguns com duração de um dia. “Nestes cursos introduz-se a cultura cervejeira. Acompanha-se o processo de produção da bebida, degustam-se cervejas e trocam-se experiências”, conta Baggio.
O professor ainda aconselha aos interessados que façam pesquisas sobre o assunto. “Pesquisem na internet, leiam, acompanhem produções de amigos, enfim, o mercado está aquecido, então que se produza e se degustem mais e melhores cervejas”, completa. Existem também diversos vídeos no youtube que ensinam técnicas de produção.
Cases
A Aragana é a marca do publicitário e cervejeiro Robert Thieme, há quatro anos ele e um amigo produzem cervejas para consumo próprio. “Já consumíamos este estilo de bebida, fizemos um curso e queríamos uma cerveja de melhor qualidade”, conta Thieme. Na primeira vez que produziram, o cervejeiro afirma ter sido um momento de medo, já que muitas pessoas desistem por não acertarem no primeiro ou segundo processo.
O empreendedor conta que a troca de informações entre os cervejeiros é uma ótima maneira de entender as técnicas e as particularidades por trás da produção. “Isto os vídeos no youtube não ensinam, apenas cursos especializados e conversas dão os detalhes. Por exemplo, só se sabe em curso que o processo não pode ter espuma em momento algum”, relata.
Já a Quetal Cerveja Artesanal nasceu entre três amigos, em 2014, de um interesse dos jovens em ter a própria bebida. “Nós queríamos fomentar a cultura artesanal na região, trazendo qualidade com um valor acessível”, conta Vinicius Auler, um dos cervejeiros. O principal foco da marca é em eventos, onde eles abrem aos amigos que tem algum empreendimento próprio a oportunidade de expor e vender seus produto durante os encontros.
O principal desafio que os empreendedores observam desde o começo é na expansão do negócio. Para eles, o desejo é atingir um patamar maior no mercado mas buscam sempre seguir a essência de ser um produto artesanal. De acordo com Auler, muitas empresas fecham pela falta de planejamento e pressa de retorno financeiro.
“Estamos indo por um outro caminho, a ideia é criar uma marca que converse com o público, que já tenha um histórico de qualidade para daí sim realizar a expansão que projetamos”, afirma.