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Enfoque apresenta duas edições no primeiro semestre de 2023 
"A primeira edição teve como pano de fundo a Ocupação Mauá, de São Leopoldo, e a segunda é um especial sobre economia solidária, que contou com entrevistas de líderes de diversas ocupações "
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Com mentoria da professora Sabrina Franzoni, os alunos do curso de Jornalismo realizaram o jornal Enfoque, produção tradicional na história da Unisinos, que é uma parceria entre Universidade e comunidades espalhadas pela região metropolitana de Porto Alegre. Os exemplares físicos são distribuídos majoritariamente sempre na própria comunidade que é foco da edição, para a população de moradores presentes ali. Foram envolvidos na construção alunos da disciplina de Jornalismo comunitário e cidadão e também, de forma inédita, da disciplina introdutória, do primeiro semestre, chamada Profissão Jornalista (antigamente chamada de Introdução ao Jornalismo). 


Repórteres e orientadora prof. Sabrina reunidos na ocupação, ou comunidade, como a população costuma chamar (Foto: acervo pessoal) 



A primeira edição 

“Cada edição do jornal Enfoque busca apurar as principais histórias de moradores de uma comunidade. No Enfoque, as pessoas têm nome e trajetórias que serão contadas e partilhadas com outros moradores. (…) Na visita à Ocupação Mauá, a força que mobiliza seus moradores se tornou pano de fundo das reportagens: a união, a solidariedade e a luta pela moradia. Aspectos que fazem com que mães, lideranças, imigrantes e tantos outros personagens, deem vida à Mauá”, informa o editorial da primeira edição.  

Sabrina Franzoni conversou com o Mescla e contou um pouco sobre o jornal e como é a experiência de gerenciar uma equipe de alunos nesta produção. “Para os alunos, é um grande aprendizado, porque é uma realidade diferente da que eles estão comumente cobrindo. Eles vão produzir a pauta a partir de uma conversa com a comunidade”. Ela cita a fala de uma das coordenadoras da Rede Solidária São Léo, que faz parte do programa de Extensão da Unisinos, Isamara Allegretti: “Nós não estamos fazendo turismo social. Estamos produzindo algo, a gente dá um retorno para a comunidade”.  

A segunda edição 

Ainda sobre a segunda edição, a professora afirma que é uma publicação especial, sobre economia solidária, que reuniu oito comunidades diferentes. “Esse material vai ser utilizado por eles para negociações e intervenções junto ao poder público”.  

Conforme o editorial, “os alunos da disciplina de Jornalismo Comunitário e Cidadão da Unisinos entrevistaram as lideranças de várias ocupações que têm projetos ou estão desenvolvendo programas de economia solidária, pois além da luta pela moradia, buscam gerar trabalho e renda para os moradores. A visita foi na comunidade Steigleder onde estava ocorrendo uma reunião da Rede Solidária e do Movimento Nacional de Luta Pela Moradia (MNLM). Neste encontro, além de tratarem da distribuição de dezenas de cestas básicas, foi organizada a Jornada Nacional de Luta por Moradia Digna e Contra o Despejo. Os jornalistas em formação realizaram a cobertura dos dois eventos. (…) É importante salientar o trabalho desempenhado pelos alunos da disciplina Profissão Jornalista neste Enfoque. Convidados a participar da saída de campo, acompanharam a cobertura das pautas estabelecidas, dialogaram com os moradores presentes e, posteriormente, cobriram in loco o ato do MNLM realizado na capital”.

 

Dessa maneira, segundo a professora Sabrina, “a comunidade se vê de uma forma diferente. Ela não é só a pauta policial, a pauta da marginalidade. Ela se vê sendo fonte das matérias em um jornal colorido, um jornal que tem assuntos que interessam à comunidade. A Unisinos visa capacitar seus alunos a estarem aptos a fazer um jornalismo comprometido com a democracia, com o social, com a verdade dos fatos. Não é um trabalho fácil, exige muito esforço, horas de trabalho e comprometimento de ambas as partes (professor e alunos). Que futuros jornalistas serão esses que vão produzir matérias? Nós vamos manter o apagamento e a invisibilidade dessas comunidades? Queremos que se abra o olhar, que as fontes não sejam só os oficiais, de cargos públicos, empresariais, mas também as lideranças comunitárias, os representantes das ONGs. Que essas pessoas também tenham a sua versão publicada no jornal”.  

A visão de quem produz 

Além da professora, o Mescla entrevistou dois repórteres. Karolina Bley, do oitavo semestre, compartilhou um pouco da experiência de fazer parte da realização do jornal. Ela foi responsável pela matéria “Projeto garante comida no prato de moradores”, sobre a cozinha comunitária na Ocupação Mauá. “O Enfoque possibilita que nós, alunos, conheçamos uma realidade diferente e que muitas vezes é esquecida pela grande mídia. Permite que a gente se sensibilize e traga histórias de pessoas comuns, mas com grande valor-notícia. As irmãs líderes da Ocupação Mauá, Vanusa e Shauane, são duas mulheres extremamente fortes e batalhadoras. Além disso, elas foram muito carinhosas e nos receberam muito bem, nos acolheram e transformaram esse Enfoque em um trabalho muito especial. Eu e meus colegas aprendemos muito com elas, pois as duas são um exemplo de resiliência e de solidariedade”. 


Reportagem por Karolina Bley (Foto: reprodução Jornal Enfoque)




Quando perguntada sobre os desafios e “vantagens” na produção, ela diz que “a melhor parte de produzir o Enfoque com certeza é essa imersão na realidade das fontes. Nós vamos presencialmente ver de perto como eles vivem, o que dá muito mais conteúdo para a reportagem do que uma conversa por mensagens. Conhecer pessoas novas e histórias novas é sempre muito bom pra um jornalista. O desafio está sempre na escolha da pauta e em como não tornar o assunto mais do mesmo e sempre respeitando as nossas fontes, que já vivem em situação de vulnerabilidade, então nosso papel é entender eles e não julgar ou descrevê-los de maneira incorreta e pejorativa”. 

O aluno Arthur Schneider, que está no seu último semestre, também foi um dos componentes do jornal neste semestre. Para ele, essa é uma oportunidade de aprender a escrever um novo formato de texto. “Estamos acostumados a produzir muitos textos informativos, principalmente nos estágios. Nessa cadeira, a escrita se parece mais com um conto, tu tem que detalhar o que tu está vendo… Já para a comunidade, é uma possibilidade para eles contarem os desafios que enfrentam, as histórias das pessoas que estão ali”.  

Ele realizou a matéria sobre um venezuelano chamado Jesus, que sonha em trazer a mãe para o Brasil. “Tu fica chocado com como essas pessoas são esforçadas, elas batalharam muito para estar ali onde estão hoje. Na profissão, não é sempre que tu vai ter contato com essas questões, e poder mostrar a realidade dessas pessoas, para mim, foi bem legal. Eu me senti bem. Dar visibilidade, detalhar, conseguir pegar o máximo de informação para fazer uma boa matéria”.  


Reportagem por Arthur Schneider (Foto: reprodução Jornal Enfoque)




O jornalismo comunitário e cidadão além da Universidade

 

Professora Sabrina ainda dá um parâmetro geral sobre a área do jornalismo que é tão importante, mas que muitas vezes não tem espaço nos veículos de comunicação tradicionais. “Eu acho que não é algo que não tenha continuação. Eu vejo que temos, sim, um jornalismo comunitário e cidadão forte. Hoje, temos cada vez mais organizações não-governamentais que têm centrado grande parte das suas narrativas com a capacitação de jornalistas, profissionais de relações públicas, profissionais que vão ajudar a construir essas narrativas de todo o movimento ambiental, de associação de moradores etc., para que eles possam se posicionar tanto através de veículos tradicionais, quanto através das redes sociais. Esse último é um espaço que eu vejo crescendo amplamente. A gente tem visto todo um movimento ciberativista. Por exemplo, todas essas manifestações contra o marco temporal estão se dando na disputa de narrativa através das redes sociais. E não dá para dizer que isso não é um jornalismo comunitário e cidadão”.  

Confira a primeira e a segunda edições completas agora mesmo! 

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