A disciplina de Jornalismo Investigativo iniciou, no início deste ano, uma colaboração com o Extra Classe, jornal do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do RS (Sinpro/RS). A iniciativa partiu da editora-chefe do jornal, Valéria Ochôa, que por anos participou de comissões julgadoras de premiações universitárias e percebia a relevância dos trabalhos realizados, que muitas vezes permeava assuntos pouco discutidos na mídia tradicional.
Luciana Kraemer, ministrante da atividade acadêmica, recebeu o convite com entusiasmo. “Ficamos super lisonjeados. Para nós, é realmente muito importante que uma publicação profissional possa dar esse respaldo”, avalia a professora, que é também editora do Mescla.
Todas as matérias produzidas em Jornalismo Investigativo são publicadas na Beta Redação, site jornalístico produzido por alunos do laboratório experimental do curso, em uma aba específica para este objetivo. Neste primeiro momento, a dupla-publicação já contempla quatro textos – dois do último semestre de 2021 e outros dois do primeiro semestre de 2022.
“As reportagens tratam de assuntos pertinentes, de interesse social. Elas são bem apuradas, têm consistência. Eu mesma aprendi muito”, revela Valéria. A jornalista afirma que a ideia surgiu a partir de uma conversa com Douglas Glier Schütz, que é aluno da Unisinos e estagiário do Extra Classe.
“Em abril deste ano, tivemos a primeira publicação, que foi justamente um trabalho que fiz com mais três colegas”, lembra Douglas. O grupo de estudantes desenvolveu a reportagem “O apagão de dados das pessoas trans no ensino superior”, publicada na Beta no fim do ano passado.
Outra novidade é que, por meio de uma parceria entre Jornalismo Investigativo e Projeto Experimental, também firmada neste semestre, ensaios fotográficos desenvolvidos pelos alunos da segunda disciplina são reproduzidos integralmente pelo Extra Classe, ilustrando reportagens.
Douglas foi aluno de ambas as disciplinas, em semestres consecutivos – viu seu texto e suas fotos publicadas em sequência. E acompanhou a experiência também pelo lado do jornal do Sinpro/RS. “É muito interessante ter a perspectiva do veículo na hora da edição. Fico feliz de ter participado desse processo e também de ver a qualidade das reportagens que produzimos. Todos os textos são muito elogiados na redação do Extra Classe”, destaca o futuro jornalista.
Prestígio às produções
Luciana reforça que, além do material servir como um portfólio qualificado, funciona como uma vitrine, frente aos milhares de leitores do Extra Classe espalhados pelo Estado. Além disso, abre-se uma janela para questionamentos, nas palavras dela, visibilizando questões delicadas e até polêmicas.
“Acho que diz muito sobre o curso e sobre a importância da formação para o trabalho do jornalista. Sabemos que hoje não há mais a obrigatoriedade do diploma universitário para se exercer a profissão”, pondera a professora.
Entre as matérias mais recentes, figura “Casais de mulheres entram na justiça pelo direito ao registro dos filhos”, sobre o drama enfrentado por casais homoafetivos para registrar um bebê com dupla-maternidade. A aluna Milena Silocchi foi uma das responsáveis pela realização da reportagem e não esconde a satisfação de ver o resultado positivo, em especial sobre questões tão sensíveis.
“O próprio assunto é complexo, por ser algo novo. Ainda não temos uma legislação que dê conta e estamos falando de pessoas que geralmente já são atacadas por serem quem são”, argumenta a estudante. “Por isso, a matéria ganha um apreço maior. Ela está apontando para uma série de problemas, tanto nos sistemas políticos e de saúde como também no âmbito social”, elucida Milena.
“Digo, em nome do grupo, que foi uma sensação de reconhecimento pelo nosso trabalho e de valorização do tema. A própria Unisinos já dispõe de um espaço de publicação, mas, vendo que outros jornais se interessam pelas pautas e se preocupam com elas, a sensação é de que estamos contribuindo positivamente na vida dessas pessoas e de alguma forma fazendo a diferença”, vibra.
Boas expectativas
Valéria conta que acompanha as produções e esboça o interesse de estender o convênio a outras disciplinas no futuro. Ela explica que, dessa forma, as reportagens “saem de dentro dos limites da universidade, envolvem mais profissionais e chegam a um público leitor maior”. “Esse exercício é ótimo, provocativo”, salienta a editora do Extra Classe.
Luciana lembra ainda que a Beta Cultura, editoria cultural da Beta Redação, possui parceria com outra organização jornalística, o Nonada Jornalismo. “São publicações que merecem a nossa leitura, e o fato de nós estarmos participando delas ajuda também na formação de novos leitores, que são os nossos alunos”, reflete a professora.
“Estamos falando de direitos de várias ordens, da defesa de princípios, de relações humanas mais justas, tanto no âmbito de gênero como no âmbito de trabalho, como no âmbito político… É uma parceria de mão dupla. Espero que ela se mantenha, com mais possibilidades de interação e contribuição de parte a parte”, torce.