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Primeira Impressão de volta às ruas
"A 56ª edição da revista PI contou com a retorno dos repórteres a campo com o desafio de falarem sobre lugares e suas histórias"
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Depois de três produções realizadas remotamente, os estudantes das disciplinas de Jornalismo Literário e Projeto Experimental em Jornalismo, continuando a parceria que iniciou com a 55ª edição da PI, tiveram a oportunidade de retornar ao trabalho de campo para a execução da Revista. 

Para esta 56ª edição da Revista Primeira Impressão, a turma de Jornalismo Literário escolheu falar sobre Lugares que Contam Histórias. “No início, a proposta mais específica eram ‘lugares desconhecidos e incríveis’, mas conforme as pautas foram se solidificando, vimos que não precisava desse título, e que todos os lugares tinham histórias interessantes para contar”, conta o professor da cadeira Felipe Boff.

De acordo com o estudante da disciplina, Leonardo Oberherr, que propôs a temática para o semestre, essa ideia veio da vontade de chamar a atenção para as narrativas que podem ser encontradas perto de nós. “A nossa região é rica em história, e nada melhor do que mostrar estes outros lados, recontando histórias incríveis que nem sempre são celebradas”, relata.  

Enquanto os alunos de Jornalismo Literário foram os responsáveis pela realização das 11 reportagens que integram a PI, a disciplina de Projeto Experimental em Jornalismo criou uma série de novos conteúdos jornalísticos com a intenção de ampliar as produções feitas para o impresso. “Nós trabalhamos com a ideia de desenvolver produtos alusivos ao que a revista estava fazendo sem, necessariamente, ser ilustrativo ao que estava sendo feito, uma ideia de expansão da produção”, explica o professor Flávio Dutra.  

Como contar histórias 


Narrativas românticas, trágicas, turísticas ou militantes, toda história tem um enfoque diferente. Escrever para atividade de Jornalismo Literário permite que os repórteres experimentem a construção narrativa dos textos, com mais uso da subjetividade, a partir de descrições afetivas e impressões pessoais.  

Os estudantes de Jornalismo Literário passaram a primeira parte do semestre pensando suas pautas e se familiarizando com as novas maneiras de escrever e apurar para reportagens desse tipo, entendendo como estabelecer e encontrar suas próprias singularidades enquanto escritores.  “Jornalismo literário exige uma descoberta de si mesmo e sobre qual o seu modo de ver o mundo. O mais legal é que cada texto tem a cara de quem o escreveu, eles não seguiram as mesmas fórmulas, lendo a revista você conhece a turma”, estabelece Boff.
 

Cada um dos alunos escolheu os lugares e as histórias que queriam contar e puderam optar por produzirem suas matérias de maneira remota ou, seguindo todos os cuidados sanitários, saírem a campo. Segundo o professor Felipe, o tema escolhido manifestou o desejo do repórter de voltar para a rua. 

Diferentes lugares, histórias e maneiras de narrar


Leonardo Oberherr sugeriu o tema sob a influência do filme ‘Por Lugares Incríveis’, da Netflix, Sua narrativa foi sobre a Escadaria Estadual de Sapiranga, e sua importância para a comunidade. Seu objetivo era trazer as inúmeras histórias vividas no local, para incentivar melhor o cuidado com ele. “Já pensava, também, em como escrever a reportagem, quem seriam personagens, e, considerando o filme como um exemplo, queria retratar uma história romântica. Felizmente consegui”, revela o aluno do 8º semestre do curso.

Logo na sugestão do tema, Leonardo já pensava como contar a história da Escadaria
(Foto: Leonardo Oberherr)

O Quilombo Manoel Barbosa, localizado no município de Gravataí, foi apresentado por Douglas Glier Schütz, do 6º semestre de jornalismo, na revista. Afastado da zona urbana da cidade e não constando nos mapas do Google, viu sua própria curiosidade sobre o local ser atendida ao descobrir mais sobre ele. “O mais incrível foi descobrir que o quilombo é comandado por mulheres, quando isso ficou claro, eu sabia que deveria ser meu tema principal. Espero ter honrado o tempo que passei lá e respeitado a história delas com a minha produção”, afirma.  

Para Douglas, o desafio de encontrar um lugar protagonista de uma história motivou a turma de Jornalismo Literário. Ele diz que o contato com as pessoas e o ato de sair para rua para criar foi muito bem-vindo e resume a proposta da graduação em jornalismo. “Acho que o nosso curso é sobre isso, ir pra rua, contar a história das pessoas, dos lugares, experienciar vivências. Esses quase dois anos sem ter isso foram bem difíceis”, conclui. 

Localizado em Gravataí, a história do Quilombo Manoel Barbosa
foi uma das 11 narrativas da 56ª edição da revista Primeira Impressão
(Foto: Andressa Morais)

Compartilhando dessa necessidade de retornar às ruas, Eduarda Bittencourt, deixou a disciplina para seu último semestre da graduação. “Essa era uma cadeira que eu queria muito fazer e sempre tive um apreço muito grande por, então, poder voltar aos pouquinhos foi muito legal”, confessa a aluna. Segundo ela, com o afastamento dos lugares que a pandemia causou nas pessoas, é extremamente interessante ter a oportunidade de conhecer cenários que não são famosos, mas, ao mesmo tempo, incríveis e que abrigam histórias cheias de detalhes.   

Eduarda ambientou sua narrativa na antiga Estação do Trem de Portão. Criada mais de 50 anos antes da fundação do município, ela fazia parte da linha Porto Alegre/Caxias, mas, hoje, pouco se sabe sobre sua história. “Esse lugar ainda está ali, preservado no meio do tempo, só que ele já se perdeu. Agora ele é o Museu de Portão, mas, das nove salas, só três são do museu”, comenta. 

Ela, que via a antiga estação quando ia visitar seu avô, que trabalhava na praça perto do prédio como taxista, diz que a experiência de ir atrás da história de um lugar que sempre via, em uma cidade em que mora há 23 anos, possibilitou que ela enxergasse esse local de outra forma. Para Eduarda, a cadeira possibilitou que expressasse este olhar carinhoso pelo lugar. 

“Eu nunca tinha olhado para esse lugar pensando nas histórias, pensando que ele foi um centro econômico e foi ele que fez Portão se tornar um município. Toda a experiência foi muito rica e sensorial e eu espero ter passado isso na escrita”, projeta Eduarda.

Depois de 23 anos, Eduarda começou a olhar para a
antiga Estação de Trem com outros olhos
(Foto: Gabriel Ferri)

O professor Felipe Boff, que pela primeira vez coordena a disciplina, conta que está voltando a trabalhar na área de Jornalismo Literário, a qual sempre foi profissionalmente apaixonado. Tanto que entre 2009 e 2013 ele manteve uma revista voltada para o tema. Por isso, convida a todos a ler a PI. “As grandes histórias estão lá. É possível dizer tudo a respeito de como foi feito, mas tem que ler a revista para conhecer essas histórias, porque vale muito a pena”, sugere. 


Expandindo narrativas


Outra produção que só vendo é possível entender a extensão é a série de conteúdos feita pela turma de Projeto Experimental em Jornalismo para a expandir as histórias que dão vida a PI. Essa expansão acontece por diferentes meios, seja por fotografias ou ilustrações dentro da própria revista, ou produtos desenvolvidos para plataformas como o Medium, Spotify, Tik Tok e YouTube ou, até mesmo, para redes sociais, como Facebook e Instagram


Vindo de uma produção especial sobre a Lei Maria da Penha, que contou com uma variedade de publicações, os alunos de Projeto Experimental em Jornalismo tiveram como o objetivo da segunda metade do semestre coproduzir a revista Primeira Impressão para além do produto impresso. “A intenção não é vertermos a Revista PI para um espaço digital. O desafio do Experimental está em partir de uma base que já existe e experimentar com formatos a partir dessa base”, elucida a professora Cybeli Moraes.  


Esse é um trabalho em conjunto que começou no primeiro semestre de 2021 e, para o professor Flávio Dutra, valoriza a revista. “A PI ir para outros espaços amplia muito o acesso ao seu conteúdo, inclusive na divulgação com mídias sociais. E o fato de você ter outros produtos que não são, necessariamente, aqueles que estão na revista, mas alusivo a ela, também contribui nesse sentido”, desenvolve o professor. 


Os diferenciais deste ano são muitos, de mais vídeos que a edição anterior até a produção de infográficos para as reportagens. Para a aluna da disciplina, Vitória Pimentel, do 6º semestre do curso, exercitar essas novas possibilidades de fazer jornalismo é essencial. “Querendo admitir ou não, o jornalismo impresso não tem mais a mesma visibilidade. Os novos públicos estão muito mais interessados em outros formatos e a gente precisa, também, chegar até essas pessoas, mostrar para elas o quanto o jornalismo é importante para o desenvolvimento da sociedade”, comenta a aluna. 


Diferentes formas para experimentar


Esta edição da revista Primeira Impressão conta, como uma das produções de jornalismo Experimental, com 3 playlists para ambientar as matérias da revista, divididas entre as categorias de paisagens urbanas, paisagens naturais e territórios da memória. “A ideia surgiu da vontade de aproximar o leitor destes locais narrados na revista, que eles pudessem ouvir enquanto leem as matérias ou até mesmo quando visitassem esses lugares”, explica Milena Silocchi, que está no 7º semestre do curso.


A aluna enxergou essa como uma forma de conectar os leitores às histórias e, ao mesmo tempo, homenagear os espaços contados. Por conta disso, as músicas são em sua maioria nacionais e da América Latina, uma seleção musical que passou pela curadoria de uma série de grupos da Universidade, por exemplo, o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI)


Ainda no Spotify, Milena contribuiu com o podcast deste semestre para a revista, que mostra a relação do jornalismo com a construção do narrar de uma história. A produção conta com as participações especiais de repórteres da cadeira de Jornalismo Literário, o professor Felipe Boff e o poeta Pedro Gonzaga. A locução da obra acontece pela aluna Carolina Ambros e a edição por Rodrigo Westphalen.


Rodrigo, assim como a maioria dos alunos da disciplina de Projeto Experimental em Jornalismo, realizou mais de um tipo de produção. O estudante produziu para o YouTube um vídeo, no estilo vlog de viagens, contando sobre visitar a Cascata Vitória, na cidade de Maratá, interior do Rio Grande do Sul, um dos lugares da revista, mas algo aconteceu durante a saída de campo que mudou os planos do jornalista. “Eu fui fazer uma matéria sobre a Cascata, mas acabei caindo em uma Oktober Fest! É um evento bianual, grande no município, então acabou virando uma pauta sobre essa experiência também”, relembra o aluno do 6º semestre.  


Para ele, a maior dificuldade para desenvolver projetos de cunho experimental é não ter tempo suficiente, entre o trabalho e outras disciplinas, para fazer o que foi imaginado inicialmente, além das técnicas específicas que, em alguns casos, precisam ser desenvolvidas. Para a professor Cybeli Moraes, enquanto a abstração e instabilidade de cronogramas pode ser complicada, instiga a resolução criativa das coisas que surgem no caminho, “eu acho que essa é a proposta da cadeira”, conclui. 


Outra produção para o YouTube foi a de Vitória Pimentel. A aluna fez um vídeo sobre as mulheres do Quilombo Manoel Barbosa, complementando a matéria de Douglas Glier Schütz. “Eu optei por ir até o Quilombo fazer a gravação. Foi uma experiência sensacional porque, querendo ou não, a produção de campo te proporciona algo completamente diferente. Você consegue ver a pessoa, o jeito e emoção com que ela fala, é diferente de ter esse contato através de uma tela”, descreve.


Andressa Morais, do 7º semestre, foi fotografa para a mesma matéria e, de acordo com Douglas, “sozinhas as fotos dela já contam uma história”. Para a fotojornalista, esse retorno ao presencial foi muito bom para tornar as produções mais espontâneas. “Quando a gente vai até o local a gente conversa com as pessoas parece que elas se abrem mais. Você senta, conversa, às vezes a pessoa te oferece até um café, então fica uma coisa muito mais descontraída, o que fica muito melhor para a matéria e para as fotos”, fundamenta.

Para Andressa, a descontração que a apuração de rua
traz contribui para o resultados das fotografias
(Foto: Andressa Morais)

E, para aqueles que pensam que todo este percurso é tranquilo, vai um aviso: “Todos esses processos acontecem no mais lindo caos organizado (risos). Essa disciplina dá muito trabalho e é uma aula tensa, não só para os alunos, mas para os professores também, mas é uma cadeira muito satisfatória”, finaliza Cybeli Moraes.


Lançamento


O lançamento da 56ª edição da revista Primeira Impressão será em formato presencial, a pedido dos alunos da disciplina de Jornalismo Literário. O evento ocorre na Unisinos nesta segunda-feira, 13 de dezembro, às 19h30min, onde acontecerá a distribuição da revista e o fechamento do semestre. A entrega da publicação será feita pelo diagramador da revista, Marcelo Garcia, da Agência Experimental de Comunicação da Unisinos (Agexcom).


Estarão presentes no lançamento a turma de Jornalismo Literário, assim como o professor Flávio Dutra e alguns alunos de Projeto Experimental em Jornalismo, que apresentarão os produtos da Primeira Impressão expandida. “É muito significativo isso. Na produção de uma revista literária que tem como tema o lugar, eles poderem retomar ao lugar onde eles produziram, o lugar que é a casa deles como repórteres, sua redação”, reflete o professor Felipe Boff. 


“A gente vai finalmente conhecer colegas com os quais passamos o semestre todo e, claro, estamos bem ansiosos para pegar, de novo, a revista física na mão. Para mim, esse vai ser um dos highlights [destaques] do final da graduação, porque não consigo explicar a saudade que eu estava de tudo isso”, expressa Eduarda Bittencourt. 

Confira as produções da 56ª edição da revista Primeira Impressão: ISSUMedium, Spotify, Tik Tok, YouTubeFacebook e Instagram

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