Deu certo

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A correria e o nervosismo das grandes coberturas
"Conheça os bastidores de algumas das matérias que chamaram a atenção dos leitores da Beta"
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Nestes cinco anos de oferta continuada das atividades da Beta Redação, muitas coberturas fizeram história. Na matéria de hoje, mais uma da série que relembra o trabalho iniciado e desenvolvido por este laboratório de jornalismo. Vamos conhecer os bastidores de três coberturas que são referência para estudantes e professores. 

Na casa de Carlos Araújo

Em 2016, o Brasil passou por um acontecimento que ficaria marcado na sua história: o impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Veículos de imprensa do país inteiro acompanharam o andamento do processo, bem como as diversas manifestações tanto a favor dele quanto contra que aconteceram em todas as regiões. E é claro que com a Beta Redação não seria diferente.

Uma das repórteres que estava na Beta naquele período, na editoria de Política, foi Joyce Heurich, formada em 2016 e atualmente atuando como repórter freelancer. Ela comenta que foi uma feliz coincidência o processo de impeachment da Dilma ter acontecido justamente naquele período, em que ela estava cursando seu último semestre da faculdade e atuando como repórter de Política da Beta.

Foi um trabalho muito intenso não apenas para Joyce, mas também para a turma toda. Nesse período, Joyce participou da cobertura de diversas manifestações que aconteceram na Esquina Democrática, em Porto Alegre, e precisou constantemente pesquisar e se atualizar sobre o andamento do processo. Mas o que mais marcou Joyce nesse trabalho foi uma entrevista em vídeo que ela conseguiu para a Beta Redação com o ex-marido de Dilma, Carlos Araújo (que viria a falecer no ano seguinte).

“Eu e o Roberto Caloni, que foi minha dupla nessa entrevista, ficamos muito nervosos até fazer o primeiro contato com ele. Conseguimos o telefone do Carlos e ligamos para ele durante a aula, em um dos telefones da sala da Beta. Ele foi muito atencioso conosco e marcou um horário para nos receber na casa dele, em Porto Alegre, e conceder essa entrevista”, comenta Joyce.

A repórter diz que o principal motivo do nervosismo era porque eles acreditavam que muitos veículos de imprensa estavam entrando em contato com Carlos para conseguir uma entrevista naquele momento, e não esperavam que ele fosse aceitar gastar o tempo dele conversando com universitários. Porém, no dia da entrevista, quando Joyce e Roberto já estavam na casa dele, descobriram que o trunfo deles era justamente este.

“O Carlos nos contou que, de fato, estava sendo muito procurado por jornalistas. Porém, ele estava recusando algumas entrevistas e fez questão de aceitar a nossa justamente por sermos estudantes”, diz Joyce. “Alguns dos veículos que procuravam o Carlos tinham uma linha editorial que ele não concordava, mas em nós, que éramos a próxima geração de jornalistas, ele acreditava”.

Joyce também comenta que aquela entrevista do Carlos para a Beta Redação pode ter sido uma das últimas que ele concedeu na vida, visto que viria a falecer dali a pouco mais de um ano, em agosto de 2017, aos 79 anos. Nessa entrevista dele para a Beta já é possível ver que ele não estava bem de saúde, o que colaborou para a decisão de recusar outras entrevistas.

Enquanto Joyce produziu e conduziu a entrevista com Carlos Araújo, seu colega, Roberto Caloni, ficou com a captação de imagens e edição do vídeo da entrevista. Ele conta que estava com um pouco de receio, já que era a primeira vez que fazia uma filmagem de uma figura pública de relevância, mas a atenção dispensada por Carlos o deixou mais tranquilo. Estresse mesmo foi o pouco tempo que teve para finalizar.

“Precisávamos postar aquela entrevista o quanto antes, ou então perderíamos o gancho e a pauta esfriaria. E isso foi trabalhoso, pois era muito material para editar. A conversa com o Carlos foi longa, e filmamos tudo na íntegra. Tive dois ou três dias para editar tudo”, conta Caloni.

Mas todo o trabalho compensou no final. Além de ambos acreditarem que foi uma ótima experiência, a entrevista teve uma repercussão bem significativa, com outros veículos passando ela adiante e uma boa visualização no vídeo logo depois de ele ter sido postado.

No trem com Ciro Gomes

Em 2017, a turma da editoria de Política da Beta Redação soube que Ciro Gomes, na época pré-candidato à presidência pelo PDT, estaria vindo ao Rio Grande do Sul e faria uma fala no Anfiteatro Padre Werner, na Unisinos de São Leopoldo. Então, obviamente, seria feita uma cobertura da ocasião para publicar no site.

Porém, já no próprio dia da vinda de Ciro à Unisinos, o professor Felipe Boff, que ministrava a disciplina de Política no campus Porto Alegre, soube que Ciro estava na capital gaúcha naquele momento e que ele iria para a Unisinos de trem (Trensurb). E Anderson Guerreiro, que cursava a cadeira, ficou encarregado de se certificar disso. Felizmente, ele possuía contatos do partido de Ciro, que confirmaram a presença do candidato em Porto Alegre e foram informando o estudante sobre o horário aproximado em que ele pegaria o trem para São Leopoldo.

Por volta das 17h, Guerreiro se deslocou para a Estação Mercado sem ter certeza se realmente encontraria Ciro Gomes por lá. Mas Ciro apareceu, e o repórter imediatamente passou pela catraca para acompanhar o pré-candidato o mais de perto possível. Juntos, eles entraram no trem para São Leopoldo.

“Eu fiquei o tempo todo com o celular em uma mão fazendo fotos dele, e na outra eu tinha um bloco onde fui anotando tudo o que pude observar. O que Ciro estava vestindo, o semblante dele, quem estava acompanhando ele… Exatamente o que deve ser feito quando o repórter vai para a rua”, explica.

Durante o trajeto de Ciro Gomes até São Leopoldo, Guerreiro não deixou nenhum detalhe passar | Foto: Anderson Guerreiro

Porém, ainda era preciso se aproximar do Ciro Gomes para conversar com ele, o que não parecia tarefa fácil pela quantidade de pessoas ao redor do pré-candidato. Por sorte, o então estudante encontrou outra pessoa do PDT que ele já conhecia e pediu ajuda para se aproximar de Ciro. Assim que o repórter conseguiu ficar frente a frente com personagem – no caso, o candidato – ele se apresentou e a conversa teve início.

“Eu dei sorte por não haver mais ninguém da imprensa ali, apenas eu. Conversamos de Porto Alegre até São Leopoldo, quando desembarcamos. E nos momentos em que ele parou de conversar comigo para dar atenção a outras pessoas ao redor, aproveitei para observar a forma como ele as tratava e incluí isso na matéria”, comenta Guerreiro. “Ciro já havia declarado na época que se candidataria à presidência em 2018, e ver como um candidato se porta diante do povo, que usa o transporte público todos os dias para ir e voltar do trabalho, é uma boa oportunidade para ver como ele realmente é”.

Quando Guerreiro chegou na Unisinos de São Leopoldo, ele encontrou o professor Boff e disse que iria fechar a matéria no dia seguinte para poder assistir à fala de Ciro no Anfiteatro Padre Werner. Porém, o professor não permitiu isso e disse que ele deveria entregar a matéria naquele mesmo dia. Então, Guerreiro sentou e escreveu a matéria sobre a viagem de Trensurb do Ciro Gomes de Porto Alegre até São Leopoldo.

A repercussão da matéria foi bem positiva. Além de ter sido compartilhada dentro e fora da Unisinos. Para Anderson, a experiência foi um aprendizado sobre a importância de o jornalista ter sua rede de contatos, pois ele não acredita que teria conseguido produzir essa matéria se não fosse pelo auxílio das pessoas do PDT que ele conhecia.

No carnaval de Porto Alegre

Mas não é apenas por meio de entrevistas com figuras políticas de projeção nacional que uma matéria da Beta Redação se destaca entre as outras. Como é o caso da turma da editoria de Cultura de 2019, que recebeu do professor Everton Cardoso a tarefa de cobrir o carnaval de Porto Alegre para uma série de matérias que seriam publicadas na Beta.

A egressa Stefany Rocha, que fez parte da cobertura, relembra com carinho da experiência. Na sexta-feira, 15 de março, que foi o primeiro dia dos desfiles de carnaval daquele ano, a turma se reuniu no campus São Leopoldo para, em seguida, pegar um ônibus até Porto Alegre. As tarefas estavam bem divididas, cada repórter estava encarregado de acompanhar uma das escolas de samba para depois escrever a respeito. E aqueles que não receberam uma escola para acompanhar deveriam auxiliar com a produção de fotos e de conteúdo para redes sociais.

Ao chegarem no local do evento, a turma se dirigiu ao espaço destinado para a imprensa. Embora eles não possuíssem uma área reservada junto com os outros veículos, conseguiram se ajustar e dar início aos trabalhos. Além de acompanharem os desfiles, também conheceram os bastidores e fizeram entrevistas. Stefany ressalta que isso serviu para dar uma visão totalmente diferente a respeito do carnaval, que não era algo que ela acompanhava.

“Pude perceber a importância dessa cultura para quem estava lá assistindo e desfilando, e isso me deu uma perspectiva diferente. Me fez ver como eu não reconhecia algo que sempre esteve muito próximo de mim”, comenta Stefany. “Era muito legal ver a empolgação de quem estava assistindo. Lembro de ter conversado com uma mulher que estava lá com a filha dela, que era uma criança pequena, mas já falava que sonhava em participar do desfile”.

A turma virou a madrugada trabalhando. Chegaram no evento na noite de sexta-feira e foram embora no sábado, quando estava amanhecendo. Stefany conta que estavam todos completamente exaustos, mas com uma exaustão boa, causada pelo sentimento de dever cumprido.

“Não foi um trabalho nada fácil, um desfile de carnaval é barulho e movimento sem pausa. Se deixássemos passar a oportunidade de tirar uma foto durante o desfile, não tinha volta. As entrevistas foram difíceis de fazer porque era um lugar escuro e bem barulhento”, relembra a egressa. “Era uma correria constante. Tínhamos que aproveitar ao máximo os intervalos para conversar com a plateia, sendo que nem todos queriam papo com a gente, e conferir o que estava acontecendo nos bastidores sem atrapalhar o pessoal que iria desfilar”.

Para completar, Stefany precisava também acompanhar uma escola que desfilaria no sábado. Porém, ela não tinha como se deslocar ao local naquele dia, então acompanhou ouvindo o rádio em casa. E, segundo ela, isso foi ainda mais desafiador. Ela já estava exausta de todo o trabalho da noite anterior e ainda sem o agito do local que te mantém acordado. Trabalhando de casa, ela pode experimentar a sensação de ter que cumprir uma tarefa mesmo estando muito cansada.

Stefany diz que a turma trabalhou com muita união durante a cobertura. Todos se ajudaram, o que foi muito bom por ser uma experiência inédita para a turma inteira. E todos ficaram muito contentes com o resultado final.

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