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Educação e produção limpa no campo
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Por: Eduarda Bitencourt e Luiza Soares

“Tirar o sinônimo de atraso do campo”. Esse é um dos objetivos das Escolas Família Agrícola (EFAs), que unem rural e educação em mais do que um espaço, mas também em um modo de vida. Divididas em três escolas diferentes, as EFAs estão presente em Santa Cruz, no Vale do Sol e em Caxias do Sul. Todas as unidades trabalham com a Pedagogia de Alternância, um processo educativo que alterna o aprendizado no âmbito familiar e escolar.  

Fundada em 2009, a Escola de Santa Cruz é a mais antiga do grupo. Atualmente conta com 96 jovens formação no Ensino Médio e Técnico em Agricultura, além de 50 estudantes em estágio profissional. Este ano, a unidade de Santa Cruz está com 129 estudantes em processo de formação integral, sendo composta por 77% de meninos e 23% de meninas. As três unidades do Rio Grande do Sul de Escolas Família Agrícola somam 269 jovens agricultores e famílias em processo de formação integral. 

Natália Gomes da Silva é egressa da EFA de Santa Cruz e esteve presente na 41ª Expointer para apresentar a escola. Ela comenta que esse ambiente traz uma vivência diferente para o aluno, onde a casa também representa um espaço de aprendizado. Um dos destaques, para Natália é a junção com conteúdo da sala de aula com a realidade dos alunos.  

Natália Gomes da Silva apresentando a Escola Família Agrícola. / Foto: Giulia Godoy

“A gente desenvolve planos de estudos que são pesquisas. No primeiro ano, são pesquisas sobre você e sua família pra ver a tua história. No segundo ano, você pula um degrau e vai pra tua comunidade. No terceiro, vai pro teu município. Sempre desenvolvendo o teu meio, levando a escola para a casa, e casa para a escola”, explica Natália.  

“O que é mais incrível é como a gente é livre pra escolher. A gente pode passar os três anos lá e viver na agricultura, mas não é obrigado a fixar o jovem no campo. Talvez tu descubras depois desses três anos que não é aquilo que tu queres pra vida. Sem problemas. Tu sais de lá e não é obrigado a ser agrônomo, ser médico veterinário ou engenheiro agrônomo. Tu podes sair de lá e querer fazer Letras” ela explica.  

Sementes Crioulas 

As Sementes Crioulas, iniciativa da Escola Família Agrícola, oportunizam conhecimento coletivo, formação integral e levam em consideração a realidade das famílias e da escola. Para o secretário executivo da Associação GEFA, Adair Pozzebon, as sementes iniciam as pessoas de mais idade para a área da agricultura familiar. “A semente tem os ingredientes culturais e históricos. São o ponto de chegada para os mais velhos, para as famílias. As sementes tem sido ponto chave da nossa trajetória” afirma o secretário.   

Essa valorização da agricultura, também amplia o valor do alimento e do produto orgânico. Segundo Adair, o trabalho é feito com a perspectiva da agroecologia, ou seja, produção de alimentos limpos, sem veneno. “É agricultor e consumidor. Sem atacadista, sem intermediário. Com a alimento, isso é possível, é produzir a comida e vender. As sementes dão autonomia e soberania alimentar para as famílias. Assim, elas conseguem perpetuar comida na mesa”, explica.  

O relatório de 2013 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) projetou a necessidade de aumentar a produção de alimentos em 60% até 2050, considerando o esperado aumento populacional neste período. A preocupação, porém, não é apenas em combater à fome e a desnutrição, mas garantir a produção de alimentos saudáveis, já que a baixa qualidade dos industrializados também tem gerado um aumento de doenças resultantes da má alimentação. 

Projeto da Escola Família Agrícola, as Sementes Crioulas. / Foto: Giulia Godoy

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