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#ECAM: os correspondentes e a missão de comunicar
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Texto: Carol Steques e Eduarda Bittencourt

Na manhã desta terça-feira (25), começou mais uma edição do ECAM (Estágio de Correspondente de Assuntos Militares), voltado para estudantes de Jornalismo. O estágio terá três dias repletos de atividades que mostram a rotina de um correspondente em situações de conflito. Hoje, o General Bandeira fez uma palestra para os alunos contando a história da correspondência de guerra, de 1854 até os dias de hoje, dando ênfase às correspondentes femininas que participaram dos conflitos. O jornalista Humberto Trezzi esteve presente no curso contando para os estudantes suas experiências como correspondente de conflitos.

Uma breve história da correspondência de guerra moderna

De acordo com o General, cada correspondente tem uma abordagem muito peculiar, que é sua característica pessoal, que dá o tom das suas matérias e boletins de notícia. Wiliam Howard Russell (repórter) e Roger Fenton (fotógrafo) foram os primeiros correspondentes modernos, eles cobriram a Guerra da Criméia (1854-1856).

De 1861 a 1865 ocorreu a Guerra da Secessão. “Nessa época as fotos eram mais estáticas, não mostravam muito movimento”, declarou o General Bandeira. Já na guerra entre britânicos e colonos, de 1899 a 1902, as fotos continham bastante cenas de batalha e tropa, Winston Churchill foi o correspondente mais famoso desse período.

“Erich Marie Remaque foi um soldado alemão que fez uma narrativa muito interessante sobre a vida na trincheira”, contou o General. Segundo ele, o que mais foi noticiado durante a 1ª Guerra Mundial, foram o dia a dia na trincheira. O soldado Erich, autor do livro “Nada de novo no Front”, escreveu como era o dia a dia nas batalhas.

De acordo com o General, na Guerra Civil Espanhola os jornalistas de guerra passaram a analisar além da guerra em si, mas sim as consequência vivenciadas pelos civis. Robert Capa foi um grande fotógrafo da época, sua foto mais famosa é “Morte de um Miliciano”.

Morte de Um Miliciano. Foto de Robert Capa

A 2ª Guerra Mundial trouxe fotos que mostram a guerra em movimento, como explosões, exércitos em confronto, o dia a dia e sofrimento encontrado pelos soldados, e os efeitos de bombardeamento na população. Rubem Braga e Joel Silveira foram os principais correspondentes brasileiros a cobrir esta guerra. “Ernie Pyle foi o repórter americano mais famoso a cobrir a 2ª Guerra. Ele conversava com os soldados e fazia suas matérias baseadas nas histórias ouvidas”, explicou o General. Margaret Bourke-White (correspondente que cobriu a 2ª guerra) foi a primeira mulher a fazer cobertura de combates aéreos.

Segundo o General Bandeira, a primeira mulher a ganhar prêmio por cobertura de guerra foi Marguerite Higgins, na Guerra do Vietnã (1961-1975). Antigamente os correspondentes usavam o mesmo uniforme dos soldados, hoje em dia não se recomenda que ele usem as mesmas roupas, pois podem acabar correndo risco de serem confundidos com os próprios soldados.

Na Guerra do Golfo, de 1990 à 1991, trouxe a foto colorida. De acordo com o General, Peter Arnett foi o principal correspondente da época. “Peter foi o único que tinha equipamentos de satélite e voz, fazendo coberturas ao vivo”, contou o General Bandeira. Na Guerra do Afeganistão, a maior característica das fotos é a poeira sempre presente e um helicóptero ao fundo.

Segundo o General, Ásia Ramazan Antar, como muita outras mulheres, foi uma militar das Unidades de Proteção da Mulher. Muitos repórteres fizeram matérias falando sobre as mulheres na linha de frente lutando lado a lado com os soldados.

Hoje em dia os correspondentes passam por um treinamento, onde aprendem muitos fatos sobre cobertura de guerra. “Para ser correspondente tem que ter bom julgamento, raciocínio, discernimento, apreciação, avaliação, bom senso, parecer, prudência, critério e ponderação”, declarou o General Bandeira.

Onde a ação está

Jornalista do grupo de investigação do jornal Zero Hora, Humberto Trezzi deu continuação ao assunto da manhã. Autor do livro “Em Terreno Minado”, Humberto conta que já esteve em vários “lugares de risco em geral” e é necessária coragem e preparação para encarar tais eventos. Guerras, conflitos com o narcotráfico, terremotos e tsunamis estão no currículo do jornalista  

Humberto explicou que, diferente de outros países com um grande histórico de guerra, no Brasil a função de correspondente de guerra não é tão frequente, porém possuímos diversos enviados especiais que eventualmente irão cobrir conflitos.  

Em 1996, Trezzi esteve na Guerra de Libertação da Angola onde viu e esteve diante de vários conflitos armados. Ele relembra que uma das maiores dificuldades era discernir de que grupo os guerrilheiros participavam pois não havia nenhum uniforme nem nada que os identificasse. Entrar em território inimigo era comum e o passe de entrada, muitas vezes, não funcionava. “O mais fácil era chegar e se apresentar como jornalista logo de cara”, conta Humberto.

Colômbia, México e Rio de Janeiro também fazem parte da história do jornalista. Na Colômbia ele pôde acompanhar uma missão da força aérea colombiana na cidade de La Palma. Em 2009 viveu cenas marcantes no México quando viu mais de 65 pessoas assassinadas em menos de uma semana. No Rio de Janeiro se escondeu junto com policiais enquanto eram alvejados por traficantes no Morro da Providência.

A cobertura mais marcante vem de 2011 da Primavera Árabe. Humberto Trezzi foi até a Líbia duas vezes para acompanhar os conflitos. As dificuldades vividas durante a cobertura começaram ainda no deslocamento do repórter que teve que passar por vários países até chegar a seu destino. A tensão, assim como os bombardeios eram constantes. A disputa por uma refinaria de petróleo levou Humberto a um conflito que envolveu mais de dois mil rebeldes. Sobre artilharia pesada os rebeldes recuaram deixando quase duzentos repórteres na linha de fogo, Trezzi acabou acidentado nesse episódio.

A Líbia também trouxe dificuldades para transmitir as informações. Com internet cortada, foi somente em bases montadas pela CIA que ele conseguiu se comunicar com à redação. “Tudo isso exige bastante esforço de um repórter. O pior pesadelo, além da morte e não ter como transmitir o material e de nada adianta um jornalista no front que não consegue se comunicar”, finaliza Humberto.

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