Foto: Cassiano Cardoso
Dezenas de focas (repórteres sem experiência) se reuniram para conversar com um pinguim na última quinta-feira (1º) no Auditório Bruno Hammes. Os jovens jornalistas se aglomeraram para o encontro com a repórter Daniela Pinheiro, da Revista Piauí. O evento fazia parte de uma série de atividades da chamada Caravana Piauí, em que os profissionais percorrem o Brasil numa troca de ideias com a academia. Formada na Universidade de Brasília (UnB) e com passagens pela Folha de S.Paulo, Veja e Época, a jornalista trouxe os perfis ao foco naquela noite.
Com um sotaque de brasiliense nata, a repórter já construiu longas reportagens de figuras reconhecidas nacionalmente, como José Serra, Silas Malafaia, Ricardo Teixeira e José Dirceu. Todas elas com um mínimo de um mês de produção, entre viagens, reuniões e acompanhamentos de dia-a-dia dos entrevistados, quase que como uma mosca ao ombro deles. “Você é um drone que tá observando aquela pessoa. Claro que nunca imparcialmente. Ninguém é imparcial. Sempre vai ter meu envolvimento, as coisas que eu acho da vida”, apontou.
Entre os causos contados por ela, como o dia em que ficou presa com Sérgio Cabral no elevador e ele esmurrava a porta, pois jamais queria estar preso – o que é uma ironia, tendo em vista a realidade atual do ex-governador do Rio de Janeiro -, a repórter trouxe pontos importantes para os novos jornalistas. “O gravador é um ícone e o caderno um signo. Ele é o seu crachá. Ele demonstra que você está ali a trabalho. É uma relação profissional”, explicou, criticando que muitas vezes a relação entre profissional e fonte se dá de uma maneira muito pessoal.
De acordo com Daniela, uma matéria de perfil é uma troca entre repórter e entrevistado. “O perfilado manipula o repórter e ele aceita ser manipulado, afinal, ele quer entrevistar aquele cara. É uma troca, mas sempre com seu limite”, contou. Entretanto, ela explicita que se deve sempre ter a certeza de que são forças iguais. São interesses mútuos. “Você quer publicar o que ela não quer que seja publicado e ela quer que você publique o que ela quer, mesmo que talvez isso não vá para o texto”.
Para ela, não importa se a matéria leva um mês ou dois anos para ser construída, o que conta não é nem o mito da imparcialidade, mas sim contar a verdade do que foi visto e de maneira simples. “Ricardo Teixeira não deixava eu escolher comida. Isso demonstrava um lado mais autoritário dele. Era algo simples, mas que precisava ir para a matéria” especificou, lembrando que os detalhes das ações contam muito mais sobre a pessoa.
A palestra também conta um pouco do que a revista trouxe para o cenário do jornalismo nacional. “A Piauí trouxe a primeira pessoa. Trouxe essa over descrição de algumas coisas. Fora o tamanho dos textos”, definiu, e, mesmo assim, criticando a descrição de detalhes supérfluos, como as fartas mesas de comida e os apontamentos de como o entrevistado está se vestindo como algo banalizado. “É um conceito de tu descrever as pessoas na cena. Colocar elas lá. Para que o leitor leia e as enxerguem lá, mas não pelo detalhe do botão do casaco”, explanou.
Ao fim, a repórter vendeu o peixe da Revista Piauí com o banco de freelas para que os jovens jornalistas pudessem ajudar a publicação de alguma forma.