Uma rápida pesquisa ao dicionário já define o anonimato de maneira simples: aquele que não revela seu nome. Dentro do jornalismo, onde as pessoas focam em um assunto ou acontecimento, o anônimo é controverso. A construção narrativa precisa de fontes para embasar os fatos e a forma como eles se contextualizam dentro da sociedade. O anonimato ou não das fontes pode interferir na repercussão e na credibilidade do material produzido. No entanto, não é algo a ser excluído pelos profissionais que trabalham com jornalismo investigativo.
Em abril deste ano, a revista IstoÉ foi bastante criticada por uma reportagem produzida sobre a presidente afastada, à época em exercício, Dilma Rousseff. Na publicação, se falava de atitudes agressivas dela com funcionários no Palácio do Planalto e o constante estresse que ela se encontrava devido ao impeachment que já se desenhava em Brasília. Porém, a matéria não revelava nenhuma fonte para confirmar o que estava relatado no texto, o que gerou uma grande polêmica nas redes sociais. Inclusive, com ativistas denunciando o veículo de machista.
Luciana Kraemer é professora do curso de Jornalismo da Unisinos e é associada à Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Segundo ela, a própria legislação permite que não se divulgue as fontes para que se possa apurar os acontecimentos. “O entrevistado pode não ser identificado na matéria, mas as informações dele precisam ser checadas para ter consistência”, explica. Para ela, é necessário tirar todas as dúvidas para se ter segurança no conteúdo divulgado.
Entretanto, ela lembra que cada vez menos se usa fontes anônimas no jornalismo brasileiro, devido às consequências dessa prática. “Sempre existe um ônus do repórter ou do jornal em ter que responder moralmente por isso. Só se usa caso se esgotem todas as outras formas de checagem. É uma decisão conjunta entre editor e repórter”, afirma a professora.
Várias vezes premiado por grandes reportagens, Humberto Trezzi, repórter especial de Zero Hora, acredita que a credibilidade do jornalista permite a utilização ou não de fontes anônimas nos textos. Contudo, não pode ser a base única da matéria. “É o cúmulo do comodismo. Tudo precisa ser apurado e o entrevistado precisa apresentar indícios para embasar e guiar a checagem da informação”, pontua.
Segundo o repórter, a utilização pode reforçar, mas jamais ser o carro-chefe de uma matéria. Ele também ressalta que, em alguns casos, a denúncia requer uma apuração ainda maior. “O jornalista precisa obter documentos ou até infiltrar-se com algum gravador ou câmera para se obter o flagrante”, enfatiza.
Na RBS TV, Fábio Almeida, junto com Giovani Grizotti, é um dos mais conhecidos repórteres investigativos. “A fonte anônima pode servir como um start. É o início da investigação”, declara ele sobre a principal utilização deste tipo de atividade nas reportagens. De acordo com Almeida, se evita muito, mas ainda é usado em algumas matérias. “Geralmente, se oculta a identificação da fonte se ela correr algum risco de vida ou se influenciar diretamente na vida pessoal dela”, esclarece.
“Às vezes é só a palavra de uma pessoa. Não dá para fazer a denúncia. Normalmente usamos outros métodos para checar a veracidade da informação”, destaca o repórter. Almeida recorda que, mesmo se a reportagem for produzida ele, existe uma colaboração de todos, entre cinegrafistas e editores para a utilização de alguns elementos nas investigações. “A decisão é do repórter, mas há um debate entre toda a equipe sobre o assunto. Cabe avaliar se isso vai beneficiar a comunidade”, conta.
Segundo ele, toda informação de fonte anônima precisa ser analisada. “Tem uma coisa que é fato: sempre alguém que denuncia tem um interesse por trás. Pode ser pela comunidade ou pessoal. O repórter precisa saber também se não está sendo usado”, pondera.