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A importância da representatividade na mídia
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O jornalismo independente, além de proporcionar uma comunicação mais aprofundada e direcionada, abre espaço para um assunto muito importante: a representatividade. Através de iniciativas que buscam colocar em foco uma parte da sociedade que muitas vezes é deixada de lado pela grande mídia, veículos independentes exercem a cidadania por meio da comunicação.

Em Porto Alegre, a TV Restinga foi criada em 2011 para interagir com os moradores da maior comunidade do sul do Brasil, levando informação sobre o que acontece no extremo sul da capital gaúcha para o mundo e que muitas vezes era deixado de lado na mídia tradicional. Já no Rio de Janeiro, a Web Rádio Yandê foi criada para dar visibilidade à cultura indígena através do grande alcance da internet e usando a convergência midiática.

A parceria da TV Restinga com o público e colaboradores

A TV Restinga aborda todos os assuntos relacionados à comunidade da Zona Sul de POA, como: Saúde, Educação, Lazer, Cultura, Segurança, Política, Ações Sociais, dentre diversos outros temas, trazendo tudo sobre o desenvolvimento socioeconômico e cultural da região, além das reivindicações dos seus moradores. O vínculo com a comunidade é muito grande. É pelo canal eles procuram para compartilhar demandas e sugestões.

“Percebeu-se a necessidade de fazermos um contraponto à comunicação feita pelos grandes grupos de mídia, que sempre exploraram os pontos mais vulneráveis dos bairros periféricos e comunidades carentes, apenas por motivos financeiros. Diante disso, com o intuito de mostrar o outro lado do bairro, até então desconhecido não só pelas pessoas de fora e até mesmo pelos próprios moradores da região, nasceu a TV Restinga”, conta Márcio Figueira, coordenador do canal.

Atualmente a TV Restinga é o meio mais acessado pela comunidade local, muito pelo fato de o conteúdo ser totalmente voltado para a divulgação na internet, conforme explica a direção da TV.  “Nossa página no Facebook está hoje perto dos 15 mil fãs e nossas publicações têm alcance semanal de 200 a 300 mil pessoas. Nosso YouTube tem 955 vídeos publicados, 1 mil inscritos e mais de 500 mil visualizações. Nosso site já passou da marca dos 4 milhões de visualizações nas matérias e quase 1 milhão de visitantes únicos. Nosso Twitter e Instagram contam com 2 mil seguidores cada”, ressalta Márcio.

Com conteúdo em vídeo, áudio, texto e foto, a equipe destaca que o grande diferencial, além de dar visibilidade à comunidade da Restinga, é a parceria entre o veículo e outras entidades. A busca pelo apoio de empresas privadas e setores públicos também é constante para que se tornem mais visíveis as ações planejadas pela TV. “Em Abril de 2015, a TV Restinga fechou uma parceria de cooperação de produção de conteúdo com a TVE. Através desta parceria, toda nossa produção local é veiculada nos telejornais e programas temáticos da TVE, ganhando ampla repercussão, visto que nossa emissora pública tem cobertura em 75% do nosso estado no canal aberto”, destaca Márcio.

Trabalho da TV Restinga é referência na Zona Sul de Porto Alegre (Foto: Reprodução/ Facebook)

O coordenador ressalta que, com o tempo, a TV foi assumindo, cada vez mais, o papel não de um veículo de comunicação, mas sim de um coletivo de mídia alternativa e comunitária que se mantém de forma independente. Um grupo envolvido em proporcionar o desenvolvimento da comunidade através de processos colaborativos, onde cada ser envolvido, tem um papel neste processo. Portanto não há hoje uma equipe fixa de colaboradores.

“A comunidade se vê na TV Restinga e vê nela um espaço para debate do que é necessário para o desenvolvimento da região. Em nossos canais, principalmente nas redes sociais, nosso público participa, interage, critica, propõe e se sente parte deste processo de transformação. Neste quatro anos e meio, tivemos muitas vitórias e muitas conquistas em diversas pautas propostas. Campanhas sociais realizadas, reivindicações junto a entidades e ao poder público”, conclui Márcio.

Rádio Yandê e a cultura indígena em destaque

Idealizada por Anápuáka Tupinambá, de origem indígena e formado Gestão em Marketing, a Web Rádio Yandê é a primeira do Brasil nesta linha. No ar desde 2013, conta com uma vasta programação que tem por objetivo central colocar a cultura indígena em destaque através de diversas ações.

“O projeto de uma rádio indígena online já estava na minha cabeça há muito tempo. Observei as mídias de diversas etnias e juntamente com meus parceiros chegamos à conclusão de que o Brasil precisava de um etnomídia voltada para o povo indígena. Esse meio deveria ter linguagem adequada a todos os povos indígenas do país, respeitando as diversidades culturais e étnicas podendo assim ser dirigida a partir de sua própria concepção”, conta Anápuáka.

Podendo ser acessada via aplicativo ou por navegador de internet, a Rádio Yandê, que tem sede fixa no Rio de Janeiro, está disponível para todo o mundo em tempo real. Conteúdos mais antigos também estão disponíveis no site, além da interação via redes sociais com materiais alternativos. Vale ressaltar que todo conteúdo é produzido por descendentes indígenas, o que traz à tona a importância da representatividade midiática.

Eventos e transmissões da Rádio Yandê fomentam a cultura indígena (Foto: Reprodução/Facebook)

“A importância da representatividade indígena em um meio de comunicação é o protagonismo destes povos, que produzem seu próprio conteúdo sem interferência de outros grupos políticos, sociais, religiosos. Isso por muitos motivos. Dentre eles a importância destas mídias terem um olhar crítico do indígena. Através da rádio Yandê, saciamos a necessidade dos povos indígenas serem representados, a partir do momento em que a própria comunidade fomenta todo o conteúdo para a rádio. Nós potencializamos essas vozes, essas histórias, tirando aquela visão de 1500 que se tem sob os índios”, destaca Anápuáka.

A rádio é composta por três coordenadores: Renata Tupinambá, jornalista, especialista em etnomídia, roteirista, palestrante e produtora; Denilson Baniwa, Publicitário, possui experiência em várias organizações brasileiras, sempre atuando na área de comunicação e assessoria política; e Anápuáka Tupinambá. Além deles, Yandê tem mais de 70 colaboradores indígenas de todo o Brasil, que alimentam o site com informação e conteúdo. “Estes colaboradores são muito importantes para a rádio pois são eles quem trazem as demandas e informações sobre os povos indígenas de todo país. Contribuem assim para uma mídia que não discrimina e nem torna invisível nossa cultura”, frisou o idealizador da rádio.

A comunidade indígena brasileira vem recebendo com muito carinho a Rádio Yandê, segundo a coordenação. Ao mesmo tempo, a equipe percebe que é muita novidade para muitos, apesar dos 3 anos no ar. “Hoje temos uma grande audiência, com mais de meio milhão de ouvintes, somando indígenas e não indígenas de mais de 40 países. Cada vez mais novo povo vai se sentindo representado e vai encontrando seu espaço dentro da Yandê, seja como ouvinte e como colaborador. Respeitamos muito essa necessidade de se sentir representado dentro de uma mídia, por isso trabalhamos sempre ouvindo o público para quem trabalhamos”, ressalta Anápuáka.

A rádio Yandê não tem financiamento público e nem privado, atua de forma independente. Existe hoje um projeto da coordenação para a venda de um pacote de palestras e eventos sobre a cultura indígena e etnomídia a ser oferecido dentro de aldeias, universidades e demais espaços interessados e conhecer o trabalho feito pelo grupo. Através disso, os fundos necessários para a manutenção da rádio serão arrecadados.

“Nosso diferencial é um material indígena feito por indígenas, para indígenas e respeitando as populações que necessitam de uma representação na mídia. O nome da rádio, Yandê, significa ‘para nós’, e é esse o nosso objetivo. Sempre trabalhamos com notícias positivas do nosso povo, pois a mídia tradicional já dá conta da parte ruim. Somos muito mais que índios, somos cultura, diversidade. É esse o papel da rádio hoje”, conclui Anápuáka Tupinambá.

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