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A gastronomia no universo cinematográfico
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Gastronomia e cinema são duas expressões artísticas que causam impacto e despertam emoções. Ambas são capazes de estimular sentimentos, desejos, contar ou refletir uma história, e provocar nossa imaginação. Quando elaboradas, desestabilizam nossas certezas sobre a realidade. Reunir a família ou amigos em volta da mesa ou da televisão são formas de criar laços, expressar valores culturais e construir uma história. Quem nunca experimentou uma comida ou assistiu a um filme que despertou uma memória afetiva sobre alguma experiência do passado ou de alguém importante?

De acordo com Deise Cristina Schell, professora do curso de Gastronomia da Unisinos, o universo cinematográfico começou a se interessar pela gastronomia na década de 80. “Penso que A Festa de Babette, de 1987, é um marco neste sentido. Trata-se de um filme dinamarquês baseado em um conto com o mesmo título, escrito pela também dinamarquesa Karen Blixen. Ele retrata todo o discurso sobre o prazer de comer bem  – e de saber reconhecer o que isto significa – que funda a gastronomia no século XIX. A partir dos anos 2000 há um boom de filmes relacionados à temática”, explica.

A Festa de Babette, de 1987

Além do mais, a cultura culinária de uma região ou os pratos mais comuns de uma ocasião são recursos explorados pelo filmes para caracterizar uma cena. Em muitas obras a gastronomia e a comida em si podem se tornar elemento importante dentro da história. “Eu acho que em muitos filmes a comida é tida até como um personagem. Ela nos dá uma ideia de conforto em alguns, de esperança em outros, de habilidade, profissão ou até mesmo por fazer aquele elo entre as pessoas. A comida une as pessoas. Não tem coisa mais linda do que uma cena como a de In the mood for love (filme honconguês lançado em 2000), quando os dois personagens costumam ir comprar comida juntos ou compartilham uma mesa de restaurante enquanto falam sobre a vida e confortam um ao outro”, diz Sara Graciano, fundadora do blog Cozinha em Cena.

O projeto Cozinha em Cena nasceu em 2009 e une duas grandes paixões: culinária e cinema. No blog, Sara Graciano dá dicas de filmes, bandas, livros, receitas inspiradas em obras cinematográficas e também reproduz pratos que foram feitos nas telonas. Cada publicação é construída para instigar os leitores a assistir uma história e comer algo relacionado. “A obsessão de misturar a comida com os filmes é tão grande que às vezes dou pause para fazer anotações ou para tentar adivinhar o que os personagens estão comendo. Algumas vezes, não tem comida nenhuma no filme, mas eu gosto tanto dele que acabo combinando com alguma iguaria do país de origem ou que tenha a ver com os atores ou diretores”, conta.

Nas telonas a gastronomia já foi representada de diferentes formas. Há filmes com narrativas que contam a história real de grandes chefs, cozinheiros ou até escritores, como Vatel: Um Banquete para o Rei (2000), Julie & Julia (2009), Toast: A História de uma Criança com Fome (2010), Os Sabores do Palácio (2012). Encontramos também aqueles que desenvolvem acontecimentos ficcionais, cujos roteiros romantizam a profissão e até questões de gênero. A Grande Noite (1996), Ratatouille (2007), Simplesmente Martha (2001), Como um Chef (2012), Chef (2014), A 100 Passos de um Sonho (2014) são alguns exemplos.

Ratatouille, de 2007

Outro projeto relacionado à área é o Mesa de Cinema, produto da Nexo Comunicação, empresa de assessoria de imprensa e eventos. Idealizado pela jornalista Rejane Martins, surgiu a partir da notícia do lançamento em DVD do filme A Festa de Babette, no final de 2004. A comunicadora passou então selecionar obras estreitamente ligadas à gastronomia, nos quais as tramas são conduzidas pela arte de cozinhar e pelo prazer de comer geraram o projeto inicial. O evento ocorre em parceria com hotéis e centros culturais e se divide em três momentos: sessão de cinema, debate e jantar.

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