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Angústia e silenciamento no Conto da Aia
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Imagine um mundo onde mulheres não tem direito à leitura, escrita, propriedades, trabalho e nem mesmo ao próprio corpo. Esse é o cenário que pauta a realidade da ficção distópica de O Conto da Aia (The Handmaid’s Tale, no original). O livro de Margaret Atwood foi lançado em 1985 e, no ano passado, voltou às rodas de conversas após ganhar destaque pela produção da série televisiva inspirada na obra. 

Na história, os Estados Unidos passaram por um grande desastre ambiental e a fertilidade se tornou um problema. O ambiente instável aliado as crises políticas e econômicas se tornaram o cenário perfeito para um golpe de estado. Assim, o que era EUA se transforma em Gillead, uma teocracia extremista. 

The Handmaid’s Tale/Reprodução

Eu quase engasgo. Ele disse uma palavra proibida. Estéril. Isso é uma coisa que não existe mais, um homem estéril não existe, não oficialmente. Existem apenas mulheres que são fecundadas e mulheres que são estéreis, essa é a lei. pág. 75 – O Conto da Aia 

A constituição não existe mais e a sociedade é regida por critérios bíblicos. Os homens representam o topo da hierarquia e as mulheres, divididas em castas, são propriedade do estado. As “Esposas” são casadas com os comandantes e, nesse mundo de privações, são as que possuem mais liberdades; as “Martas” são responsáveis pelos serviços domésticos na casa dos Comandantes; as ‘Tias” são senhoras responsáveis pela doutrinação das mais jovens e as “Aias” são as mulheres férteis que restaram e se tornaram objetos para reprodução.  

Éramos as pessoas que não estavam nos jornais. Vivíamos nos espaços em branco não preenchidos nas margens da matéria impressa. Isso nos dava liberdade. Vivíamos nas lacunas entre as matérias. pág. 71 – O Conto da Aia 

Atwood transmite a narrativa por meio de uma dessas mulheres que perderam todos os direitos, uma aia. A personagem principal é Offred. Ela já teve um nome, uma família e um emprego, hoje, nada disso existe mais. Na sociedade de Gillead, perdeu sua identidade por ainda ser fértil. Além da rotina de abusos e silenciamento constante, tiraram-lhe também seu individualismo. Seu nome representa propriedade “Of Fred”, que em tradução literal significa “de Fred”, o Comandante que é seu dono.  

The Handmaid’s Tale/Reprodução

Melhor?, digo, em voz baixa, apagada, Como ele pode pensar que isto é melhor? 

Melhor nunca significa melhor para todo mundo, diz ele. Sempre significa pior, para alguns.” 

pág.  251 – O Conto da Aia 

O livro é uma experiência angustiante e dolorosa. Em cada página, o leitor se perde tentando encontrar uma solução para essa realidade e acaba caindo em um beco sem saída. Protagonista e leitor compartilham o sentimento de confusão sobre como as coisas terminaram dessa forma. O terror psicológico, as privações e a violência são marcas constantes durante a história.  

Essas marcas foram devidamente apropriadas pela adaptação televisiva do livro que estreou em 2017. Produzida pelo serviço de streaming Hulu, a série contou com 10 episódios em sua primeira temporada. A segunda, estreou esse ano e conta com 13 episódios. 

The Handmaid’s Tale recebeu oito prêmios Emmy em 2017 e, em 2018, ganhou dois prêmios Globo de Ouro. Assista o trailer da primeira temporada abaixo.  

https://www.youtube.com/watch?v=NaPft-MFj38

Eu me ajoelhei para examinar o piso do armário e lá estava, escrito em letras minúsculas, bem recentes, parecia, riscadas com um alfinete ou talvez apenas uma unha, no canto, onde caía a sombra mais escura: Nolite te bastardes carborundorum. pág. 65 – O Conto da Aia 

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