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O papel das áreas intelectuais e literárias de Luis Fernando Veríssimo
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Para debater a importância das obras de Luis Fernando Veríssimo como um intelectual, a palestra “Jornalistas Intelectuais e a Literatura” iniciou a Semana de Comunicação da Unisinos Porto Alegre e integrou a programação da Semaníssima Luís Fernando Veríssimo. Mediados pela professora Martha Dreyer (Letras), os professores Everton Cardoso (Jornalismo), e Marcia Lopes Duarte (Letras) e o jornalista Luiz Gonzaga Lopes apresentaram aos alunos uma análise dos trabalhos do autor e sua relevância. 

Professores reunidos para a palestra / Foto: Tainara Mauê

Luis Fernando Veríssimo é um dos escritores mais conhecidos no Brasil. Devido à capacidade de escrever sobre temas diversos sem fugir da realidade, o escritor é hoje considerado um intelectual na cena literária brasileira: seus textos vão desde uma crítica política a um trocadilho de humor com uma crítica social integrada. 

O jornalista Luiz Gonzaga Lopes relacionou as obras do autor com as obras do pai, Érico Veríssimo – escritor gaúcho do século XX, falecido em 1975, e sua obra de maior sucesso foi “O Tempo e o Vento” – para mostrar que as diferenças de intelectualidade do escritor estão na maneira que ele usa o humor inteligente. Segundo ele, Érico não compartilhava do mesmo dom do filho para as histórias de jornal. “De tudo o que eu li do Érico, eu não consigo ver a relação do autor para o jornal. Quando Luis Fernando apareceu, sempre foi no viés do humor. Luis Fernando Veríssimo sempre me pegou mais pelo humor do que pela política”, ressaltou o jornalista. 

O jornalista Luiz Gonzaga Lopes apresenta comentários da internet sobre o escritor / Foto: Tainara Mauê

Para o jornalista, a admiração do público por Veríssimo vem da capacidade do autor de narrar situações cotidianas comuns. “É uma pessoa que sabe antever situações, assim como ele mesmo, tem uma visão mais humanista mais ligada a um tipo de pensamento”, contou, falando que esse estilo fortalece o vínculo com o leitor. 

Assim, Luis Fernando Veríssimo deixa um legado de humor e simpatia para os seus leitores e admiradores. “Ele foi responsável por uma visão de mundo mais deslumbrada, capacidade de entender que no mundo onde nós estamos, capacidade de encarar esse mundo de uma forma mais clara e alegre”, afirma Lopes. 

A professora Marcia Lopes Duarte apresentou aos alunos uma relação do humor com a ironia nas obras de Luis Fernando Veríssimo, a partir de uma análise Barkhtiniana, teoria criada pelo filósofo russo Mikhail Mikhailovich Bakhtin. “O humor e a ironia do autor estão a serviço de uma questão bem mais complexa, que é justamente fazer uma análise aprofundada da sociedade na qual ele vive”, explicou a professora. 

Marcia esclareceu aos alunos que os trabalhos do escritor abordam questões complexas sobre a sociedade: “O texto pode parecer muito simples, mas, na verdade, existe uma complexidade bastante significativa na construção do texto. Ele é um homem que vive o seu tempo e tem uma visão muito peculiar desse mundo e talvez por isso as pessoas consigam enxergar na obra dele essa questão de ‘farol’, alguém que guia”, explicou. 

Professora Marcia explica a análise Bakhtiniana / Foto: Tainara Mauê

Luis Fernando Veríssimo: um intelectual 

O professor Everton Cardoso apresentou que a história da intelectualidade no Brasil ainda é recente, além de curiosa e particular. Foi apenas no final do século XIX que os primeiros intelectuais começaram a surgir no país, aliado com a proibição dos escritos contra a religião, o governo e os bons costumes, integrando-se, portanto, como parte dos mecanismos da censura utilizados no Brasil em 1808. “As primeiras faculdades só vão aparecer no final do século XIX. A nossa história universitária não tem 100 anos. A UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) que é a universidade mais antiga do Estado, vai fazer 84 anos. É tudo muito recente, da mesma forma a intelectualidade”, explicou o professor. 

Professor Everton explica a importância das obras de Luis Fernando Veríssimo / Foto: Tainara Mauê

Ainda estreando em sua carreira no Jornalismo, em 1967, Luis Fernando Veríssimo criou, junto a sua equipe, o caderno “Cultura”, do jornal Zero Hora, feito inédito pois os jornais da época eram integrados por profissionais na área há mais tempo. “A Zero Hora era um jornal muito jovem, foi fundada em 1964. Então era uma aventura desse grupo de jovens, de fazer um caderno quinzenal de cultura”, explicou Everton Cardoso. 

E foi com Luis Fernando Veríssimo que se rompeu o perfil de intelectual no país, predominante até a década de 1980, concepção da época, em que o indivíduo apenas poderia dominar uma área do conhecimento. “O que eu acho interessante na obra de Luis Fernando Veríssimo é que ele sai desse espaço típico dos intelectuais, que é o suplemento. Ele acaba indo pra outros espaços e a gente vai encontrar como no caderno ‘Donna’, da Zero Hora”, relatou Everton. 

 

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