Produzido por Ricardo Só de Castro e Christina Dias, o documentário “Já Vimos Esse Filme” debate sobre o 17 de abril de 2016, data em que o Congresso Nacional votou o processo de impeachment de Dilma Roussef. “Algo está muito estranho, e é isso que tentamos ver por meio do documentário”, conta o diretor do longa, Boca Migotto, professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos nas áreas de Audiovisual (CRAV) e Comunicação Digital (COMDIG).
“Não é um documentário isento, mas não somos ufanistas”, relata Boca. O longa tem tendência política voltada para a esquerda, mas também faz críticas a representantes como aos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, e ao Partido dos Trabalhadores (PT). Entre os temas abordados na produção estão o combate à corrupção, operação Lava-Jato, grande mídia, poder público, redes sociais e o sistema eleitoral. “A gente não tem representatividade lá (Câmara dos Deputados). Temos pessoas eleitas em função do coeficiente eleitoral. Tem um político que faz um monte de votos e carrega os amiguinhos que não conseguiriam se eleger”, relata Boca.
“Já Vimos Esse Filme” é um longa-metragem com duração de 78 minutos que levou dois anos para ser finalizado. Para construir a narrativa, pessoas da sociedade civil e sem mandatos político-partidários foram entrevistadas. Os primeiros na lista eram manifestantes durante a votação do impeachment. “A gente entrevistou os dois lados, tanto o pessoal que estava no Parcão (Parque Moinhos de Vento) quanto os que estavam na Praça da Matriz”, comenta Boca. Ambos locais ficam em Porto Alegre. Na semana seguinte à votação, foram entrevistados escritores, cineastas, cientistas políticos, juízes, professores e líderes de movimentos sociais.
O documentário deve ser lançado em agosto, e foi produzido por um coletivo interdisciplinar, pois entre os responsáveis pela criação estão jornalistas, cineastas, publicitários, editores e advogados. Não tem fins lucrativos. Segundo a assessoria responsável pela divulgação, “o valor total de produção é uma conta difícil de fazer, pois muita gente trabalhou sem receber, realmente por acreditar no projeto. Não teria como contabilizar essas horas de trabalho para ter um número”.
Um documentário enfrenta problemas
A ficcionalização foi uma opção para a narrativa do longa. Por isso, surgiu a ideia de criar uma personagem: um argentino que viria ao Brasil para documentar o momento. O ator escolhido para interpretar o papel do estrangeiro desistiu após ler o roteiro. Segundo Boca, ele teve medo de sofrer represália por esta atuação, em especial quando tentasse um novo emprego no Rio de Janeiro ou São Paulo.
O grupo também enfrentou o problema da falta de variedade de imagens, mesmo tendo quatro equipes em Porto Alegre e uma em Brasília. “Quando vi o material, parecia tudo muito repetitivo”, pontou Boca. O uso de imagens gravadas por TVs não era uma opção, pois a maioria exigia direitos autorais. Ricardo Só de Castro, produtor e advogado, decidiu que usariam imagens do Youtube. “Eu seguro a bronca se alguém vier nos processar”, relembra Boca.
O gaúcho tá de olho
Aproximar questões geográficas, culturais e sociais do Rio Grande do Sul com o processo de impeachment estão entre as ideias do longa. Nas palavras de Boca, o estado tem uma ligação forte com a política nacional. “Desde Getúlio Vargas a Jango, a questão da legalidade do Brizola, a Dilma, mesmo não sendo gaúcha, tem uma história aqui no RS. Também temos o outro lado. Dos cinco presidentes na época da ditadura militar, três eram gaúchos. A gente tem ditadores também. Não só sofre o golpe, a gente provoca o golpe”, comenta Boca.
Equipe técnica
Produção: Ricardo Só de Castro e Christina Dias;
Produção executiva: Glauco Urbim;
Diretora de Produção: Mariana Mêmis Müller;
Desenho de som e mixagem: Augusto Stern e Fernando Efron;
Montagem: Drégus de Oliveira;
Roteiro: Boca Migotto e Drégus Oliveira;
Direção: Boca Migotto.
O trailer está disponível aqui. Não deixa de conferir o trabalho dessa equipe.