Na noite de segunda-feira (20), o jornalista Sérgio Xavier Filho, comentarista dos canais SporTV e ex-editor da Revista Placar, palestrou para alunos da Unisinos Porto Alegre. Ele contou sobre sua trajetória na profissão, falou sobre seu livro, o recém lançado “17 Grandes Polêmicas do Futebol Brasileiro”.
Ele começou o bate-papo falando sobre sua trajetória. Disse que entrou no Jornalismo por causa da paixão por esportes. “Eu precisava me divertir trabalhando, e a forma que eu via de me divertir era trabalhando com Jornalismo Esportivo, principalmente com futebol”, contou.
Ele seguiu contando que após entrar na universidade viu que o jornalismo era muito mais que futebol. “Pude ver durante a faculdade que havia áreas bem mais interessantes que a esportiva, dessa forma comecei a me apaixonar pelo curso”, comentou. Xavier disse ainda que seu trabalho foi no jornal “Diário do Sul”, que durou apenas dois anos, de 1986 à 1988. “Infelizmente o jornal durou pouco pois tinha um projeto bem ousado, e tinha bons profissionais”, disse.
Xavier afirma que teve bastante sorte ao longo da carreira. Numa delas, ele foi designado para uma editoria de assuntos especiais do jornal, pois o veículo queria ganhar prêmios. “E funcionou, ganhamos alguns prêmios lá, essa eu chamo de primeira sorte, mas pouco depois o jornal fechou e ficamos eu e mais 150 pessoas sem emprego”, lembra.
Dois meses depois do fechamento do jornal, o jornalista teve o que chama de “segunda sorte”, pois foi chamado para fazer freelancer no Estado de São Paulo, e segunda ele, era bem difícil. “Nós mandávamos laudas e mais laudas com a matéria feita, e comemorávamos quando saía uma ou duas linhas no impresso, pois havia sido nós mesmos que havíamos apurado a informação”, rememora.
Ele comenta também que nessa mesma época uma ex-editora sua do Jornal do Sul foi contratada pelo Estado de São Paulo, na parte de economia, e o convidou para trabalhar com ela em São Paulo. “Aceitei na hora e me mudei pra lá. Com isso, aprendi bastante coisa sobre economia, mercado financeiro, matemática financeira e pensei que com isso me tornaria um jornalista econômico”, contou.
Mas a sorte não o abandonou. “Para minha sorte, novamente, nesse período, a Revista Placar estava criando um novo projeto, o “Sexo, Futebol e Rock n’ Roll”, e me convidaram para ser um dos editores, aceitei e lá na revista permaneci por 21 anos, passando por vários cargos diferentes”, disse. Em 2010, com a crise da revista, Xavier optou por pedir demissão, antes o que o mandassem embora.
Nos anos anteriores o comentarista vinha fazendo participações em programas dos canais SporTV, e quando se desligou da Revista Placar, o jornalista e a apresentador do canal, André Rizek o convidou para trabalhar definitivamente na casa. “Topei na hora, pq é o que eu gosto de fazer e já vinha fazendo, apenas oficializei”, disse.
Além dos trabalhos como editor na época de Revista Placar, Xavier também cobriu cinco Copas do Mundo: 94, 98,2006,2010, e 2014.
Questionado sobre jogadores de futebol que trabalham como comentaristas e apresentadores, ele não vê problemas, desde que o profissional esteja preparado para a função. “Se o cara for carismático e souber do que está falando a audiência já costuma gostar, porém, eu penso que a pessoa precisa de uma preparação, não adianta simplesmente colocar um ex-jogador numa bancada só porque ele já jogou bola”, explica.
Ele ainda pensa que esse é o motivo pelo qual a faculdade de Jornalismo é tão importante. “É nela onde a pessoa aprende o que é a profissão e como fazê-la, quem faz Jornalismo já está mais preparado para exercê-la do que quem nunca estudou”, disse.
Acidente Chapecoense
Ainda foi abordado no bate-papo o trágico acidente ocorrido com a equipe da Chapecoense. Disse que é impossível não se colocar no lugar de quem sofreu o acidente, dos quais muito eram seus colegas de profissão. “Dois dias antes eu estava com aquelas pessoas cobrindo um jogo do Palmeiras, no Palestra Itália, quando soube da notícia fiquei desolado”, lamentou.
Ele completou dizendo que é nesse momento que se separa o jornalista puro do jornalista esportivo. “Eu já havia feito cobertura de tragédias ao longo da carreira, então eu sabia como lidar com aquela situação, por mais difícil que fosse. Era preciso ter muita sensibilidade e respeito”, finalizou.
O livro
Ao falar de seu livro, Xavier citou um dos capítulos mais importantes: Final da Copa de 1998. Ele conta que tentou abordar o ocorrido naquele dia da forma mais jornalística possível. “Não quis emitir minha opinião no livro, apenas narrar os fatos ocorridos naquele dia para que o próprio leitor tenha sua visão do que aconteceu”, explica.
Jornalismo e entretenimento
Para o comentarista, os dois, infelizmente, andam juntos. O jornalismo hoje depende, de certa forma, do entretenimento. “É um mal necessário, as pessoas hoje em dia não querem mais apenas saber das notícias daquela forma clássica, séria, muitas querem algo mais descontraído, assim, o entretenimento acaba ganhando bastante espaço”, comenta.
Ele ainda diz que o Jornalismo não acabou pelo entretenimento estar tão ligado com a profissão. “Muitas pessoas contam a mesma história. Então quem conseguir contar de uma forma diferente e que chame atenção, conquistará o ouvinte”, disse.
Jogadores e Assessorias
Sérgio Xavier fala que o contato com os jogadores, hoje em dia, é mais restrito. Diz que, com as assessorias dos clubes e dos próprios profissionais, o contato com os jogadores, via clube, ficou mais limitado, mas que se o jornalista é bom, há muitas formas de contornar isso. “Desde a invenção do Whatsapp, Twitter, Facebook, é quase impossível um assessor blindar 100% um atleta. Então, é sim possível ter contato com os atletas sem passar pela assessoria.
O Jornalismo Esportivo no futuro
De acordo com o jornalista, as emissoras precisam se renovar, e ele têm visto isso em algumas, como a SporTV, que possui projetos para buscar novos talentos. “O futuro do Jornalismo são os novos profissionais, as empresas precisam dar espaço para que novas pessoas apareçam e possam exercer a função” opina.
Também foi comentado sobre o futuro das transmissões esportivas. Xavier pensa que o atual sistema de TV por assinatura não faz mais sentido. Para ele, “o futuro é a internet. Em breve essas transmissões serão feitas pela internet, a pessoa não precisará mais pagar por um pacote fechado de jogos, escolherá os que deseja ver e ainda pagará pouco por isso”.