Uma pesquisa acadêmica que despertou o encanto pela escrita sobre alimentos e resultou em um curso de narrativas gastronômicas. Esse é o Cucina in Prosa, idealizado pela psiquiatra Betina Mariante Cardoso. Ela também é especialista em Psicoterapia de Orientação Analítica (CELG-2006), Mestre em Psiquiatria (UFRGS-2008) e Mestre em Teoria da Literatura (PUCRS-2016). O interesse pelo assunto surgiu em 2011, com a leitura de temáticas em ‘Food Studies’ – como são chamados no exterior os temas que abordam a relação entre cozinha e humanidades.
O curso tem quatro módulos que ocorrerão semanalmente e é dedicado à amantes da literatura e de aventuras gastronômicas, que vão desde a tradicional receita do bolo da vovó até receitas elaboradas e reproduzidas por grandes chefes de cozinha.
Com o objetivo de estudar a cozinha como um espaço físico e simbólico na literatura brasileira contemporânea, durante as pesquisas, Betina deu atenção maior para os aspectos humanitários do ambiente. Por isso, ela destaca três atributos como base para o seu trabalho: memória, prazer e autonomia.
Conforme a psiquiatra, esses atributos se interligam como as palavras na literatura. “Para mim, o espaço físico e simbólico significa tudo que a gente tem em termos de material. Esse espaço absorve do que é material mais do que é físico. A cozinha não é apenas uma peça da casa, mas é a interlocução entre a panela, colher e o fogo”, comenta.
Betina escolheu a Vida Merceria e Café, em Porto Alegre, para ministrar uma aula na última quinta-feira (dia 9), onde conversou com quatro alunas, em uma edição temática sobre “Vinhos e Literatura, escritas possíveis”.
Advogada, arquiteta, jornalista e doceira, todas as alunas tinham mesma paixão: a escrita gastronômica. O público do Cucina in Prosa é formado por aulas práticas e teóricas, e recebe pessoas que usam das suas experiências na cozinha ou até mesmo em viagens, para aprimorar sua escrita criativa e sensorial.
De acordo com Betina Cardoso, todos que participam gostam de exercer os dois. “Todo mundo gosta da teoria, mas precisa da prática. A cozinha é experiência, a comida é experiência, então sempre temos a parte da prática durante a aula”, explica. “Nossa aula tem bastante exercício, pois temos que ter a vivência. Uma das minhas escolhas é que as pessoas escrevam a mão, pois é uma coisa que a gente não faz mais, isso é uma relação sensorial, de toque da caneta”, completa a psiquiatra.
Ela ainda aponta alguns cuidados que devem ser tomados durante a escrita gastronômica: “Devemos pesquisar muito, ler muito, principalmente os autores referenciais, para termos a voz de vários autores. Porém, a leitura é o ingrediente da escrita. Temos que ler bastante para escrever bem”, enfatiza.
A pesquisa e as experiências gastronômicas resultaram em um livro escrito pela psiquiatra, “Pequeno Alfarrabio de Acepipes e Doçuras”, um compilado de crônicas gastronômicas. A próxima atividade do projeto ocorrerá amanhã (14/11), com um jantar no Lorita Restaurante, em Porto Alegre.