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Existe empoderamento feminino na literatura?
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Texto: Liane Oliveira 

O dia internacional da igualdade da mulher foi celebrado no último sábado, 26 de agosto, em paralelo, muitos movimentos feministas crescem e, junto com eles, o aumento pela luta pela igualdade de gênero.

Nos últimos anos, ouviu-se, leu-se muito a palavra empoderamento. Conforme um levantamento realizado pela Editora Positivo em 2016, a palavra mais buscada no Dicionário Aurélio foi “empoderamento”.

Porém, para o mundo da literatura o assunto é ainda uma barreira. É pouco abordado em livros. A escritora Germana Zanettini, ex-aluna da Unisinos e autora do livro Eletrocardiograma, comenta sobre a importância do tema na literatura. “Acho fundamental abordar sobre isso. A literatura é ainda muito machista, assim como o mundo em que vivemos. Isso é só um reflexo. Acredito que falta muito protagonismo feminino na literatura como um todo.”

A escritora ainda dá um exemplo de machismo na literatura. “Pra ter uma ideia, a escritora inglesa Catharine Nichols enviou os originais do livro dela pra mais de 50 editores e recebeu a resposta somente de dois. Então ela resolveu enviar o mesmo material só que assinando com um nome masculino e teve a resposta de mais de 20 editores. Ou seja, se você assinar com um nome masculino, as editoras têm muito mais interesse.”

Além desse caso, Germana relembra que, no início da carreira, a autora de Harry Potter, Joanne Rowling assinava somente com as iniciais J.K, pois, era um nome neutro e ninguém sabia se era homem ou mulher. “Nesse caso, com certeza achavam que ela era um homem”, comenta.

Dicas da escritora

Germana comenta que não conhece tantos livros que tratem diretamente do tema. Conforme ela, são livros que usam muito da ficção e poesia. “Os livros que conheço não são manuais de empoderamento feminino. São obras que educam nesse sentido e tocam nesse tema, mas por meio da ficção para conscientizar principalmente as meninas.”

O primeiro livro da lista da escritora é da autora Simone de Beauvoir, chamado “Segundo Sexo”, publicado em 1949. “Esse livro é quase um manual. Naquela época já começava-se a falar sobre feminismo e acho que a autora é importantíssima nessa luta”, comenta.

Outro livro indicado por Germana é o “Orlando”, de Virginia Woolf. “O livro já virou até filme”, relembra. A obra da Eliane Brum, intitulada “A menina quebrada” também chama atenção da escritora. “Nesse livro tem vários textos que ela fala com muita lucidez sobre essas coisas e lugares da mulher”, atenta.

Os livros “Um útero do tamanho do pulso” (da gaúcha Angélica Freitas), “Outros jeitos de usar a boca” (da inglesa Rupi Kaur), “Um amor feliz” (de Wisława Szymborska) e o livro “Sejamos todas feministas” (de Chimamanda Ngozi Adichie) são obras que Germana gosta por serem livros de poesia. “Esse último é quase um manifesto e é muito bacana também”, ressalta.

No final do ano passado foi lançada a coletânea Blasfêmias, que reúne poesia contemporânea feminina e que é escrito só por mulheres. “Foi um esforço muito grande nesse sentido de publicar poetas brasileiras contemporâneas que escrevem e que são mulheres também. Acredito que é uma iniciativa muito importante, pois, precisamos buscar igualdade nesse campo da literatura”, comenta a jovem escritora.

Germana também comenta sobre um poema chamado “Oito de março” que viralizou na internet e que ela posta há três anos em suas redes sociais no dia internacional da mulher. “Vi em muitos lugares, até mesmo em manifestação do dia da mulher. A frase “A cada cinco minutos uma mulher apanha” não fui eu que inventei. Na época, eram essas as estatísticas, agora o índice já aumentou. Todo dia 8 de março os homens nos dão feliz dia da mulher com uma flor. Nada contra flores, mas acho que temos questões muito mais importantes para debater”, relata.

 

O poema viralizou nas redes sociais e também apareceu em manifestações do dia da mulher. Foto: Arquivo Germana Zanettini

A estudante do quinto semestre de Biomedicina da UFRGS Luana Boeno, sempre gostou de livros sobre o tema, porém foi com a internet que ficou mais próxima do assunto. “Comecei a curtir uma página no Facebook “Vamos juntas” que publica relatos de situações constrangedoras e a insegurança que as meninas passam no dia a dia. Depois da página conheci o livro de mesmo nome. É um livro que eu gosto e indico para as meninas a autora é a jornalista Babi Souza”, comentou.  O livro teve sua primeira edição em 2016, aborda dados sobre o feminismo e também relatos de mulheres que se uniram por meio do movimento.

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