O Laboratório de Pesquisa DigiLabour, ligado ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unisinos (PPGCOM), receberá financiamento da IT for Change para o desenvolvimento de pesquisa sobre infraestrutura e descentralização de dados, principalmente relacionados com o trabalho em plataformas digitais. O anúncio do financiamento foi oficializado pela Organização Não-Governamental no início de março.
Com sede em Bengaluru, na Índia, a IT for Change busca uma sociedade em que as tecnologias digitais contribuam para os direitos humanos, a justiça social e a equidade. A entidade, que tem status consultivo especial com o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, atua nas áreas de educação, gênero, governança, informática comunitária e políticas de internet/digital.
A pesquisa é realizada pelo coordenador do DigiLabour, professor Rafael Grohmann, e por um dos pesquisadores do laboratório, o mestrando em Comunicação na Unisinos Fabricio Barili. Participa em conjunto Paola Ricaurte Quijano, professora associada de pesquisa na Escola de Humanidades e Educação do Tecnológico de Monterrey, no México. Os pesquisadores estão procurando analisar o papel que as condições sociotécnicas desempenham no estabelecimento de dados comuns voltados para a comunidade. O estudo avalia os cenários tanto no Brasil quanto no México.
O DigiLabour, que nasceu em fevereiro de 2019 apenas como uma newsletter – que conta hoje com 2.500 assinantes –, produz investigações em torno das conexões entre o mundo do trabalho e as tecnologias digitais. Em dois anos de atuação, já entrevistou mais de 100 pesquisadores internacionais. O laboratório lançará em junho um compilado de entrevistas já realizadas. Intitulado Os laboratórios do trabalho digital, o livro terá o carimbo da editora Boitempo. O DigiLabour também mantém parceria com o Nexo Jornal produzindo conteúdos para o projeto Nexo Políticas Públicas.
O Mescla conversou com o professor Rafael Grohmann sobre o DigiLabour e seus projetos, incluindo a repercussão do anúncio de que terá uma de suas pesquisas financiadas pela ONG IT for Change. Confira:
Mescla: O DigiLabour nasceu como uma newsletter?
Grohmann: Sim. Foi em fevereiro de 2019. Em agosto, assumi como professor na Unisinos, e a newsletter seguiu neste mesmo formato, como uma curadoria de conteúdo e uma extensão da ciência. Desde o final de 2020, o DigiLabour passou a atuar oficialmente como um laboratório de pesquisa. Ele é certificado como um grupo de pesquisa pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), e dedica sua atenção às questões de impacto social, internacionalização e de comunicação da ciência.
Mescla: De que forma ocorreu o financiamento da IT for Change para o projeto de pesquisa sobre infraestrutura de dados, data commons e cooperativismo de plataforma no Brasil e no México?
Grohmann: O financiamento vem em conjunto de outros projetos de pesquisa ligados ao laboratório com recursos garantidos. Um deles trata das cooperativas de jornalistas e possui financiamento do CNPq. É a primeira experiência ligada ao cooperativismo na comunicação. Outro projeto com verba aprovada é chamado de Fairwork, que estamos coordenando nacionalmente. Ele tem acordo de cooperação entre Unisinos e a universidade de Oxford, na Inglaterra. É ligado a mais de 12 países e tem entre os objetivos pressionar as plataformas digitais a buscar melhores condições de trabalho. O Fairwork está ligado a políticas públicas e impacto social e quer ajudar a mudar algumas políticas das plataformas no Brasil e no mundo. Com relação à pesquisa sobre infraestrutura de dados, data commons e cooperativismo de plataforma no Brasil e no México, a inscrevemos em um edital do IT for Change. Em dezembro de 2020, foi aprovado o financiamento, e agora, em março de 2021, foi oficializado. O IT for Change representa um pedaço desse mosaico que estamos construindo, com uma série de dimensões e articulações.
Mescla: Quais são suas expectativas para esse projeto?
Grohmann: Propomos um estudo que tenha a ver com o nosso interesse, sobre infraestrutura e economia de dados no Brasil e no México, com fins de descentralizar a cadeia de dados relacionados ao trabalho em plataformas. Entregamos um relatório parcial sobre a infraestrutura no Brasil e no México. A ideia é propor políticas públicas para esses campos nos dois países, que vão além das tecnologias e estruturas comerciais.
Mescla: Como você avalia a importância desse financiamento não somente para os Programas de Pós-graduação (PPGs) da Unisinos, mas também para a Indústria Criativa?
Grohmann: Acho que colocamos tanto os PPGs da universidade quanto a própria Indústria Criativa em um primeiro plano de referência nacional nesses assuntos que o DigiLabour trata, com destaque internacional cada vez maior. Também coloca a Indústria Criativa como um pólo articulador do conhecimento com outras áreas. Isso é o mais bacana. Nos coloca em contato com pessoas de outras áreas. Esse é o futuro da pesquisa e da universidade, em que temos a área da comunicação como uma articulação de diferentes saberes.