“A maioria dos poemas tem motivação
Alguém ou alguma história bonita por trás
Esse poema, coitado, tem não
Surgiu ao acaso como o ódio após a paz”
Esse é um trecho do poema “Inspiração de vida curta”, escrito por Vítor Kochhann. Vitinho, como gosta de ser chamado, tem 19 anos, mas, segundo ele mesmo, está mais próximo dos 83. Cursando atualmente o quarto semestre de Relações Públicas na Unisinos, Vitinho prepara seu primeiro livro solo. É que, na linha do tempo, essa será a quarta obra com poesias suas.
Seu envolvimento com a poesia veio bem cedo, quando Vítor ainda estava aprendendo sobre a beleza das palavras. “Meu interesse pelo desenho das letras, pelos símbolos e pela palavra escrita em si vem desde quando eu era muito pequeno. Meus pais sempre me incentivaram à leitura”, conta Vitinho. Quando criança, lembra ele, enquanto ouvia as histórias lidas por sua mãe e seu pai, se esforçava para aprender a ler e poder, assim, conhecer aquelas histórias por si mesmo.
No segundo ano do Ensino Fundamental, em 2008, a professora organizou um livro de poemas. Ele tinha uma proposta geral, e todo mundo podia participar. “A gente escreveu algumas poesias coletivas com a turma, e eu me apaixonei pela rima”, recorda o estudante. “Vi que dava para se divertir com aquilo que eu já achava interessante, que era a palavra escrita. Escrevi um poema sobre pijamas de uma bruxa e sobre a importância da água. E ali eu me apaixonei pela palavra que virava arte”, revela.
O Gato
Bem legal
Tenta pegar o rato
Mas só procura geral
Quando o gato
Faz miau
Parece dizer
Au
Depois de perceber que as rimas podiam ser uma forma de diversão, Vitinho percebeu que poderia expressar sentimentos e sensações com as palavras, e isso lhe abriu uma nova visão do mundo. Na adolescência, o aspirante a poeta começou a se interessar pela música, especialmente o rap e a cultura do hip hop. Ele se considera um músico frustrado, já que não sabe tocar nenhum instrumento. O amor pela música, no entanto, conseguiu achar vazão nas letras. Passou a escrever e, para buscar mais inspiração, foi a fundo em outras vertentes da música, principalmente a brasileira.
“Inicialmente, eu não tinha muita referência. Escrevia a primeira rima que vinha na cabeça. Ficava muito infantil”, confessa o estudante. Não que fosse uma coisa errada, afinal, a maioria dos artistas começam pelo impulso, depois aprendem a evoluir no próprio estilo. Foi quando encontrou um livro do poeta porto-alegrense Mário Quintana que Vitinho começou a se interessar por estudar a estética poética.
“Tinha uma dedicatória escrita na frente. Achei muito poético”, conta. “Li na biblioteca, de uma vez só. Quando terminei, achei sensacional. Levei para casa e li de novo. A partir dali, comecei a me interessar pela métrica da poesia. Então, minha primeira referência foi e sempre será Mário Quintana”, destaca Vitinho.
Internacionalmente, o livro “O pequeno príncipe” é uma das suas referências de delicadeza. Mas Vítor reconhece que sua influência é 99% nacional. De Gonçalves Dias a Vinícius de Moraes, o fã incondicional do cantor Belchior gosta de se apaixonar pela poesia e pela vida. E nada melhor do que os poetas “de casa” para louvar ou criticar essa vida.
Transformar o sonho em realidade
Depois do primeiro livro — aquele em conjunto com a turma da segunda série —, participou, em 2017, com algumas poesias em “Gritos no silêncio dos esquecidos”, publicado por sua tia, a escritora Jane Lucas. A obra é uma coletânea de poemas, lançado pela Editora Alternativa, de Porto Alegre. Um anos depois, em 2018, participou da “Coletânea Imortais II”, da mesma editora.
Agora, Vitinho está produzindo seu próprio livro, com poemas que escreveu desde os 12 anos. A ideia é terminá-lo até a metade de 2021 e, depois, transformar o sonho em realidade concreta. “Pode anotar!”, enfatiza o poeta. O projeto atual é uma leitura dos acontecimentos que acompanhou a partir do lugar onde mora, um apartamento no terceiro andar de um condomínio popular. É lá que Vitinho se sente mais à vontade para criar, já que, para ele, paz e tranquilidade são indispensáveis. Mas Vítor também gosta de pegar a estrada. Sempre que possível, viaja por aí para conhecer a história das pessoas que encontra pelo caminho.
Vitinho vê poesia nas pessoas. Mas foi só depois de ter seus textos publicados que percebeu onde as rimas podiam chegar. “Ao receber um feedback dos leitores, passei a ver minhas ‘produções’ como isso mesmo, como produtos que podiam ajudar outras pessoas, não só nos momentos difíceis, mas alegrar nos momentos alegres também”, explica. Segundo Vítor, esse foi o grande marco para mudar a sua visão do que era uma produção artística. “Mas acho que o termo ‘artista’ ainda é muita pretensão para mim”, declara, com modéstia.
Para o futuro, Vitinho não tem planos severamente traçados, tanto na carreira profissional quanto no hobby artístico e literário. “Eu sou meio ‘deixa a vida me levar’, mas tem coisas que me interessam”, revela. “Como relações-públicas, um assunto que gosto muito é relações governamentais. Tem tudo a ver com o que estudo e trabalho. É uma coisa que tem impacto social de primeira ordem”, avalia. Já na esfera artística, a ideia é ajudar os outros. “Apesar de amar a música, não sei tocar direito nem mesmo violão! Então, eu vou produzir essa galera talentosa que existe por aí.”
Além de poesia, Vitinho pretende, mais adiante, escrever uma obra literária e desenvolver melhor suas crônicas. Para 2021, o primeiro projeto é a coletânea de poesia. Se der tudo certo — como torcemos —, esperamos ver Vítor por aqui exibindo seus trabalhos.