Mirella Brandi e Muepetmo se conheceram em 2006, a partir de um projeto de multilinguagens chamado OP1. Mirella era artista multimídia e designer de luz, enquanto Muepetmo, cujo nome artístico é um anagrama de “meu tempo” e seu nome verdadeiro é Fabio Villas Boas, atuava como músico, compositor e engenheiro de som. O primeiro trabalho envolvia um corpo em cena, luz, vídeo e música, sem que nenhuma destas linguagens tivesse protagonismo.
O processo criativo foi baseado na optical art (obras baseadas na ilusão de ótica) e na confluência entre luz, imagem, música e corpo. Com o tempo foram retirando alguns elementos de cena, como o corpo e a projeção, até restar apenas luz e som.
“Então, começamos a entender uma outra linguagem, um outro modo de utilizar a luz. Ela deixou de ser uma ferramenta para iluminar e começou a ser compreendida, assim como a música, como uma possibilidade de percepção para as pessoas. – Mirella Brandi
Então, a luz ganhou uma importância maior em suas performances. Assim, vieram outros trabalhos como Transtorno, Outro , Rente e Vampyroteuthis Infernalis. Uma parceria que existe até hoje e rendeu prêmios como o Rumos Itaú Cultural (2006), Rumos Música (2010/2012) e Caixa Cultural (2009), além de estabelecer e reconhecer os artistas estabeleceu no nicho do cinema expandido.
Axioma.8
Axioma significa uma sentença ou proposição que não é provada, mas considerada como óbvia ou como um consenso inicial para a construção e aceitação de uma teoria. Para Mirella e Muep, Axioma é como uma névoa cerebral. Trata-se de verdades inquestionáveis, uma hipótese inicial, ou um princípio.
A performance que mescla elementos de luz e som traz uma complexa composição musical, o trabalho envolve gravações de piano e instrumentos acústicos propositalmente adulterados com vozes processadas digitalmente em tempo real. Uma experiência imersiva cuja narrativa quem cria é o próprio público.
Confira os vídeos:
O jogo de luz emulado pela artista Mirella Brandi constrói um ambiente propício para se imaginar, afinal, a ideia é fazer um deslocamento. Viajar para outro país ou até mesmo um outro planeta. Quem cria o roteiro é o espectador. A trilha sonora desenvolvida por Muep também é crucial para a imersão, com sons que podem remeter a memórias e lugares. Sobre a história criada pelos artistas, eles preferem manter em segredo.
Se a gente contar o início de onde estas cenas aconteceram, de onde veio a composição musical, a gente está direcionando essas pessoas para que elas entendam o show ou espetáculo como a gente entende. Não é o nosso propósito, nosso propósito é deixar elas livres para levar essas histórias para onde elas quiserem. – Mirella Brandi
A gente vive na era da emulação, não? Então, a gente emula sensações com equipamentos originais. Talvez, possamos emular a ideia do que temos como ponto de partida. Mas, você pode ir para qualquer lugar (com a sua compreensão), você pode ir para a china. – Muepetmo
Em Axioma, Mirella e Muep voltaram a usar a projeção em cena, um elemento que esteve em suas primeiras performances, mas ficou de lado por algum tempo. “A gente foi deixando de usar o projetor, porque ele preenchia demais a cena, quando você projeta um vídeo ou um filme, a projeção é carregada de códigos, então, não sobra espaço para outras linguagens”, conta Mirella. A performance de Axioma recupera o projetor, mas o utiliza como fonte de luz.
Um trabalho para ser deslocado
Uma das características de Mirella e Muep é criar projetos não destinados a um espaço específico. Por exemplo, a performance VAMPYROTEUTHIS INFERNALIS, foi exibida ao ar livre, dentro de um bosque, no Sesc Ipiranga, em São Paulo. Este mesmo projeto foi apresentado em uma galeria, na cidade de Berlim.
O espaço em que os projetos são apresentados também influencia na percepção do público. Em uma das exibições de RENTE, o local disponível era muito pequeno. Mirella conta que a situação de estar apertado levou as pessoas a criarem histórias meio sinistras. “Teve um cara que veio falar com a gente, dizendo que tinha entendido a história e se visto naquele barco de refugiados. Ele viu que o barco virou e todo mundo caiu no meio do oceano. Estava escuro. Então, ele ouviu uma criança gritando”, conta a artista. Apesar de esta não ser a história inicial, a performance ocorreu na Europa, onde a situação dos refugiados era muito presente.