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Cai o número de cidades que não tem veículos de informação na região Sul 
"Os dados foram divulgados pelo Atlas da Notícia, um levantamento que contou a participação dos alunos de Jornalismo da Unisinos"
Luísa Bell


Durante o primeiro semestre desse ano, os alunos de Jornal e Reportagem, cadeira ministrada pela professora Taís Seibt, tiveram a experiência de serem voluntários para a produção do Atlas da Notícia, uma iniciativa nacional para mapear o número de veículos produtores de conteúdo jornalístico nas cidades brasileiras.  

A iniciativa em querer colaborar com o levantamento veio da professora, que entrou em contato com a coordenação do curso de Jornalismo, que apoiou a ideia. A ação foi incluída nas atividades da disciplina de Jornal e Reportagem, por ser uma oportunidade de exercitar técnicas de apuração. A participação na produção do Atlas da Notícia também foi aberta como atividade de extensão para outros estudantes interessados, via Instituto de Cultura Digital. 

A dinâmica funcionou da seguinte forma: a coordenação regional do Atlas disponibilizou a lista de municípios “quase desertos”, ou seja, cidades onde, na atualização anterior, tinha apenas um ou dois veículos registrados. Cada aluno tinha que escolher cinco cidades, para checar a existência de veículos jornalísticos, buscando por informações em sites, redes sociais, telefones etc.  

“O objetivo era verificar se esses locais continuavam sendo quase desertos, se tinham virado desertos ou se novos veículos de notícias foram criados. Quando um novo veículo era encontrado, havia um formulário a ser preenchido com dados de cadastro, para atualização no Atlas”, explica Taís. 

Professora Taís Seibt  

(Foto: Arquivo pessoal) 

A origem do Atlas da Notícia

O coordenador de Pesquisa da Região Sul do Atlas da Notícia, Marcelo Fontoura, conta que o projeto nasceu em 2017, a partir de uma ideia de mapear onde estavam os desertos de notícia, já que isso era uma iniciativa que ocorria em outros países, como nos Estados Unidos.  

“Surgiu primeiro como um projeto do Instituto Projor, conhecido por produzir o site jornalístico Observatório da Imprensa. Depois, ele foi apoiado pelo Facebook, que segue até hoje. Desde então, ele vem se expandindo”, ressalta Marcelo. 

Marcelo Fontoura, coordenador de Pesquisa da Região Sul do Atlas da Notícia  

(Foto: Arquivo pessoal) 

Realizar esse mapeamento, segundo Marcelo, é importante para a indústria da comunicação se conhecer melhor, principalmente por dois motivos: “Primeiro, para saber onde é que tem jornalismo, buscando entender qual é o mercado jornalístico no Brasil, quais são as suas características, sua distribuição e suas dificuldades, sendo muito importante em termos de política pública. O outro ponto é a importância de entender onde que ele não está. Quais os lugares que mais demandam jornalismo, justamente porque não tem ninguém lá”, observa o coordenador. 

Uma experiência enriquecedora

Para Eduarda Cidade, 20 anos, moradora de Alvorada, participar do levantamento das regiões quase desertas para o Atlas da Notícia foi uma experiência enriquecedora, principalmente porque a estudante teve contato com veículos do Interior do Estado.  

“Foi muito bacana ver como esses veículos funcionam e ver se eles realmente cumprem o requisito de transmitir informação para a população. A gente descobriu que cada um faz do seu jeito: alguns funcionavam apenas no Facebook, por exemplo, e a comunidade do município interage por lá, já outros eram só impressos mesmo”, avalia a futura jornalista. 

Estudante Eduarda Cidade  

(Foto: Arquivo pessoal) 

Eduarda também contou que a parte mais desafiadora foi conseguir contatos atualizados dos veículos. “Muitas vezes, eu ligava para o número informado e ninguém atendia. Então, eu usei a dica que eu a professora nos passou, de ligar para estabelecimentos que ficassem perto ao endereço do jornal e perguntar se conheciam o veículo e se ainda estava aberto”, explica.  

Já a aluna Laura Santiago, 21 anos, de Porto Alegre, disse que participar da iniciativa foi uma ótima oportunidade para enxergar, na prática, até onde o jornalismo chega e como ele é consumido em diferentes regiões. “Pudemos entender como essa relação com a informação se desconstrói longe dos grandes centros urbanos, ou seja, se afasta do estereótipo de formalidade e inacessibilidade para um jornalismo ainda mais próximo do público, quase como um jornalismo comunitário e cidadão”, ressalta a estudante. 

Aluna Laura Santiago  

(Foto: Arquivo pessoal) 

A professora Taís Seibt relatou que a turma se mobilizou para realizar a tarefa: “Nas avaliações individuais sobre o processo, foi muito presente como a experiência do Atlas despertou o olhar para a importância do jornalismo local e os riscos de se ter desertos de notícias.” A professora sublinha que todos que colaboraram podem se sentir orgulhosos por terem contribuído para o resultado do projeto. “Agora, ele será objeto de vários estudos de profissionais e pesquisadores.” 

A boa notícia que veio da Região Sul  

Os resultados na Região Sul do país foram otimistas, já que o número de “regiões desertas” (aqueles municípios que não têm nenhum veículo jornalístico lá sediado) caiu 8%, representando 44 municípios desérticos a menos do que no levantamento anterior. Essa diminuição segue a tendência identificada em outras edições do Atlas, tanto pelo surgimento de novas iniciativas quanto pelo aprimoramento das metodologias de mapeamento. Outros dois motivos que contribuem para essa redução são: a popularização de veículos digitais e a identificação de mais rádios.

  

Gráfico mostra a diminuição de desertos de notícia  

(Fonte: Atlas da Notícia) 

Outro dado que se destaca é o aumento no número de veículos digitais da Região Sul, que teve agora um salto de 270 veículos frente aos identificados no levantamento anterior. No total, os três Estados somam 1.293 veículos, ou 33%, o que representa exatamente um terço do total do país. 

Ficou curioso e quer ver mais resultados da pesquisa em relação a outros estados ou ao país como um todo? Então, visite o site Atlas da Notícia.  

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