Especial

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Quer entender mais sobre inteligências? O TEDxUnisinos 2023 foi sobre este tema para o palco
"O evento foi marcado por convidados incríveis, histórias pessoais que acabaram abrangendo assuntos mais amplos e universais, indo da importância da meditação na vida de uma pessoa surda até paralelos filosóficos existenciais mostrando que somos feitos de poeira de estrelas"
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(*) Por Gabriele Rech, Luísa Bell e Nícolas Suppelsa

O evento ocorreu no dia 25 de agosto, no Teatro Unisinos em Porto Alegre, e teve como uma das marcas, a representatividade. Rafael Mello (que dá vida à drag queen Sarah Vika), João Becker e Onilia Araújo foram os apresentadores desta edição. A maioria dos speakers eram empreendedores inovadores que superaram e continuam superando adversidades no dia a dia, sendo por questões econômicas ou de preconceito, por serem LGBTs, PCDs, não-brancos ou estarem envelhecendo, por exemplo.

Onilia, João e Rafael (Sarah Vika), da esquerda para a direita (Foto: Marcos Pereira Feijão)

Os speakers tinham 10 minutos para abordar o conceito de “Inteligência”, em suas mais diversas formas e variedades. O público conseguiu descobrir e ter contato com o próprio conceito de inteligência e como ele vai muito além do acúmulo de conhecimento sobre um determinado tema. Foi um evento que, apesar de longo (quase cinco horas) se tornou interessante, divertido e dinâmico, como já é tradição de todas as edições do TEDxUnisinos. Contou, inclusive, com uma atração cultural: o grupo de hip-hop Poetas Vivos. Foi um dos pontos altos da tarde, já que os integrantes trouxeram uma abordagem diferente da cultura periférica, através da declamação de poesias que se assemelharam a recitais, com interpretações potentes e cheias de vida.

MC DaNova, do Poetas Vivos, entregando tudo de si em sua apresentação solo (Foto: Marcos Pereira Feijão)

 Confira a seguir um resumo de tudo o que rolou! 


Rafael Martins  

“Professores são explicadores”. Que relação vocês querem ter com a tecnologia? 

Speaker responsável por iniciar o evento, é CEO e co-fundador da ‘Share’, plataforma de ensino que já formou mais de 25 mil alunos desde 2013. Rafael Martins também é colunista de inovação e tecnologia da Band RS e curador de eventos na área de comunicação. 

Rafael falou sobre como é a relação do ser humano com a inteligência artificial, como ela impacta nosso dia a dia (Foto: Marcos Pereira Feijão) 

O palestrante também trouxe ao palco do TEDxUnisinos a ideia de que como a tecnologia é capaz de nos ajudar a reviver memórias e aproximar as pessoas. Segundo ele, com a ajuda da tecnologia, seu pai conseguiu reviver a época em que ele e a esposa iam aos bailes. E a mãe, ter a possibilidade de ver e falar com a neta, mesmo distante, por conta da tecnologia do vídeo chamada. 


Danielle Cosme 

A historiadora trouxe, em sua fala, o papel do empreendedorismo como uma inteligência importante na construção da sociedade “Nós mulheres empreendedoras, assim como jornalistas e historiadores, somos curiosas, inquietas e queremos mudar o mundo”. Danielle é cofundadora da Ladies in Tech, instituto que tem como objetivo apoiar, fortalecer e fomentar o empreendedorismo feminino no cenário da tecnologia. 

“É no coletivo que a troca é real, que conseguimos crescer”, afirma Danielle (Foto: Marcos Pereira Feijão)

Ela afirma que no Brasil existem vários grupos que mostram esse potencial do coletivo e onde estão as mais de 30 mil mulheres empreendedoras do país. Ela cita alguns, como o grupo Mulheres do Brasil, presidido por Luiza Trajano, do Magazine Luiza e a Associação Empreendedoras Restinga, que tem Roberta Capitão como presidente e se situa na capital gaúcha. Baseado nisso, ela finaliza reafirmando que “o empreendedorismo no Brasil é feminino”. 


Cairê Moreira  

Cairê Moreira foi o terceiro speaker e já de início questionou “Como ser um profissional inovador e disruptivo?”. Cairê Moreira, publicitário, Under 30 2020 e consultor de design 3D. Ela integra o Grupo Lojas Renner e é consultor de inovação, ajudando a construir futuros na área de produto.

O speaker contou um pouco da sua história, de um adolescente que não gostava da escola para um jovem empreendedor. Ele conta que começou a investir em si mesmo ainda no ensino médio, onde se tornou DJ e começou a tocar em algumas matinês. Com o tempo foi se aperfeiçoando, descobriu os anúncios nas redes sociais para se promover online e passou a produzir suas próprias festas.

Cairê trouxe para o palco do TEDxUnisinos a necessidade de sempre inovar, fator que o fez chegar este momento da sua carreira (Foto: Marcos Pereira Feijão)

Mas o destaque veio ao entrar na faculdade, Cairê foi fazendo sua rede de contatos e conseguiu alguns clientes pequenos na área da moda. Seu principal objetivo na área era solucionar as dores dos clientes, com isso foi atrás de entender como as indústrias faziam seus processos de produção, e como as tecnologias que podiam ajudar disso.

Ao encerrar, Cairê comentou que muitos perguntam qual o superpoder dele para ser um profissional inovador e disruptivo. Ele responde que é o seu “espectro autista e déficit de atenção” que o fazem ser assim. Estes são os seus superpoderes. 


Patricia Parenza  

A quarta speaker do evento foi a jornalista e empreendedora no mundo da moda e do audiovisual, Patricia Parenza, que começou a sua fala abordando o tópico do etarismo. Ela trouxe números sobre a população acima dos 50 anos no Brasil e no mundo, segundo dados do IBGE e da ONU.   

Patricia também tocou no assunto de como ser velho ainda ser considerado um coisa ruim no Brasil, se referindo ao constrangimento de muitos em perguntar a idade de alguém. Ela também ressaltou como o etarismo é o único preconceito que todos nós vamos ter com nós mesmos no futuro.   

“Por que uma mulher de 50 anos não pode usar a roupa que quiser, dançar o que quiser?”, questiona a jornalista (Foto: Marcos Pereira Feijão) 

De acordo com a palestrante, a combinação entre machismo e etarismo é muito pior para uma mulher, “pois existe uma pressão social sobre nós” O Brasil, destacou, é o segundo país a fazer mais cirurgias plásticas no mundo, “A pressão que as mulheres começam a sentir a partir dos 40 anos é gigante. Dissociar a beleza da juventude é urgente e necessária”, enfatiza. “Mulher não tem prazo de validade” é isso que Patricia diz falar todos os dias para milhares de mulheres em seu Instagram – cujo seu lema é ‘envelhecer sem pirar’.

Para terminar de um jeito otimista, ela explicou sobre a teoria da “Curva da Felicidade” do professor David Blanchflower que realizou uma pesquisa em 135 países e chegou à seguinte conclusão: a felicidade é uma curva em formato de um U, pois na vida existem dois picos de felicidade. A primeira, disse ela, na infância quando somos otimistas por natureza, começando a descer na adolescência até os 40, quando estamos lidando com as nossas próprias frustrações e buscando nossos objetivos; e então, lá pelos 40 e poucos, voltamos a subir a curva novamente pois entendemos que a gente viveu mais tempo que do que tem de sobra, assim fazemos melhores escolhas e temos urgência em ser feliz.  

Dessa forma, Patricia encerrou com a seguinte frase: “Se a cada 21 segundos uma pessoa completa 50 anos no Brasil, é muito possível que daqui para frente nós vamos ter muito mais pessoas felizes”. 


Cláudio Oliveira  

Apresentado como publicitário de alma e visão empreendedora, trouxe a questão “como sua inteligência tem impactado o mundo”?

Ele cita um caminhão desenhado, nas férias da época escolar, onde “criou sua própria viagem”. E convidou o público a embarcar nesse caminhão e voltar a infância: “quando era criança, o que você queria ser quando crescer?”. Ele queria ser piloto de avião, saber quem desenhava as nuvens, jogador de futebol, ou artista de supermercado que escreve as placas dos preços dos produtos.

Ele conta que acabou virando publicitário, o que o ajudou a entender a sensibilidade do mundo. Por 15 anos trabalhou numa agência em São Paulo. Se dedicou incansavelmente à carreira, até que, quando sua filha nasceu, estava viajando. Aí entendeu a importância da presença na vida das pessoas que se ama.  

Inteligência tem a ver com isso também.  

Fundou uma agência chamada Ponto, focada em gerar impacto positivo nos negócios e na sociedade, a partir dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU.  

“É preciso olhar além do que a gente está vendo (com os olhos)” (Foto: Marcos Pereira Feijão) 

A agência lançou projetos como a Copa dos Refugiados, para gerar inclusão social, e que atravessou as fronteiras no nosso país e impactou milhares de refugiados. Também o programa “+ visão + educação”, inspirado em um menino reprovado 4 anos seguidos em uma série, sendo que os pais e professores não conseguiam perceber que o motivo era porque ele não enxergava 1 metro a sua frente. Esse último envolveu 10 mil crianças no estado e inspirou um estudo inédito sobre o impacto da visão na educação. Foi um grande exemplo de inteligência na área da comunicação. 


Christian Gonzatti  

LGBTfobia na escola, realidade de muitos jovens e adolescente, que causam 5x mais propensão de desenvolver problemas mentais. Este foi o assunto central da palestra de Christian Gonzatti, doutor em comunicação e egresso do curso de Publicidade e Propaganda da Unisinos. Além disso, ele é professor no Instituto Federal Sul-Rio-Grandense e criador do Diversidade Nerd, plataforma especializada em produzir conteúdo sobre questões de gênero, sexualidade e outras diversidades na cultura pop. 

Christian trouxe seu relato pessoal de uma infância e adolescência cercada por bullying e LGBTfobia, período em que ir para escola era um pesadelo e ele queria deixar de viver por causa disso. Valeu a mãe dizer que para ser alguém respeitado tem que estudar, e foi isto que ele fez.  

Christian seguiu o conselho, começou a tirar as maiores notas e virou o maior nerd da escola, e o foco das piadas de mau gosto era esse. Ele então decidiu que “era melhor ser o nerd que todos queriam colar, do que o gay que eles queriam bater”, mas ele não acha que foi esta inteligência que o fez ser quem, e provoca. “Esse período de ensino básico não poderia ser usado para ensinar sobre diversidade e respeito?”.

Christian não teve medo de compartilhar seus sentimentos: “Na adolescência, eu queria deixar de existir. Hoje eu quero viver” (Foto: Marcos Pereira Feijão) 

Foi no ensino médio, enquanto se sentia ainda mais excluído pelo ambiente escolar, que ele descobriu a cultura pop na internet e se viu naqueles personagens, como por exemplo, a Hermione, de Harry Potter, Ariel, de A pequena sereia, e Kurt, de Glee. Com isso, ele identificou que pessoas LGBTs tem a ver um pouco com super-heróis, assim ele se tornou um pesquisador e professor sobre o assunto, e criou a página do Diversidade Nerd.  

Em 2023, esta temática voltou a ser revivida por ele, quando lançou sua 1° HQ, Boy Magya contra o monstro do armário, contada no Mescla. A história traz um super-herói brasileiro, pesquisador, gay afeminado, que não é malhado e usa aplicativos de relacionamento no dia a dia. Para Christian, a arte e a ficção são indissociáveis da natureza humana e graças a isso, hoje, ele não quer deixar de viver, mas sim viver, reviver e resistir. 


Jennifer Cereja  

Jennifer atua na psicologia clínica, é especializada em direitos humanos e saúde coletiva, e aborda uma perspectiva afro centrada junto aos pacientes da Clínica Aliá. Ela também integra o time do Saúde Preta, uma articulação regional direcionada para pessoas negras do campo da saúde, e além disso tudo é mãe.  

Apaixonada pelas emoções, ela abordou a inteligência emocional e começou a falar com um trecho do poema ‘Da calma e do Silêncio’ de Conceição Evaristo – “Quando eu morder a palavra, por favor não me apressem, quero mascar, rasgar entre os dentes, a pele, os ossos, o tutano do verbo. Para assim versejar o âmago das coisas” – que segundo ela passa a ideia de que a escrita deve ser calma e saboreada.  

“Para termos vínculos satisfatórios precisamos de tempo, que hoje em dia não temos. Mas antes disso, que caminhos estamos tomando, para onde estamos indo? Nós somos brutos ou estamos brutos?”, questionou a speaker (Foto: Marcos Pereira Feijão) 

Mas Jennifer também contou que nem sempre foi fácil para ela interpretar poemas e não entendia por que os poetas eram tão ovacionados, até que um dia questionou uma professora sobre, e ela lhe disse então a seguinte frase: “os poetas conseguem transpor sentimentos em palavras”.   

Desse dia em diante a speaker disse ter se apaixonado cada vez mais pela poesia e pelas emoções e ter notado um certo tipo de inteligência nos poetas, “Posso comparar a inteligência emocional, mas não sei se cabe. É uma inteligência que não se explica, que vem de dentro, visceral até.”    

Jennifer também falou sobre vivermos em um mundo em que se preza muito a individualidade, e que com isso afeta as nossas relações que estão se perdendo.  

A palestrante disse preferir acreditar na segunda opção pois quando pensa em um caminho a se seguir, ela traz o conceito de coletividade como uma inovação – “Comportamentos coletivos podem diminuir esse embrutecimento”. Durante o seu encerramento, ela se emocionou ao falar dos seus ancestrais e citar a cultura africana como exemplo de coletivismo: “A cultura africana tem a coletividade como centro da cultura. Estou aqui pra isso, pra divulgar as nossas façanhas, essas sim, que sirvam de modelo à toda terra!”.  


Luiz Sampaio  

“77% das mortes violentas intencionais foram de negros. 68% da massa carcerária no Brasil é composta de homens negros e negras. O que vocês sentem ao se repararem com esses dados?”. Assim iniciou a fala do speaker Luiz Sampaio, fundador do Griô Burger, primeira hamburgueria antirracista do Brasil, com arquitetura e cardápio que homenageiam grandes nomes da história da negritude, como Malcolm X.  

Ele define o local como espaço de luta – não apenas um comércio como qualquer outro, mas um ponto de cultura, congregação dos saberes ancestrais que apontam que a coletividade é mais interessante do que caminhar só. Lá, “a branquidade também é acolhida, mas o foco é que os negros se sintam seguros”. 

“A indiferença é o pior dos sentimentos que podemos ter” (Foto: Marcos Pereira Feijão) 

“Os fatos que apresentei são apenas dados estatísticos ou revelam coisas mais profundas sobre a nossa sociedade? Evidente que não estamos tratando apenas de estatísticas. Para mim, esses dados causam revolta e insatisfação. Não é possível que o Brasil continue repetindo a violência contra a população negra”.  

Ele pede que os brancos que estão assistindo a palestra que assumam a responsabilidade pelos dados que estão sendo tratados. “Todos temos uma parcela de culpa”.  

Afinal, segundo Luiz, quando entendemos que os problemas do país também são compromissos nossos, mudamos a nossa postura e paramos de ficar em uma situação de reclamação, indignação ou privilégios.  

“Me sinto uma pessoa mais feliz porque dentro da minha “pequena grandeza” contribuo para um cenário em que todos nós deveríamos estar”.  


Raquel Kubeo 

Brasil tem 1,7 milhões de pessoas indígenas, o que representava 0,83% da população total do país. Foi assim que Raquel Kubeo abriu sua palestra do TEDxUnisinos 2023. A professora, roteirista e diretora da APTC-RS, ainda completa que este número pode parecer pouco, mas se os colonizadores não tivessem vindo ao Brasil este número seria maior. 

“Na cidade, sigo motivada pela luta dos meus ancestrais, daqueles que vieram antes de mim”, reafirma Raquel (Foto: Marcos Pereira Feijão) 

Nascida em Manaus, ela dedica sua vida a honrar a terra de seus ancestrais, a cidade de São Gabriel da Cachoeira, também conhecida como “Cabeça do Cachorro”, por causa do desenho que conforma o mapa no extremo noroeste do Brasil. Ela reforça que sair do seu território não a faz deixar de ser indígena, não diminui a importância do seu povo. Para Raquel, os povos indígenas lutam contra a agropecuária, monoprodução e a mineração e mesmo não nascendo na aldeia, ela luta por eles. 

Como professora por formação, busca ensinar ao maior número de pessoas a importância do povo e da cultura indígenas. Para que assim as dezenas de povos indígenas aniquilados ou sem terra, nos anos 1980, não se repitam. 


Lisiane Motta  

Lisiane Motta é médica psiquiatra infantil, estudiosa sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e TDAH. Ao longo da sua trajetória profissional, já fez diversas participações em congressos e é terapeuta certificada no Modelo Denver de Intervenção Precoce pelo Mind Institute. A médica utiliza do seu perfil nas redes sociais para mostrar a realidade sobre ser mãe, em especial sobre a maternidade numa perspectiva neuro divergente, e desmistifica algumas ideias em relação a temática.   

A palestrante aproveitou o espaço do TEDxUnisinos para contar sobre os dois AVC’s que teve de enfrentar ano passado e como podemos superar as adversidades, fazendo com que a plateia refletisse sobre como lidam com os imprevistos e as surpresas da vida.   

“Chega um momento na vida em que não adianta ser inteligente, precisa mais do que isso” (Foto: Marcos Pereira Feijão) 

Como ela mesma se define, é uma daquelas pessoas que enxergam o copo meio cheio. Lisiane disse que em nenhum momento pensou que ia morrer, pois não ia fazer nenhum sentido, já que tudo aconteceu enquanto ela estava trabalhando no hospital.  

O único medo dela era de perder seus ‘pensos’ – pensamentos – já que seu trabalho depende disso. Já na segunda vez, relatou que teve algumas sequelas, e disse que para ela a única coisa que poderia ser pior que perder seus ‘pensos’, era a ideia de que os seus filhos pudessem perder a mãe, ou ela os perder.  

Dessa vez Lisiane conta que chegou a fazer testes neuropsicológicos, ou seja, um teste de QI. “Após fazer o teste, eu realmente descobri que não sou tão inteligente quanto minha mãe pensava, mas eu sou boa em compartilhar”.   

Outro tópico tratado por Lisiane durante a palestra foi sobre ter começado a estudar sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), por conta do seu filho mais novo que recebeu o diagnóstico de autismo. “Será que eles realmente são superinteligentes ou só não sabem compartilhar?”, questionou. 


Larissa Bianca Basei 

Trazendo ainda mais representatividade no time de speakers, Larissa Bianca Basei representou a comunidade surda, fazendo a apresentação inteira na língua brasileira de sinais, com tradução simultânea para o português. Ela é graduada em Letras-Libras pela UFSC e professora na ULBRA. Mas a fala foi sobre outro tipo de inteligência, que não a acadêmica.  

Além de professora, Larissa é mentora de meditação. Sua história com a prática começou cedo. Ela não nasceu surda, mas aos 8 meses de idade teve uma otite que ocasionou a condição. Em Rolante, sua cidade natal, não existiam opções de locais para estudo, então foi até Taquara, que possua uma sala especial de surdos. Apesar do espaço aparentemente adequado, sua professora queria que Larissa e seus colegas oralizassem, batendo nas suas mãos e bocas. Então, procurou outra escola, onde encontrou a professora Cláudia, uma pessoa “maravilhosa”. Ficou ali até a adolescência. 

Larissa aceitou participar do TEDxUnisinos para mostrar ao público que os surdos são capazes e podem ter essa troca entre o mundo ouvinte e o surdo. “Precisamos de vocês e vocês precisam da gente” (Foto: Marcos Pereira Feijão) 

Até que, na adolescência, fez um curso de artes em outra escola com uma professora que além das artes, ensinou a meditação para ela. Junto dessa professora, percebeu que as batidas graves de uma música vibravam a água em um copo. Com a concentração, se sentiu como um “balão” e se conseguiu focar seus pensamentos no “nada”. Essa foi a criação de um método que utiliza até hoje. 

Quando a própria decidiu iniciar a ministrar aulas para ajudar outros a se reconectarem com si próprios, apenas 3 pessoas se dispuseram a participar.  

Mas ela não desistiu por isso. “Nós aqui nesse teatro somos iguais, apenas com a diferença linguística. A comunidade surda quer ter acesso à informação, participar”. Um dos métodos que mais utiliza hoje em dia é o Ho’oponopono. “Através do Ho’oponopono, conseguimos nos conectar com a nossa espiritualidade. Espiritualidade não é uma religião, é focada no nosso ser, em autoconhecimento”.  


Mellanie Fontes-Dutra 

Faz sentido separar a razão e emoção? Com esta pergunta que Mellanie Fontes-Dutra abriu sua palestra, completando que tem coisas que são separáveis, mas que comportamentos complexos e traços comportamentais não residem apenas de um lado do nosso cérebro.  

Mallanie é biomédica, neurocientista, professora e embaixadora do Para Mulheres na Ciência, programa da L’Oréal Brasil, Academia Brasileira de Ciências e UNESCO. Além disso, usa suas redes sociais para falar sobre ciência e saúde pública. 

“Recordar como reagimos a algumas situações geram novos modos de analisar para as decisões futuras”, afirma Mellanie (Foto: Marcos Pereira Feijão) 

Segundo a neurocientista, a famosa intuição é o nosso cérebro reconhecendo padrões e nos dando dicas valiosas de como passar por determinadas situações.  

Mellanie explica que nosso sistema cerebral utiliza razão e emoções de forma integrada, por exemplo, o córtex pré-frontal, que está ligado a tomada de decisões e na moderação do comportamento social racional, é usado também em contato com as partes mais emocionais do cérebro. Resultando em um trabalho em equipe feito pelas regiões do cérebro, como uma orquestra.  


Joel Westheimer  

Convidado estrangeiro do TEDx Unisinos, o americano Joel Westheimer é professor e pesquisador da Universidade de Ottawa no Canadá, colunista de educação na “The Canadian Broadcasting Corporation” e um defensor da democracia. Durante seu TED, que foi apresentado em inglês (com tradução simultânea para o português através de um rádio), ele compartilhou ideias sobre: os processos de aprendizagem, os tipos de liderança, e as múltiplas perspectivas de análise e como isso fortalece o sistema democrático.   

Mas o seu tópico principal foi sobre o papel das escolas na formação do pensamento crítico dos alunos. Neste sentido, ele já chegou afirmando que todos nós, que vivemos em uma sociedade democrática, temos algo a dizer sobre como devemos viver. E assim, questionou a plateia. 

“O que escolas em uma sociedade democrática devem ensinar aos seus estudantes, para que eles tenham o conhecimento necessário, para que possam participar em decisões de como devemos viver?”.   

“Escolas devem saber e poder lidar com as paixões de seus professores, dos seus alunos, e a da sua comunidade”, salientou o professor (Foto: Marcos Pereira Feijão) 

Para Joel, o que as escolas não devem fazer é limitar o que um professor pode fazer em uma sala de aula, pois pelos últimos 25 anos, de acordo com relatórios escolares ao redor do mundo, estamos obcecados em repetir o mesmo comportamento, de dar testes padronizados focados em apenas duas áreas: matemática e literatura.  

Ele afirma não ter nenhum problema com padrões, mas sim com a palavra padronização, pois segundo ele “Escolas não são McDonald’s” – pois não produzem sujeitos “padrão”, como os hambúrgueres que são iguais em qualquer lugar.  

De acordo com o palestrante, se as escolas querem que seus alunos se engajem com a democracia e pensem democraticamente, é necessário fazer algumas coisas por eles. 

 “Primeiramente precisamos ensiná-los a fazer perguntas difíceis, a questionar o mundo a sua volta. Em segundo lugar, eles precisam saber lidar com diferentes realidades. E por último, precisamos resgatar o real significado do que é política”, ressalta.   

Para encerrar, Joel citou a frase da filósofa norte-americana Maxine Green: “O propósito da educação é enfrentar o problema, e assim problema será confortável”. 


Roberta Duarte 

“A Taylor Swift é uma estrela. Na verdade, todos nós somos estrelas”. Assim iniciou a fala de Roberta Duarte. A doutoranda em Astrofísica na USP trouxe questões filosóficas e existenciais num clima de empolgação e admiração de quem ama o que faz e estuda, que quase não combinava com a discussão de deixar o cérebro “derretido”. De fato, todos nós somos feitos substancialmente de poeira de estrela, como diz Carl Sagan, um dos cientistas preferidos da speaker. “Uma população 3 de estrelas deu início a tudo – exceto aos elementos hidrogênio e hélio, que são do comecinho, lá do Big Bang –, inclusive a primeira luz que o universo conheceu”. 

“Cada pedacinho de nós nasceu de uma estrela” (Foto: Marcos Pereira Feijão) 

Ela conta que, inclusive, uma das missões principais do famoso telescópio James era descobrir onde estavam as estrelas da população III (as primeiras estrelas formadas na galáxia), para descobrir mais sobre tudo o que conhecemos. Mas até hoje não se sabem muitas informações sobre isso. Para Roberta, todo esse universo e a filosofia por trás do assunto é visivelmente fascinante. Ela pesquisa aspectos de todo o universo, não apenas estrelas, como você pode ver aqui

De um jeito mais leve, a física afirmou que somos parte da história das estrelas, e não só isso, mas inclusive estamos na melhor época da história do universo, a da era das estrelas, onde podemos observar o céu estrelado, e precisamos aproveitar isso da melhor forma (apesar da poluição urbana). Ela finalizou citando a que é, na opinião dela, uma das melhores músicas da cantora Taylor Swift, Stralight. Isso porque há um trecho, logo no início da canção, que diz “And we were dancing, dancing like we’re made of starlight” ou “nós dançávamos como se fôssemos luz de estrelas”. Porque, de fato, somos estrelas, no sentido literal (formados por poeiras de estrelas) e figurado (porque somos importantes da nossa forma).  

Deives Picáz 

Deives Picáz é influenciador, palestrante, ativista e PCD. Usando suas redes sociais para falar sobre capacitismo e deficiência sem tabu, se tornou relevante e inovador na sua temática, recebendo o convite para ser conselheiro da ONU no Brasil. 

Com a pergunta “Com quantas pessoas PCDs você já estudou, trabalhou ou se relacionou no seu dia a dia?”, o influenciador traz a reflexão de como o capacitismo afeta a convivência social para as pessoas com deficiência. “Eu posso listar uma série de competências sobre mim, mas nada adianta se só veem minha deficiência física”, completa. 

“O capacitismo não é só um tema da minha rede social, é o confronto da minha vida”, provoca Deives (Foto: Marcos Pereira Feijão) 

Deives ainda falou sobre ser visto como uma pessoa que só serve para ser motivo de pena e das oportunidades, e que perde por culpa do capacitismo estrutural.  

“Em uma entrevista de emprego, só não ocupei a vaga não por falta de qualidade, mas sim por falta da minha mão.”  

Por fim, Deives contou sobre seu trabalho nas redes sociais “Falo de capacitismo porque é necessário, não porque gosto”. E deixa o questionamento “Quando vou poder deixar de falar da minha dor e falar sobre as coisas que gosto?”, finalizou. 


Paola Troian 

A última palestrante da edição foi a Paola Troian. Cineasta de formação, influencer digital e também chefe de cozinha, o seu Ted talk foi sobre sustentabilidade, e fez um alerta sobre a fome e o desperdício de alimentos.  

Paola conta que foi durante uma aula na faculdade de gastronomia que um rombo se abriu, após ouvir de uma professora a informação de que “mais de um terço de todo alimento que é produzido no mundo vai para o lixo”. Ela disse ter se sentido naquele momento como se estivesse na Matrix escolhendo a pílula vermelha.   

Desconforto, curiosidade e aprendizado, foi o que moveu Paola a querer a entender os processos sistêmicos que fazem parte desse problema. A palestrante apontou que segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), mais da metade dos alimentos se perdem, já no primeiro processo: que é a colheita e a armazenagem; já outra parte se perde no processamento dos alimentos, na parte de transporte, e por fim, nas nossas casas – na forma como consumimos eles.  

Paola questiona: “E se a nossa curiosidade fosse a chave mestra para que possamos reprogramar o mundo que a gente vive?” (Foto: Marcos Pereira Feijão) 

De acordo com a Paola, ver o sistema como ele é nos assusta e nos deixa desconfortável. Por isso ela começou a estudar sobre a questão da alimentação buscando entender por que o processo de alimentação monocultural do nosso país carrega tanto no uso de agrotóxicos, se sabemos que eles fazem mal.  

“O uso de agrotóxicos acaba com os nossos recursos hídricos, mata biomas. O sistema monocultural do Brasil devasta e mata a população originaria.”   

Outro ponto trazido pela palestrante foi a questão do sistema de consumo em que vivemos, “Por que nós produzimos tanto plástico? E por que nós fazemos a escolha desse produto tão descartável, que a gente sabe que demora milhares de anos para se decompor?”.    

Por fim, Paola falou sobre apaziguar a culpa que estava sentido após ‘tomar a pílula vermelha’. “Eu entendi que tá tudo bem não entender tudo de uma vez só, e que é necessário começar pelas pequenas coisas […] Olhar para as nossas projeções sociais e ambientais depende só da gente, e tá tudo bem dar um passinho de formiguinha de cada vez. A gente não precisa ir muito longe muito rápido, a gente precisa ir muito longe no tempo certo, todos juntos, de maneira responsável.” 

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