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Recalculando a rota: de jornalista a internacionalista 
"Conheça a trajetória do jornalista Natan Cauduro, formado pela Unisinos, onde hoje é estudante de relações internacionais "
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Durante a graduação, é comum que os estudantes desenvolvam expectativas e planos para o futuro, mas ao chegar nas etapas finais podem se deparar com dúvidas e anseios sobre suas escolhas profissionais. Esse foi o caso do jornalista Natan Cauduro. Depois de conquistar o primeiro diploma, o egresso da Unisinos viu no curso de Relações Internacionais (R.I) uma oportunidade para, não só expandir seu conhecimento, mas também ampliar seus horizontes no mercado de trabalho. 


“Eu estava entrando no meu último semestre de jornalismo e aí comecei a botar certas coisas na mesa e a pensar o que faria no meu futuro. Porque infelizmente nessa área, gente sabe que a possibilidade de trabalharmos como repórter numa grande redação é relativamente baixa”, explica Natan. Ele se refere à concorrência acirrada, a redução de vagas nas redações jornalísticas, sem falar na exigência de habilidades digitais. Além disso, há ainda a pressão por produzir conteúdo de qualidade em prazos apertados.  

O primeiro trabalho a gente nunca esquece: repórter na Agexcom 


A bagagem como jornalista, no entanto, foi essencial para Natan conquistar uma vaga na ONU, que veremos a seguir. E olha só, a primeira experiência dele no jornalismo foi onde? Como Repórter na Agexcom– Agência Experimental de Comunicação!  Quem já é leitor do Mescla há algum tempo, com certeza se lembra de algumas de suas publicações, como a história do documentário “Pastor Cláudio”, que traz o relato de um ex-agente da repressão sobre os anos de chumbo


Natan, à esquerda, durante a cobertura do TedX Unisinos 2018.



“Estagiar na Agex talvez tenha sido uma das coisas mais inteligentes que eu fiz na minha vida”, garante. Natan descreve a agência como um ambiente de aprendizado muito diferente de qualquer outro tipo de estágio por estar literalmente trabalhando com os seus colegas de aula. “Isso torna o ambiente de trabalho muito mais alegre deixa e muito mais tranquilo. A outra vantagem que a gente tem, é ter nossos professores que admiramos como os nossos chefes”, complementa Natan. 

Além da experiência como repórter, a assessoria de imprensa também faz parte do seu currículo. Na vaga para o Conselho Estadual de Cultura, órgão vinculado à Secretaria de Cultura do Governo do Estado, Natan tinha que “se virar” para fazer tudo o que precisava porque a equipe era pequena. “Não tínhamos exatamente um supervisor de assessoria, então a gente tinha que conversar entre nós e ver o que poderia funcionar ou não”, esclarece.   


Segundo Natan, foi uma boa oportunidade para estimular a criatividade para o trabalho de assessoria. Além disso, ele entende que foi interessante compreender o funcionamento do Estado e suas burocracias, coisas que não funcionam, mas também coisas que são importantes que funcionem de determinada maneira. 

Um formando e três cenários


Os receios sobre o futuro da profissão levaram Natan a desenhar três possíveis cenários para o futuro dele. O primeiro e mais natural era continuar no mercado de trabalho no campo do jornalismo; o segundo, quase um desdobramento, era iniciar um mestrado em Comunicação. E o terceiro, mais radical, era iniciar uma nova graduação. “Uma das coisas que acho que me motivou bastante para entrar em R.I foi justamente alguns descontentamentos com o próprio jornalismo”, revela Natan. A famosa expressão ´jornalista é um especialista em generalidades´ o incomoda profundamente. “Não quer dizer que isso seja uma mentira, mas eu realmente não gosto”, complementa.  


Natan, ao centro, na comemoração dos 15 anos da Agex.
(Foto: Equipe Mescla)



“No trabalho como repórter, de modo geral, o que me incomodava era que apesar de todo treinamento e preparação para fazer uma entrevista e montar uma matéria, eu não fazia a menor ideia do que os meus entrevistados realmente me respondiam”, explica. 


Por fazer textos de diferentes editorias, desde esporte até economia, Natan se sentia incomodado com esse desafio dos jornalistas de escrever sobre um assunto sem um conhecimento aprofundado. A sensação é de que estava quase sempre em dívida com o tema:  não dominava determinado assunto e isso fazia com que se sentisse perdido. “Estou há anos estudando para conseguir montar um texto com hierarquia bem-feita, respeitando o esquema ´o que? Quem? Quando? Onde? Como? Por quê? ´, mas ao mesmo tempo, eu não entendo realmente sobre o que que eu estou falando”. 


Uma das editorias jornalísticas que sempre despertou interesse em Natan foi a de assuntos internacionais. Ele explica que para fazer uma matéria na editoria de internacional é preciso basicamente incluir todas as outras (cultura, esporte, economia, saúde, entre outras), só que com relação a outro país.  


Para produzir uma matéria sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, por exemplo, é preciso entender de política Internacional, geopolítica, cultura e linguagem. Foi exatamente isso que tornou o curso em Relações Internacionais tão atrativo para ele. 

De São Leopoldo para a Coreia do Sul  


Depois de alguns semestres na rotina intensa do curso de RI, surgia mais uma oportunidade única para Natan: a mobilidade acadêmica. Seu interesse pela cultura asiática o levou para a Universidade Dankook, na cidade de Yongin, na Coreia do Sul. Durante a viagem de quatro meses, Natan fez amizade com pessoas diferentes partes do mundo, aperfeiçoou suas habilidades em inglês, mas também aprendeu muito sobre coreano, já que eles falam em inglês.  

“Não tinha um final de semana que eu parasse em casa. Viajava para vários lugares”, relembra Natan.  
(Foto: Arquivo pessoal) 


Natan conta que foi uma experiência muito interessante também porque a noção acadêmica deles de estudo de Ciência Política e a relação de aluno com o professor é muito diferente da que existe no Brasil. Dentro disso, o estudante destacou as diferenças nas visões e noções de mundo e de política que seus professores lá tinham. “Acho que temos (universidade brasileira) o nosso próprio ´jeitinho´ de estudar Ciência Política que ainda me parece mais interessante, mais envolvente, enfim, mais legal”, revela Natan. 


“É enriquecedora a experiência entender como se dá o processo de estudo acadêmico num outro país, numa outra cultura, numa outra universidade”. 
(Foto: Arquivo pessoal) 


De volta ao Brasil


Depois de viver esta experiência no outro lado do mundo, Natan conseguiu uma forma de se manter conectado com assuntos de relevância internacionais. Isso porque hoje é estagiário de comunicação na ONU, mais especificamente no Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (UNODC), com sede em Brasília.  


Este braço da ONU no Brasil é responsável por combater o tráfico de drogas, o crime organizado transnacional e a corrupção. Suas ações incluem prevenção e tratamento de drogas, combate ao tráfico ilícito, enfrentamento do crime organizado e promoção do desenvolvimento sustentável. Além disso, o escritório fornece assistência técnica, promove a cooperação internacional e realiza pesquisas sobre tendências criminais. 


Lembra daquela passagem do Natan pela assessoria de comunicação no Conselho Estadual de Cultura? Segundo ele, esta experiência contou muito durante o processo seletivo para este novo estágio. “Uma das preferências que eles tinham (não que isso fosse uma obrigação) era de contratar pessoas também que já tivesse trabalhando no poder público”.  Sobre o futuro, Natan acredita que o ideal para sua carreira seria conseguir alinhar suas duas graduações, em Jornalismo e Relações Internacionais, mas de qualquer forma não quer se restringir a esta única opção.  


“Prefiro não me limitar a ponto de dizer eu só vou trabalhar com uma área que consiga corroborar com as duas formações, por que de modo geral, para fazer isso, ou eu trabalho com algum tipo de assessoria de imprensa numa empresa que seja multinacional, ou num órgão Internacional, como é o caso da ONU, ou vou ser repórter correspondente”, conclui. 


Como dá para ver, o presente e o horizonte seguem promissores…Nós, do Mescla, ficaremos na torcida, e à espera de novas notícias deste inquieto e curioso egresso do Jornalismo.  

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