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Semana Acadêmica do Jornalismo: diversidade de conteúdo, gerações e muitas histórias de profissionalismo
"Ao longo de uma semana, oito profissionais de diferentes mídias e veículos estiveram presencialmente ou pelo canal do Mescla, debatendo sobre jornalismo"
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Carlos Juliano Barros 

e os desafios do trabalho jornalístico na editoria de Economia 


O primeiro convidado da Semana Acadêmica de Jornalismo, em São Leopoldo, foi o jornalista e mestre em Geografia pela USP Carlos Juliano Barros, que abriu o evento, na segunda-feira (8), com a temática “desafios do trabalho jornalístico na editoria de Economia”. O jornalista é diretor de seis documentários, exibidos e premiados em festivais dentro e fora do país. Ele é colaborador de publicações como BBC Brasil, Folha de São Paulo, Rolling Stone, The Guardian e UOL, além de roteirista e apresentador do Podcast Rádio Batente

Durante a fala para os alunos, o Carlos levantou diversos assuntos. Primeiro, contou um pouco de sua história, ressaltando que sempre teve vocação literária, muito graças a sua mãe, que é professora de Letras. Falou também sobre as experiências no mercado de trabalho. “Em um primeiro momento, me encantei pelo trabalho em revista. Sempre gostei mais das reportagens de fôlego, aquelas maiores”, revela.  

Em sua carreira, Carlos teve passagens pela revista Rolling Stone e Revista do Sesc, em que pode realizar grandes reportagens e viagens por todo o país. 


Carlos contou sua experiência como jornalista e diretor de documentário (Foto: Reprodução YouTube Portal Mescla) 



Por último, falou de sua aproximação com pautas econômicas, principalmente ligadas ao mercado e às relações de trabalho. Esse tema chegou até o jornalista através do mestrado, e é dentro dessa área que produziu documentários importantes, como “Carne e Osso”, de 2011, que retrata violações trabalhistas na área frigorífica, e “GIG – A Uberização do Trabalho”, de 2017, termo que até então não era muito utilizado, mostrando a precarização do trabalho em plataformas digitais. 

Humberto Trezzi

e os riscos envolvidos na investigação jornalística 

Também na segunda-feira, mas no campus de Porto Alegre, o premiado jornalista investigativo Humberto Trezzi destacou, em sua conversa com os alunos, que o nível de dificuldade do fazer investigativo não mudou. Segundo ele, segue sendo necessária muita coragem, ética, habilidade e tempo para se aprofundar em uma investigação. No entanto, Trezzi, que integra o Grupo de Investigação (GDI), de GZH, ressaltou que os aplicativos de mensagens e outros recursos tecnológicos facilitaram bastante o processo de produção e verificação de informações. Essa ajuda foi útil em algumas de suas investigações, como no caso dos acampamentos antidemocráticos que se alastraram pelo Brasil entre outubro de 2022 e janeiro de 2023. 


O jornalista investigativo Humberto Trezzi ao lado da professora Luciana Kraemer (Foto: Laura Santiago) 



O jornalista conseguiu se infiltrar em aplicativos de mensagens nos quais eram organizados esses movimentos, a fim de descobrir quais seriam os próximos passos e quem estaria envolvido. Ele enfatizou que a investigação foi relativamente fácil de ser realizada, uma vez que muitos dos membros deixaram rastros digitais e sequer faziam questão do anonimato. A matéria “Como se organizam e agem os manifestantes que pedem intervenção militar” rendeu ao jornalista o prêmio de melhor reportagem no 3º Prêmio de Jornalismo da Justiça Eleitoral do Rio Grande do Sul. O concurso também premiou um grupo de alunos de Jornalismo da Unisinos, como o Mescla mostrou aqui

Camila Diesel

e a produção de jornalismo cultural no rádio 

No segundo dia, em 9 de maio, a jornalista Camila Diesel compartilhou um pouco da sua trajetória para os alunos. Ela é de Teutônia, no Vale do Taquari. Como atuava como repórter e apresentadora, Camila contou que, muitas vezes, ela mesma chamava as próprias matérias, coisa que não acontece mais hoje em dia. Ela já passou pela rádio Guaíba, Grupo Bandeirantes e Record RS. 

Hoje, é coordenadora de Comunicação na Secretaria de Cultura do Governo do Estado, e tem um canal no YouTube, onde faz um talk show com banda e público. Por enquanto, esse projeto de Camila está paralisado, pois a jornalista está focando em outras faces de sua carreira. Mas Camila não descarta a possibilidade de voltar a produzi-lo. “Faz parte do papel do jornalista buscar assuntos que são importantes, não só populares”. 

Ela destacou ainda a importância de sempre informar o público dos fatos, independentemente do contexto em que se está inserido. Camila contou aos alunos que ela colaborou na inserção de programas com temática cultural na grade da rádio Guaíba, como o “Set Guaíba”, que criou. O programa a ajudou a torná-la uma referência no ramo. Por meio dele, teve a oportunidade de entrevistar grandes nomes da música brasileira, como Erasmo Carlos, Criolo e Vitor Ramil. 

Léo Saballa Jr.

e o telejornalismo diário 

Também no segundo dia, porém no campus de Porto Alegre, Léo Saballa Jr., um dos apresentadores do telejornal Bom Dia Rio Grande, da RBSTV, falou sobre os desafios de preparar e apresentar um noticiário diário e ao vivo. Ele iniciou sua carreira no rádio e, atualmente, é um dos rostos mais conhecidos da televisão gaúcha. Durante a palestra, Léo destacou as mudanças que ocorreram no telejornalismo desde sua primeira passagem pelo Bom Dia Rio Grande, em 2015, principalmente no que diz respeito ao vestuário dos apresentadores. “Antes, havia uma preocupação maior com o estilo formal. Hoje em dia, isso já não é mais tão rígido”, observou. 


“Se gravem, se escutem, se testem”, incentivou Léo Saballa Jr. 
(Foto: Laura Santiago)



O jornalista compartilhou algumas histórias com os estudantes. Léo lembrou de quando teve que apresentar um programa que sequer existia na grade da programação. A ocasião em questão era a chegada do time do Grêmio em Porto Alegre após a conquista da edição da Libertadores, em 2017. “É muito importante sempre estar preparado para os desafios que surgem no telejornalismo”, ressaltou. Léo Saballa Jr. afirmou que é preciso se arriscar e estar aberto para aprender novas habilidades e técnicas, além de se adaptar às mudanças constantes da indústria jornalística.

Elói Zorzetto

e o telejornalismo em rede: o protagonismo do local e do regional 

Elói Zorzetto foi um dos convidados do dia 10 de maio, o terceiro da Semana Acadêmica de Jornalismo. Graduado pela Unisinos no ano de 1984, chegou a estudar, anteriormente, o curso de Direito. O jornalista da RBS TV iniciou sua carreira na editoria de Esporte do Jornal do Almoço. Atuou também na rádio Gaúcha e foi uma das vozes que integrou a primeira equipe da Rádio Atlântida FM. Desde 1988, Elói é editor e apresentador do telejornal RBS Notícias, levado ao ar todas as noites para todo o Estado.  


Elói Zorzetto, à esquerda: “Esse funcionamento de rede nos permite fazer uma cobertura muito precisa, muito ligada a todas as comunidades do Rio Grande do Sul”
(Foto: Reprodução YouTube Portal Mescla) 

 

“Eu nunca sonhei em ser jornalista. Eu sou um jornalista e comunicador por acidente”, revelou Elói. Ele contou que, na adolescência, foi chamado para trabalhar na rádio Veranense, de Veranópolis, cidade situada no Nordeste do Estado, mas negou algumas vezes o convite, até que o diretor insistiu e ele acabou aceitando. Com o tempo, segundo Elói, acabou gostando do trabalho. Aos 17 anos, foi contratado pela RBS. Na época, os apresentadores apenas liam o que os redatores escreviam. “Eu acho que fui o primeiro apresentador a escrever as informações que eram levadas ao ar”, comentou.
 

Elói destacou a importância do jornalismo local e em rede. “Esse funcionamento de rede nos permite fazer uma cobertura muito precisa, muito ligada a todas as comunidades do Rio Grande do Sul”. Ele citou a criação do projeto Painel RBS Notícias, que tem relação com o jornalismo comunitário. “Pensar uma pauta em uma sala, sentado, é uma coisa, mas pensar uma pauta junto com as fontes e ouvindo as pessoas nos próprios locais, é outra. As pessoas se veem na televisão de uma maneira muito mais autêntica”.  

Marcela Donini

com a curadoria e produção jornalística digital 

O jornalismo local enfrenta diversos desafios em um cenário em que a grande mídia domina o mercado. A concorrência com as grandes redes de comunicação pode ser um obstáculo para a sobrevivência dos veículos hiperlocais, que, muitas vezes, não têm a mesma infraestrutura ou o mesmo alcance de audiência. Essas foram algumas questões abordadas pelos estudantes de Jornalismo em uma roda de conversa com a editora-chefe do Grupo Matinal Jornalismo, Marcela Donini.


Para Marcela Donini, as estratégias de distribuição de conteúdo são fundamentais para os veículos de imprensa que não se enquadram como “grande mídia”
(Foto: Laura Santiago)

 

O Matinal não se enquadra naquilo que chamamos de “grande mídia”, afinal, é um veículo exclusivamente online, que conta com cerca de 2.600 assinantes, além de ter pouco tempo de existência. Segundo Marcela, publicações jornalísticas como o Matinal competem com grandes organizações, que possuem mais recursos e alcance, o que pode dificultar a construção de uma base de leitores leais. “Por isso, as estratégias de distribuição de conteúdo se tornam ainda mais fundamentais”, disse a jornalista. No caso do Matinal, a grande responsável por manter financeiramente o grupo é a newsletter, enviada diariamente aos assinantes. “Isso ajuda a traçar um perfil mais definido de quem são nossos leitores, afinal, eles escolheram assinar aquele conteúdo”, disse Marcela. 

Fernando Gomes

e suas quatro décadas de fotojornalismo  

O dia 11 de maio, o último do evento em São Leopoldo, foi marcado pela palestra do repórter fotográfico Fernando Manuel Gomes. O fotojornalista falou sobre seus 44 anos de carreira, abordando as coberturas que já realizou e os tantos perrengues enfrentados nesse período.  

Fernando começou na Zero Hora em 1979 como laboratorista, e logo depois passou a ser repórter fotográfico do jornal. Começou na época em que o mundo era analógico, e a foto também. Tempo em que uma máquina conseguia fotografar até o máximo de 36 poses, em preto e branco, antes de trocar o filme. Foi responsável pela cobertura de imagens de três Copas do Mundo – Itália, França e Brasil – e realizou coberturas presidenciais desde o governo do presidente João Figueiredo. Ao longo da carreira, recebeu diversos prêmios, como o Nikon Photo Contest, de 1984, Nikon (84-85-86), Prêmio da Associação dos repórteres fotográficos de BH e da Associação Riograndense de Imprensa

“Dentro do fotojornalismo, tu não tens uma área, tu fazes de tudo. Uma hora tu podes estar num acidente e, duas horas depois, ser chamado para cobrir uma festa”, explicou para os alunos. 

Por último, comentou sobre as mudanças que ocorreram, ao longo do tempo, no cenário fotojornalístico, tanto no aspecto tecnológico quanto no social. No quesito tecnológico, a mudança do analógico para o digital é a principal. Hoje, não é mais necessário revelar e ampliar fotografias em papel, nem transmiti-las por telefone para a redação do jornal, ação que ocorria em coberturas à distância, um processo que demorava cerca de sete minutos para uma foto preto e branca e 21 minutos para uma colorida, além da necessidade de um arsenal de equipamentos especiais.  

Já no aspecto social, Fernando comentou sobre uma importante mudança que tem deixado esse espaço profissional menos masculino. Segundo ele, hoje, é mais comum ver mulheres fotografando coberturas de esportes. 


Alunos observam fotografias que Fernando Gomes selecionou especialmente para a palestra
(Foto: Beatriz Sallet)



Letícia Costa

e os desafios do início da carreira: “O que eu queria ter descoberto antes” 

O que te motivou a seguir o jornalismo como profissão? Ao longo do curso, já se sentiu perdido? Encontrou uma nova paixão dentro da área? Isso é normal, faz parte do processo. Esse foi o tom da conversa com a convidada Letícia Costa, editora-auxiliar de produção de conteúdo do time de Edição e Distribuição da Gaúcha ZH. Letícia, que é egressa da Unisinos, falou sobre como diferentes possibilidades surgiram para ela ao longo da graduação, como novas portas se abriram.


“Podemos recalcular a rota, seja durante a faculdade ou já durante a carreira”, acredita Letícia Costa, de blazer cinza à esquerda
(Foto: Laura Santiago)

 

Letícia sempre teve o sonho de ser jornalista esportiva, mas, com o passar do tempo, sentiu a necessidade de se desafiar em outras áreas. Ela contou aos estudantes que em determinado momento do curso “enjoou” de fazer pautas sempre ligadas ao futebol, e sentiu que não estava se permitindo aproveitar a pluralidade do jornalismo. Letícia comentou também suas andanças, tendo passado pelas áreas de assistência de conteúdo e assessoria de comunicação da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), da Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul (DPERS), além de ter produzido conteúdo para os canais da Trensurb.

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