As férias chegaram! Junto com elas, surgem vários momentos leves, que são menos frequentes durante o ano – especialmente na época de aula. Pensando nessas ocasiões, em que você estiver de bobeira no quarto, na beira da piscina, em uma rede na casa de praia ou só dando uma volta no parque, espairecendo tudo o que viveu em 2022, preparamos uma lista de indicações de leitura para converter o tédio em novas histórias.
Para isso, reunimos a nossa equipe de reportagem, formada pelas repórteres Laura Santiago, Paola De Bettio e eu, Marília Port. Cada uma de nós deu três dicas de livros que merecem muito uma chance nessas férias. São recentes e antigos, de diferentes gêneros, autores e nacionalidades, mas todos têm algo em comum: a arte de pausar a realidade e viver outras vidas através das suas páginas. Bora conferir?
“A árvore generosa” – indicado por Paola De Bettio
A história é de autoria de Shel Silverstein, o mesmo autor de “A parte que falta”. O livro é muito comovente e sensível. Traz dois personagens: um menino e uma árvore. Eles nutrem uma amizade especial, até o menino crescer e desejar usar a árvore ao longo de várias ocasiões da vida dele, em uma atitude oportunista, interesseira e egoísta. Ainda assim, a árvore é uma verdadeira companheira.
Datado de 1964, o livro fala sobre como nos relacionamos com os outros e com o mundo, e traz também um importante ensinamento sobre a natureza e o meio ambiente, tudo isso de uma maneira afetiva. Além de ter escrito a história, Silverstein produziu as ilustrações.
“De amor e outros demônios” – indicado por Laura Santiago
Escrita pelo colombiano Gabriel Garcia Márquez, a história de época acompanha Sierva María, menina de 12 anos que contrai raiva ao ser mordida por um cão. A narrativa envolvente transita entre os diferentes pecados capitais, cujos horrores afligem o leitor do início ao fim do livro.
Tudo acontece em uma pequena cidade latina de colonização espanhola, marcada por dogmas católicos, onde o que não fosse ao encontro dos ideais da Igreja era considerado bruxaria.
Diante dos sintomas da doença, os pais, pouco presentes, acreditam que a menina esteja possuída. Por isso, enviam Sierva a um convento. A situação piora cada vez mais, quando o padre local se envolve com a menina. Agora, sem mais spoilers! Você vai ficar preso na história e, quem sabe, lerá tudo em um único dia.
“A vida secreta das árvores” – indicado por Marília Port
Esse é um livro de história real. Por ter uma vasta experiência trabalhando em uma reserva ecológica na Alemanha, o engenheiro florestal Peter Wohlleben dedica as páginas a um pouco de tudo o que aprendeu observando as árvores. Cada capítulo apresenta algum aspecto em particular sobre a forma como vivem, em suas diferenças e semelhanças com os humanos, além das suas interações com outras formas de vida.
À primeira vista, a ideia pode parecer limitada à botânica ou outras disciplinas que se debruçam sobre o estudo das plantas. Mas não se engane: somos muito parecidos com elas e, ao mesmo tempo, temos muito a aprender com a existência delas ancorada na ancestralidade. É uma leitura inspiradora e tranquila, sobretudo para a hora de dormir – embalará o seu sono ao caminhar entre as árvores dos distantes bosques alemães.
“Morangos mofados” – indicado por Paola de Bettio
A obra mais famosa de Caio Fernando Abreu é especialmente memorável agora, em 2022, ano em que a casa do autor em Porto Alegre foi derrubada. É um livro de contos, dividido em três partes: “O mofo”, que traz a melancolia e frisa diversos elementos para isso, como cigarro, bebida e natureza; “Os morangos”, em que a descrição ainda prende, mas aparentemente sem tanta tensão negativa; e “Morangos mofados”, que encerra o livro com um conto.
Esse último, apresentado com uma música dos Beatles, “Strawberry fields forever”, remete à saudade. Talvez aí fique clara a mensagem do autor, sobre “enfeitar a amargura”, porque o morango, mesmo doce e com aspecto de refúgio, está/é mofado. “A vida não é um morango”, diz um dito popular. Talvez seja um morango mofado. Além de mostrar como “enfeitar a amargura”, oferece várias sensações sobre a vida na década de 1980, momento de tensões políticas e sociais em grande parte provocadas pela ditadura militar.
“Anjo de quatro patas” – indicado por Laura Santiago
Este livro é, na verdade, a memória da amizade entre um cachorro e seu tutor, o dramaturgo brasileiro Walcyr Carrasco. O texto explora a parceria e os momentos épicos da amizade do autor com Uno, um husky siberiano. O livro faz com que o leitor se sinta parte da história entre os dois; seja nos momentos felizes, nos momentos estranhos ou nos momentos tristes.
De todas as indicações, essa é direcionada especialmente para aqueles que têm cães como seus melhores amigos e se emocionam com histórias de amizade e superação, como “Marley & Eu” e “Sempre ao seu lado”. A gente sabe como vocês se sentem! 😭🐶
“Toda poesia” – indicado por Marília Port
Se você já leu algo escrito por Paulo Leminski, sabe o poder que ele tem. Se não leu, que essa seja a oportunidade que lhe faltava. Artista das palavras, o autor das poesias dispostas nessa obra provoca, diverte e emociona. Entre jogos de palavras, o tempo parece outro: são centenas de páginas que duram minutos, em que cada poesia equivale a um segundo.
Esse compilado também é uma ótima pedida para quem deseja desbravar os horizontes desse gênero literário e experimentar algo novo, com uma leitura rápida e fluida. Além de tudo isso, ler Leminski significa prestigiar os escritos de um dos grandes nomes da literatura brasileira que, mesmo falecido há mais de 30 anos, continua sempre necessário, histórico e atual.
“Melhores poemas Torquato Neto” – indicado por Paola De Bettio
Vem mais poesia por aqui! Esse livro tem seleção e prefácio de Cláudio Portella. Torquato Neto foi poeta, jornalista e compositor. Criou várias letras de músicas para o Tropicalismo, movimento cultural surgido na década de 1960, e trabalhou nos jornais Correio da Manhã e Última Hora, em que, por vezes, escreveu sua coluna em formato de poesia. Também se aventurou pelo cinema. Existe em sua obra uma certa psicodelia consciente e sagacidade para capturar o abstrato da vida. Sua linguagem poética consegue ser assertiva quanto a uma série de sentimentos.
Transitou ainda pelo cinema marginal e pela poesia concreta. A Vitrine Filmes lançou “Torquato Neto – todas as horas do fim”, trazendo a carga poética, a personalidade e vários trabalhos dele. O título do documentário é uma referência ao final de um de seus poemas, que termina assim: “Eu sou como eu sou presente, desferrolhado indecente, feito um pedaço de mim. Eu sou como eu sou, vidente, e vivo tranquilamente, todas as horas do fim”.
“Em nome dos pais” – indicado por Laura Santiago
Confesso que ainda estou nas páginas iniciais deste livro. Nas primeiras impressões, tudo indica que será uma leitura para relembrar, ou, no meu caso, descobrir ainda mais detalhes da dura realidade da ditadura militar vivida por aqueles que se opuseram ao sistema que dominou o país por 21 anos.
O livro foi escrito por Matheus Leitão, jornalista investigativo brasileiro e filho da também jornalista Miriam Leitão. O autor narra a história do período que foi comandado por militares no Brasil a partir da perspectiva de seus pais, perseguidos pelo regime autoritário – foi em meio a esse caos que eles se conheceram.
“A casa torta” – indicado por Marília Port
Algum leitor de suspense por aí? Pois bem, para completar a lista, foi inevitável incluir a rainha do crime: Agatha Christie. A renomada escritora britânica deixou um legado de dezenas de histórias publicadas em livro, adaptadas ao cinema, traduzidas para inúmeros idiomas. O livro que ganhou o lugar nessa lista é de 1949, e acompanha a investigação do assassinato do patriarca octogenário de uma família grande.
O problema é que, nessa casa, todos são suspeitos. Essa leitura, por sinal, eu mesma ainda não concluí – vai ser uma leitura de férias para mim também. Cabe a nós, eu e você, conduzidos pelos detetives da Scotland Yard, desvendar o mistério.