Especial

#antirracista #diversidade #editorial #gênero #inclusificação #jornalismo #levantamento #raça #sexualidade
As vozes que (ainda) não ouvimos
"A segunda edição do levantamento sobre raça e gênero do Mescla evidencia o desafio de promover mais diversidade para a publicação "
Avatar photo


Ilustração de capa: Marcela de Bettio (especial para o Mescla)


Nossa maior meta ainda é reduzir a branquitude no Portal. Esta é uma das conclusões a que se chega após realizar o segundo levantamento que pretende fazer um mapa da representatividade de fontes entrevistadas pelo Portal Mescla em 2021. Se em 2020 o Portal foi 95% branco, em 2021 foi para 91%. É uma redução baixa, mesmo levando em conta o processo de sensibilização que a equipe vem experienciando para tentar garantir maior equilíbrio de visibilidade não branca


Indo diretamente aos números, de abril de 2021 a abril deste ano, foram 150 fontes consultadas pelo Mescla, mais da metade delas em matérias sobre acontecimentos provocados pelos cursos de graduação da Unisinos; E aí vem uma questão necessária de ser levada em conta do ponto de vista metodológico. No ano passado, começamos a enviar um Formulário para as fontes entrevistadas, após a publicação ir ao ar. Ele questiona como a fonte se identifica em relação a raça, gênero e orientação sexual. Das 150 fontes, bem menos do que a metade (46) respondeu ao questionário. A fonte responde voluntariamente, não sendo obrigada a preencher com o e-mail ou mesmo o nome, ou seja, pode escolher ficar totalmente anônima.  O número de respostas que obtivemos (as 46 respondentes) equivale a 30% de todos os entrevistados


Abrimos esses registros, e aqui vão os resultados: 

Desta amostra, cerca de 91% são pessoas brancas. Pretos e pardos somam cerca de 9%. Vale ressaltar uma constatação da edição anterior: como o Mescla é um Portal que traz muitos assuntos ligados à Escola da Indústria Criativa da Universidade, uma universidade particular, sabemos que estamos inseridos em um contexto extremamente privilegiado (e branco).  





Em relação ao gênero, cerca de 61% dos respondentes se declararam mulheres cis e outros 35% homens cis, ou seja, 96% das vozes ouvidas pelo Mescla fazem parte da cisgeneridade. Este é outro desafio que o levantamento mostrou: como escapar do padrão cis. 




Diferentemente da primeira edição, nesta foi incluída uma questão referente à orientação sexual. Neste primeiro levantamento acerca do tema, os autodeclarados bi e homossexuais somaram quase 22%, e o predomínio é de heterossexuais (78,3%).  


No entanto, o Portal considera este um resultado positivo em relação as porcentagens das outras categorias. Ainda mais, como contraposição ao levantamento inédito feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados de 2019, que aponta que apenas 2% da população brasileira se autoidentifica como homo ou bissexual no país. 





Dos 19 aos 82  

Outra questão que as fontes respondem diz respeito à faixa etária. Aqui, o Portal fica contente em saber que escuta pessoas que vão dos 19 aos 82 anos. Pessoas em diferentes etapas da vida, que vai desde aquelas que estão ingressando na universidade até aos experientes sêniores acadêmicos e profissionais da indústria criativa.  


Apesar de os números mostrarem novamente uma realidade não tão diversa como o Portal deseja, continuaremos confrontando com nós mesmos. Como jornalistas, somos inquietos, e a inquietação é chave fundamental como ferramenta de transformação social. 


Uma metodologia que segue sendo aprimorada 

Algumas observações precisam ser feitas para que se possa interpretar melhor os dados encontrados. Como trata-se de um levantamento customizado, ou seja, organizado pelo Mescla sem referência prévia, a metodologia de coleta de dados precisou ser aprimorada. Na primeira edição (referente à 2019 e 2020), as fontes foram classificadas por gênero (homens e mulheres) e raça (brancos, negros ou não identificados). “Não identificados” foi a forma encontrada para resolver a falta desta informação, já que não houve envio de questionário para as fontes. A categorização foi realizada a partir da visualização dos repórteres que conversaram com as fontes presencialmente, via videochamada. (pandemia) ou telefone. Neste sentido as fotos nas redes destas pessoas entrevistadas também ajudaram.  


Dessa forma, a grande mudança neste segundo levantamento, é que em 2021 passou a ser prática interna obrigatória (por parte da reportagem) enviar o formulário para as fontes que ajudaram a construir as matérias, conforme já explicado. Este formulário é um pedido, portanto, nem todas as fontes podem ou querem responder. Ele passou a ser enviado no mês de julho, em 2021. Também conforme já citado, se obteve apenas 46 respostas até este segundo relatório.  


Em 2020 foram contabilizadas 336 fontes ouvidas nas diferentes produções jornalísticas do Mescla e todas elas contaram para o levantamento. Nossos resultados não são positivos, apesar de entendermos que eles mostram apenas uma parcela. Esta é uma construção, um projeto maior do Mescla, por isso, iremos sempre “prestar contas”. Nosso dever e responsabilidade de diversificar e inclusificar nos desafia e exige mudanças.   




Como o Mescla tem utilizado os resultados para aumentar a representatividade  

Em março de 2020, quando a equipe que produz o Portal Mescla parou para refletir e realizar uma autocrítica sobre o nosso papel e responsabilidade como grupo para garantir mais diversidade de raça, gênero e classe em todos os espaços, e como um portal jornalístico, entende-se que se trata de um dever relacionado a um direito humano de lutar por uma sociedade menos discriminatória. Portanto, é preciso manter a coerência com o que se acredita e compartilhar a reflexão sobre as práticas profissionais incluídas na rotina de trabalho do grupo. Naquele momento, começamos a “olhar com lupa” nossas produções, e o foco foram as três principais editorias abastecidas por nós: Por Dentro, Deu Certo e Especial. Os resultados estão aqui


De lá para a cá, foram diversos debates e momentos de autocrítica e planejamento de ações para aumentar as vozes representativas no Portal. Para além do trabalho como sujeitos mediadores da informação, aprendemos muito sobre nosso papel como cidadãos, e continuamos refletindo sobre nossas posições sociais. Como jornalistas, a inquietação não acaba. Entramos em 2021 analisando nosso processo de produção de conteúdo e resolvemos produzir um Levantamento de Raça e Gênero, inspirados pela iniciativa do Grupo Matinal Jornalismo, para que pudéssemos identificar quem eram as fontes escolhidas pelo Mescla para falar sobre os mais diversos assuntos e quem eram os profissionais que convidávamos a “ocupar a cena” do Portal.


Nesse sentido, os números servem para acompanharmos e entendermos como o Portal Mescla tem se relacionado com a diversidade de gênero, étnica e racial em relação às suas fontes. Para transformarmos a percepção em números, e os números em ações que ampliem nosso papel contra a desigualdade social e racial.  


Além de convidarmos à todes para dialogar com o Mescla, nos dando dicas de conteúdos e atividades e apontando quais podem ser nossas falhas, criamos um banco de fontes interno. Além da inclusão de fontes que ampliem a diversidade, estamos pensando em pautas mais inclusivas e qual a melhor forma de trabalhar com elas, visto que o Mescla é feito por pessoas em posições privilegiadas e normativas. Dessa forma, uma espécie de banco de pautas foi também criado. 


Em nossas reuniões de pauta semanais comentamos sobre publicações, eventos, espaços de formação e debates sobre o que tem acontecido ao nosso redor. Além dessas pesquisas e diálogos, a Agexcom – agência na qual o Portal está inserido – tem abraçado este compromisso também. Dessa forma, participamos de uma oficina sobre diversidade na comunicação com a Alteritat e um bate-papo com a professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos, Maria Cláudia Dal’Igna

Conforme escreveu a filósofa, professora, pesquisadora e escritora Djamila Ribeiro, em seu livro “Pequeno Manual Antiracista”, “Fala-se muito em empatia, em colocar-se no lugar do outro, mas empatia é uma construção intelectual, ética e política”. 


Por fim, convidamos a todes a acompanhar nossos próximos passos e a conferir nossos conteúdos do Portal. Toda e qualquer observação é bem-vinda. 



Mais recentes