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“Leiam mulheres negras para descobrir do que se fala quando se usa o termo ‘interseccionalidade’”
"Com perspectiva histórica, a pesquisadora Laura Guimarães Corrêa abordou o protagonismo de intelectuais negras e negros em aula inaugural do PPGCOM da UFRGS"


“O mundo social é constituído nas interações comunicativas, nas relações estabelecidas entre as pessoas. Essas relações se dão, obviamente, entre pessoas e grupos diferentes, e essas diferenças são construídas como hierarquias, que se revelam e se sustentam sob a forma de privilégios, exclusões, silenciamentos, violências físicas e simbólicas, fazendo com que, além de diferentes, sejamos desiguais”. Foi com essa premissa que a Profª. Drª. Laura Guimarães Corrêa iniciou sua fala sobre comunicação, raça e interseccionalidades, durante a Aula Inaugural do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),transmitido pelo YouTube na última quarta-feira (13). 


O evento, que já soma quase 300 visualizações até o momento desta publicação, reuniu professores, estudantes de graduação e pós-graduação, entre demais interessados no debate sobre a temática racial e interseccional, a partir da comunicação. A apresentação foi coordenada pela docente da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da UFRGS Elisa Reinhardt Piedras, que integra a liderança do Grupo de Pesquisa Comunicação e Práticas Culturais da universidade. A seleção das perguntas ao final foi realizada pela discente Valesca Silva de Deus.

Elisa, Laura e Valesca, no momento de apresentação do evento (Foto: Reprodução/YouTube)


A professora Elisa, que coordena o Projeto de Pesquisa “Rumos da pesquisa em publicidade e propaganda: mapeamento da produção acadêmica”, abriu a transmissão com uma reflexão sobre a importância da aula como um lugar para, nas palavras dela, “demarcar uma posição no campo de disputas que é o campo científico”, tudo isso sob a intenção de apontar para políticas alinhadas com os valores defendidos pelo Programa de Pós-Graduação proponete da atividade. Elisa pontuou ainda o orgulho em receber a convidada em um espaço de escuta e debate, a fim de que cada vez mais professores e pesquisadores dedicados a estudos de raça e gênero, como Laura, possam ocupar espaços de visibilização e representatividade no debate e reparação do ambiente universitário.


Laura Guimarães Corrêa é professora associada na UFMG e, desde 2018, líder do Coragem – Grupo de Pesquisa em Comunicação, Raça e Gênero (UFMG/CNPq). Também organizou o livro “Vozes negras em comunicação: mídia, racismos, resistências” (Autêntica, 2019). Em sua fala, Laura conduziu os espectadores por um caminho permeado por questões raciais, frente a inúmeras esferas sociais, simbólicas e comunicativas. Trazendo exemplos de intelectuais negros nacionais e internacionais, abordou desde Lélia Gonzalez, escritora feminista e pioneira nos estudos sobre Cultura Negra no Brasil, até Aimé Césaire, poeta francês que usou o termo “negritude” pela primeira vez, na década de 30, em questionamento à cultura francófona colonizadora, como explicado por Laura. 


A apresentação foi elucidativa também do ponto de vista da história, não apenas para os pesquisadores da comunicação, como para todos aqueles que se propõem a refletir sobre identidade, raça e cultura. A problemática culmina na discussão da interseccionalidade, surgida no fim do século passado, cuja ideia central relaciona as opressões cruzadas, sobretudo sofridas por mulheres negras, indígenas, queer e latinas. Nas palavras de Laura, esse conceito se consolida com a chegada dessas mulheres nos lugares de poder e conhecimento, como universidades e movimentos sociais e políticos. Em 2019, o Instituto Humanitas Unisinos (IHU) reproduziu um artigo sobre interseccionalidade, escrito pela pesquisadora e ativista do feminismo negro no Brasil Carla Akotirene, em alusão aos 30 anos do conceito. 


Laura, que ainda acumula a função de patrona da associação Black British Academics – voltada para a equidade e justiça social no ensino superior – desde 2020, discorreu sobre fenômenos e conceitos pertinentes para entender a estruturação das desigualdades, como a ideologia do branqueamento e o mito da democracia racial, que operam em uma lógica de negação da existência do racismo. “Quem não vê ou não considera raça tende a não ver e não considerar também quando acontece a discriminação, gerando o estranho fenômeno do racismo sem racistas”, explicou a pesquisadora, que atuará como professora visitante na Goldsmiths University of London. Com duração de aproximadamente uma hora e meia, o evento teve dois momentos fundamentas – a fala de Laura, seguida pelas sessão de perguntas coletadas do chat, postadas pelo público que assistia a palestra ao vivo. O evento completo pode ser assistido através do canal do PPGCOM da UFRGS no YouTube.

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