No sábado (2), o Mescla transmitiu, pelo YouTube, o painel intitulado “O Papel da Escola na Educação para as Mídias”, que contou com convidados ligados a diferentes áreas da comunicação, mas que têm em comum a preocupação com os efeitos da informação falsa e da falta de conhecimento sobre a origem das notícias por parte da população. Durante o debate, os especialistas falaram sobre o conturbado momento em que vivemos atualmente na esfera pública, tanto nas redes sociais quanto na mídia tradicional. A avaliação foi que a educação midiática é fundamental para se reduzir a disseminação de desinformação e o conteúdo de ódio, e que os professores, em sala de aula, são parte importante da construção para uma sociedade midiaticamente educada.
O primeiro painelista a falar foi o chefe da seção de Liberdade de Expressão e Segurança de Jornalistas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Guilherme Canela. Ele destacou que os desafios que envolvem a educação midiática em nível global são de várias ordens, incluindo o entendimento computacional. “Entender os códigos da internet, a linguagem binária, os 1’s e 0’s que criam essas coisas positivas, mas também todas essas encrencas, é tão relevante quanto estudar português ou matemática”, sintetizou Canela, que falou de Paris, onde trabalha. Para ele, é importante envolver as crianças nesta ação. “A melhor alternativa é como que a gente faz que as nossas crianças sejam resilientes para entrar em contato com os conteúdos eventualmente nocivos para o seu desenvolvimento biopsicossocial e saibam enfrentar esse processo.” Canela também frisou a importância de um sistema de justiça atuante quando há eventuais danos que possam ocorrer dentro do ambiente online.
“Uma notícia falsa viraliza rapidamente e os desmentidos nunca percorrem todo o caminho de volta”, frisou Clara Becker, cofundadora do programa Redes Cordiais, uma plataforma de capacitação para influenciadores voltada à educação midiática para o enfrentamento das fakenews e do discurso de ódio. O Redes Cordiais propõe que todos revejam o seu papel no ambiente digital utilizando recursos de diferentes áreas do conhecimento. Durante o evento, Becker destacou que os discursos de ódio alimentam notícias falsas e vice-versa. “Essa desordem na informação vai desgastando laços de confiança nas instituições democráticas, e também separa famílias, alunos de professores e, muitas vezes, a sociedade em bolhas, que não querem dialogar entre si”, completa a jornalista.
O último a abrir o painel foi Pedro Moreira, editor-chefe do portal de notícias GZH e coordenador do projeto Fluência em Notícias, que destaca os processos jornalísticos internos visando a transparência para o público. Atualmente, GZH tem o desafio de comunicar-se com as gerações mais novas para fazê-las terem interesse em um conteúdo jornalístico tradicional. Moreira comentou sobre o momento atual na comunicação: ”Há alguns anos, todos os veículos de comunicação são muito atacados, e de vários lados. Esses pontos de ataques e conflitos não vão diminuir; eles vão aumentar e vão continuar aí. O nosso papel é tentar equilibrar um pouco e não estimular o conflito”, completa.
Desafio Nuvem
Os coordenadores do curso de Jornalismo da Unisinos, Débora Lapa Gadret e Micael Behs, estiveram presentes e sublinharam a importância da criação do Núcleo Universitário de Educação para as Mídias (Nuvem), que deu origem ao Desafio Nuvem, programa voltado para o Ensino Básico: “Há cinco anos, fizemos o lançamento do projeto com o objetivo de discutir e promover a crítica da mídia e educação para as mídias, sendo um dos grandes líderes da iniciativa Edelberto Behs, que coordenava o curso anteriormente. Hoje, damos um passo superimportante para ampliar a ideia e fazer uma interlocução relevante com a educação básica”, acentuou Gadret. São coordenadoras do Desafio Nuvem as professoras Taís Seibt e Luciana Kraemer.
A Cônsul para Educação, Cultura e Imprensa do Consulado-Geral em Porto Alegre, Sarah Borenstein, explicou as motivações que levaram a Embaixada e Consulados dos Estados Unidos no Brasil a apoiarem a iniciativa do Desafio Nuvem. “Acreditamos que boa educação e informação de qualidade são cruciais para formar cidadãos conscientes, críticos e engajados. Acreditamos também que esses cidadãos bem informados e críticos estão melhor posicionados para contribuir de forma mais justa e equilibrada com o processo democrático”, disse.
O Desafio Nuvem de Educação Midiática é um programa gratuito de letramento midiático para professores da rede básica de educação do Rio Grande do Sul. O desafio contará com duas oficinas com especialistas do Brasil e do Estados Unidos. Ao final do desafio, os professores participantes enviarão seus projetos para uma banca e dez deles serão selecionados para serem publicados em um e-book.
As inscrições podem ser feitas pela plataforma Eventos Unisinos ou pelo link: bit.ly/desafionuvem até dia 20 de maio. Para mais informações, acesse: nuvem.unisinos.br ou envie um e-mail para nuvem@unisinos.br.