O Núcleo Universitário de Educação para as Mídias (Nuvem) da Unisinos é um coletivo multidisciplinar de professores da Unisinos formado de forma voluntária em 2018. O objetivo do grupo é construir espaços de reflexão sobre o contexto midiático contemporâneo e das políticas públicas de comunicação. Desde então, o grupo tem trabalhado na construção de propostas e ações de educação para as mídias, tais como debates, palestras, cursos de extensão e programas de formação, entre outras.
Neste ano, o Nuvem recebeu apoio da Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil para reconhecer ações de educação midiática nas escolas de educação básica do RS. O projeto chamará “Desafio Nuvem” e vai funcionar assim: serão selecionados 10 projetos de educadores sobre alfabetização midiática e combate à desinformação junto a estudantes do ensino fundamental e médio para publicação de um e-book. Todos os candidatos (professores) participarão de dois workshops de treinamento com especialistas do Brasil e dos Estados Unidos para qualificar o combate à desinformação nas escolas.
De acordo com a coordenadora do projeto, a professora da Unisinos Taís Seibt, a concepção do Desafio Nuvem está alinhada à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que passou a vigorar em 2020. A competência geral nº 5 das diretrizes versa sobre compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética para comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo na vida pessoal e coletiva. Complementarmente, a competência nº 7 destaca a importância de argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis para formular e defender pontos de vista que promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável.
“Trabalhar essas competências em sala de aula exigirá novas habilidades dos professores, e o Desafio Nuvem pode ser um estímulo para isso, pois além de reconhecer experiências inspiradoras irá promover formações online e gratuitas com especialistas do Brasil e dos Estados Unidos”, comenta Taís, que também é uma das fundadoras da Afonte Jornalismo de Dados, iniciativa que já vem desenvolvendo projetos de educação midiática e combate à desinformação no Rio Grande do Sul desde 2019.
Mais detalhes sobre a seleção dos trabalhos e a programação de palestras e cursos do Desafio Nuvem de Educação Midiática serão publicados em março de 2022, quando será lançado o edital para chamada de trabalhos. O projeto foi contemplado no edital anual da Seção Imprensa, Educação e Cultura do Consulado-Geral dos EUA em Porto Alegre.
Educação Midiática no contexto da desinformação
A coordenadora do curso de jornalismo, Débora Gadret, que também integra o coletivo Nuvem, comenta: “Acho que essa é a relevância em um contexto de desinformação, onde circulam muitos conteúdos que a gente, de imediato, às vezes não consegue avaliar por sua veracidade e pela sua credibilidade. Olhar para isso não só uma forma de dizer se aquilo é verídico ou não, se é uma informação que deve ser creditado ou não, mas também de uma forma de fazer uma análise crítica dessa informação. Então, o projeto vem no sentido de tentar dividir com a sociedade, com outros níveis de ensino, aquilo que a gente vem operando dentro da universidade como um conhecimento científico, um conhecimento técnico.”
Para o diretor da Unidade de Graduação e futuro reitor da Unisinos, Pe. Sérgio Eduardo Mariucci, a transformação digital atua sobre a cultura como um propulsor de grandes mudanças e produz significativos impactos nos processos relacionados à educação.“Os grandes avanços da tecnologia podem colaborar para o fortalecimento dos processos de comunicação e o fortalecimento das instituições democráticas. As habilidades relacionadas à boa argumentação, raciocínio lógico, retórica, assim como a constituição de dados e fontes sólidas e confiáveis, bem como a identificação de discursos falaciosos e notícias falsas, são competências fundamentais a serem desenvolvidas nas escolas como forma de combate à desinformação e a expressões de um obscurantismo presente em alguns setores da sociedade, com grave risco para a civilização. Por isso, congratulo os responsáveis por esse projeto e tenho certeza de seu sucesso”, diz Pe. Sérgio.
Sobre o Nuvem
O coletivo Nuvem teve início em 2018, no contexto da desinformação, quando se percebe a necessidade de uma alfabetização midiática para além do ambiente de Graduação. O professor de jornalismo e ex-coordenador do curso aposentado, Edelberto Behs, foi o primeiro coordenador do grupo, que envolve professores da área da Comunicação, Direito, Letras e Pedagogia, que já trabalham com estratégias para se contrapor à disseminação de informações falsas.
No curso de Letras, por exemplo, a questão da divulgação científica foi ressaltada, no Jornalismo, a professora Luciana Kraemer já trabalha com a produção de dados na atividade de Jornalismo Investigativo. O novo currículo do Curso reforça esta importância, com destaque para a checagem de informação, área de expertise da professora Taís Seibt. Os alunos de Pedagogia já realizam essa interlocução através dos estágios, e o curso de Direito oferece um olhar diferenciado sobre as liberdades de informação e expressão.
Por ser uma iniciativa transdisciplinar, com interfaces importantes, adquire caráter de projeto especial e extensionista, afirma uma das coordenadoras do curso de Jornalismo. “Nós temos várias ideias para que isso se torne um “guarda-chuva” de projetos extensionistas, vários deles já existem na universidade.”
Essa será a primeira oportunidade de levar esses conhecimentos para fora da universidade através desse diálogo com os professores da educação básica, o que propicia um ambiente de compartilhamento entre professores de diferentes níveis e atuações.