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Enfoque revela o olhar de crianças e adolescentes
"Tradicional publicação realizada por estudantes da Unisinos traz um encarte composto por fotografias produzidas pelos jovens da Ocupação Renascer"
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O jornal Enfoque, em circulação desde o final da década de 70, é uma produção de alunos matriculados nas disciplinas de Jornalismo Cidadão e Fotojornalismo, este ano coordenadas pelas professoras Sonia Montaño e Beatriz Sallet, respectivamente. 

A primeira edição de 2021 do jornal teve o trabalho centrado na Ocupação Renascer, comunidade de 150 pessoas, localizada no bairro Vicentina, em São Leopoldo (RS). Uma das novidades deste ano foi a realização de uma Oficina de Fotografia para os jovens da Renascer, originada de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura e Relações Internacionais de São Leopoldo (Secult) e a Unisinos. 

A oficina ocorreu no mês de setembro durante a saída de campo feita pelos alunos e professoras para a produção de conteúdos jornalísticos. O objetivo, segundo Beatriz, “Foi levar a cultura e a fotografia como lugar de expressão para aquelas crianças, adolescentes, jovens, que vivem naquela comunidade”. O material que se originou da atividade deu vida ao Enfoquinho, um encarte dentro do jornal Enfoque São Leopoldo, criado para retratar a maneira como as crianças enxergam o lugar onde vivem. 


Os jovens foram muito receptivos com a proposta da Oficina
(Foto: Karolina Kraemer)

A Oficina foi composta por dois momentos: o primeiro, no qual foi trabalhado noções básicas de linguagem fotográfica, e o segundo, quando os 10 integrantes, de 3 a 14 anos, receberam câmeras digitais (Panasonic Lumix) para registrarem seus olhares sobre o ambiente com o qual interagem. “A fotografia vai muito além de tu ter uma câmera na mão e saber a técnica, muito maior do que isso é você entender o para quê: o que é que eu quero fazer? Para quê que eu quero fotografar?” Diz Beatriz.

Professora Beatriz durante a Oficina de Fotografia
(Foto: Adriana Franco)





Para a professora, a maneira como as crianças correram para seus afetos no momento em que pegaram as câmeras, expõe o entendimento delas sobre a fotografia como a criação de uma memória. “Que memórias foram essas que eles escolheram produzir? Justamente a memória dos seus entes queridos”, algo que, de acordo com a professora, reflete, a sua forma, a luta diária daquela comunidade pelo lar através da visão dos jovens, por meio de suas interpretações sobre o que é, para eles, o lar.

A percepção dos estudantes da Unisinos sobre a Oficina 


Essa repórter que vos fala foi uma das fotojornalistas que trabalharam nesta edição do Enfoque e, consequentemente, interagiu com os moradores da comunidade durante a visita à Ocupação. Assim como meus colegas, só tenho boas memórias da experiência, como constata Adriana Franco, aluna do 4º semestre do curso de Fotografia: “Fomos muito bem recebidos e em pouco tempo me senti muito à vontade para conversar com todos.”


O Enfoquinho é composto por fotos originais das crianças
e adolescentes que participaram da Oficina
(Foto: Dandara Toniolo)

“Quando se chega lá, muitos de nós, olhamos para o saneamento básico, para as dificuldades, mas eles [as crianças e adolescentes] não. Eles têm uma visão completamente diferente. É possível aprender a forma com que as crianças enxergam o mundo, a forma como eles enxergam a comunidade e como eles vivem”, aponta Maria Carolina Vargas de Souza, estudante do 2º semestre de Jornalismo, outra das fotojornalistas dessa edição do jornal. E de repente, estudantes da Escola da Indústria Criativa e crianças da comunidade se uniram no mesmo desafio, mas com diferentes olhares sobre aquele espaço. 


Para o olhar da professora Beatriz, Jamile de Oliveira, uma das participantes da oficina, tirou a foto de sua avó melhor que qualquer um dos fotojornalistas. “Ela voou com a câmera e foi fotografar quem? Seus afetos! Sua avó, sua tia, e mostrou as fotos para elas quando prontas. E depois entrega a câmera para que tirem uma foto dela! Eu fiquei muito feliz com isso”, relembra Beatriz.


Abaixo você confere o Making Off do que foi descrito pela professora, mas o produto final apenas no Enfoquinho:


(Foto: Ana Paula de Oliveira)
(Foto: Ana Paula de Oliveira)
(Foto: Ana Paula de Oliveira)

“O Enfoque trouxe uma pauta que mostra e denuncia a realidade daquela comunidade e o Enfoquinho vem para contrapor isso”. reflete Gabriele Soares, fotógrafa do Enfoque do 4º semestre do curso de Jornalismo . Essa ideia de trabalhar o jornalismo como algo que também diz sobre a beleza dos afetos, para além da denúncia social, surpreendeu a todos.


Uma interação inesperada


Durante a Oficina de Fotografia na Ocupação Renascer, pode se dizer que houve um terceiro momento, composto pela interação dos alunos de Fotojornalismo com os oficineiros, algo que não foi idealizado, mas que impactou muitos todos que participaram dele. “Aquilo aconteceu de uma forma muito intuitiva e isso é muito lindo, porque essa é a vida real! É dessas trocas que a vida real é feita, que os aprendizados são feitos”, conta Beatriz.

A participação das crianças na Oficina fez com que elas ficassem mais curiosas sobre aquela arte que estavam aprendendo. Nos fizeram várias perguntas e, no final, os estudantes de fotojornalismo viraram professores, porque era assim que elas nos enxergavam. As crianças e adolescentes, nunca tendo visto uma câmera como as DSLR’s que levamos, naturalmente quiseram experimentar com nossos equipamentos, entrando, outra vez, em contato com algo novo, uma nova possibilidade.


“Teve um menininho, o Dudu [Lucas Eduardo], ele falou que queria ser jornalista quando crescesse, então a gente falou para ele estudar, ir na escola e que, depois, ele iria conseguir estar na Unisinos e eu acho isso muito importante”, revive Maria Carolina, que é complementada por sua colega da disciplina de fotojornalismo Dandara Toniolo, estudante do 7º semestre de Relações Públicas: “No início, quando eu cheguei lá, ele estava falando de ser jogador de futebol, então, a gente conseguiu colocar mais uma ideia na cabeça, trouxe para perto uma coisa que ele, talvez, nunca tivesse pensado”.


Dudu, de máscara laranja, foi motivado
pela oficina a querer ser jornalista
(Foto: Beatriz Sallet)

O Dudu, de oito anos, também teve a oportunidade de se colocar no papel de ensinar. Quando chegou a hora de outras crianças mexerem nas “câmeras dos profes”, encontravam alguma dificuldade, ele ia até elas e mostrava como fazer, demonstrando que realmente tirou algo daquele sábado de primeiras vezes. “O Enfoquinho vai ser um lugar para o trabalho daquelas crianças não ficar perdido”, conclui Gabriele.




A primeira edição do jornal Enfoque na Ocupação Renascer não é única somente pelo ambiente que incorpora como cenário, mas, também, pela voz que dá ao futuro daquela comunidade. “Eu acho que, na verdade, o Enfoquinho é uma grande oportunidade de conhecer a Renascer sem aquele olhar crítico. Tu vai realmente conhecer através das fotos que os jovens tiraram, ver através das lentes deles”, convida Dandara.



Você pode ler a versão digital do Enfoque acessando este link.



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