O campus é o mesmo, mas está diferente. Medição de temperatura na entrada, dispensadores de álcool em gel espalhados pelos corredores. Desde maio, caderno e caneta não são mais as únicas ferramentas obrigatórias do estudante da Unisinos que voltou a frequentar a Unisinos em São Leopoldo e Porto Alegre para aulas práticas. Agora, máscara e face shield são importantes também.
Alunos estão frequentando novamente os laboratórios de seus cursos para recuperar atividades adiadas pelas restrições impostas pela pandemia do coronavírus. O retorno foi iniciado pela universidade há um mês, orientado pelo plano de retomada gradual das atividades presenciais, chamado de Plano de Contingência (PC COVID-19 Unisinos). A liberação veio no momento em que o Governo Estadual decidiu pela migração da bandeira preta para a vermelha, dentro do sistema que regula as restrições de atividades sociais, comerciais e industriais no Rio Grande do Sul.
Diante da nova realidade, muitos cursos da Escola da Indústria Criativa retomaram as aulas práticas em laboratórios. O aprendizado do manuseio de equipamentos e a realização de procedimentos técnicos convivem, agora, com os cuidados com o distanciamento entre pessoas, a lavagem frequente das mãos e o ajuste perfeito das máscaras. Confira, a seguir, algumas atividades que já rolaram nos campi:
Conexão com o curso
Na graduação em Moda, as Atividades Acadêmicas que voltaram a ocorrer com encontros presenciais são as de Ateliê III e V, Laboratório de Modelagem I, III e IV, Fotografia e Pesquisa de Tendências.
A aluna Gabriela Firmino voltou ao campus Porto Alegre em 10 de maio para participar de uma aula de Ateliê V. Para ela, o retorno foi essencial, principalmente depois de tanto tempo assistindo aulas remotas. “Finalmente, tivemos acesso à infraestrutura maravilhosa da Unisinos. Sempre amei estar nos laboratórios e, apesar das limitações da pandemia e dos trajes de proteção, o ‘Lab’ segue sendo um local de conexão com o curso, e acho que hoje até mais do que antes”, afirma Gabriela. A estudante reforçou ainda que professores e laboratoristas têm se esforçado no cuidado e na higiene o tempo inteiro, além de controlar para que o número de pessoas dentro das salas não seja ultrapassado.
“Fiquei com medo, mas a Unisinos está de parabéns com relação às medidas de segurança. Estou indo apenas nas sextas-feiras para a aula de modelagem e, além de mim, apenas outras duas colegas que estão indo”, explica Gabriela, que se dirige à universidade de Uber. “Mas entendo que deve ser complicado para quem precisa pegar ônibus ou trem”, observa.
Energia do presencial
As turmas de Audiovisual e Notícia, do curso de Jornalismo, conheceram o estúdio de São Leopoldo na semana do dia 20/5, guiadas pelo professor Daniel Pedroso, para fazer uma aula de performance de leitura em teleprompter (TP) e orientações para corte de imagens.
Entre os exercícios de leitura no TP e as dicas de uso dos softwares de edição presentes no switcher – a sala de operações de um estúdio –, Daniel destaca a volta do contato presencial com os alunos, depois de quase três semestres se relacionando apenas por via digital.“Alguns estudantes eu só conhecia por videochamada. É uma experiência bem bacana. É claro que temos tomado todos os cuidados, seguindo os protocolos desenvolvidos pela universidade. É muito gratificante ver os alunos de novo, trazendo de volta a ‘energia do presencial’”, diz o professor. Daniel ficou feliz em ver a empolgação dos estudantes com o estúdio e os equipamentos: “É uma troca muito interessante em um momento de isolamento entre as pessoas”.
O aluno Arthur Reckziegel revela que essa foi a sua primeira experiência em um estúdio de TV. “Gostei muito do ambiente, desde ficar na frente das câmeras até trabalhar atrás delas, cuidando da produção. Isso era algo que não me chamava atenção, até eu experienciar na prática”, comenta.
Mais estudantes do curso de Jornalismo já se preparam para colocar o pé na rua. As turmas de Rádio e Notícia devem visitar o estúdio em breve, e a galera de Fotojornalismo organiza uma saída de campo nos bairros Santos Dumont e Rio dos Sinos, onde fará a produção de imagens para a próxima edição do jornal Enfoque São Leopoldo: Região Nordeste.
Teoria e prática alinhadas
Na semana passada, algumas aulas práticas do curso de Fotografia também começaram a ser recuperadas, como a turma de Luz e Estúdio, do professor Maurício Borges de Medeiros.
A aluna Jéssica Brandelero esteve no estúdio fotográfico do campus de Porto Alegre na terça-feira, dia 1º de junho. “Foi uma experiência muito rica em aprendizado. A disciplina exige que teoria e prática estejam alinhadas para conseguirmos absorver os conhecimentos de forma satisfatória”, avalia. Para Maurício, é fundamental que os professores se esforcem um pouco mais nesse momento. “Assim, garantimos que os alunos se sintam confortáveis de retomar algumas atividades acadêmicas práticas.”
Enquanto isso, a turma de Fotografia na Publicidade, da professora Márcia Molina, já aquece os motores para retornar presencialmente nas próximas semanas.
Festival Internacional da Querência Internética
De acordo com o coordenador do curso de Produção Fonográfica, Frank Jorge, os alunos se adaptaram bem às atividades feitas à distância. Arthur Ramos, conhecido como “Tuca”, concorda. “Eu vejo um lado positivo: as produções ‘caseiras’ estão em alta. As aulas remotas fizeram as pessoas conhecerem seus equipamentos de casa”, destaca o estudante. Para ele, ao manusear equipamentos mais simples, os alunos aprenderam a contornar situações, e isso é positivo.
A única atividade que fez os alunos se deslocarem para o campus São Leopoldo foi a realização da sexta edição do Festival Internacional da Querência Internética (a segunda edição em formato online), organizada pela Atividade Acadêmica Projeto II – Festival, comandada por Frank. O festival foi ao ar no final de maio, e os clipes foram gravados ao longo do semestre no Estúdio Sangha, conduzido por Alexandre Birck, o “Alemão”.
Tuca confirmou que se sentiu seguro no estúdio, onde tudo já estava preparado; era só “chegar e gravar”. “O microfone que usei foi esterilizado e ficou dois dias sem ser usado”, conta. Outro aluno, Pedro DuBois de Medeiros, gostou da organização: “Todos critérios de segurança foram seguidos. Bastou uma manhã em estúdio para realizar minha gravação, com o baterista Walter Zanchet e com o Alemão”.
Protocolos internacionais
O curso de Realização Audiovisual (Crav) está no hall dos mais afetados pela pandemia, já que a maior parte do currículo é composta de atividades práticas. A turma de Introdução à Realização Audiovisual, uma das que voltaram ao campus, realizou encontros com poucos alunos, o que permitiu explorar melhor todos os tópicos previstos.
Maurício Borges de Medeiros, também professor do Crav, explica que desde o começo da pandemia, em março do ano passado, o curso se debruça nos estudos e artigos publicados sobre protocolos internacionais e os cuidados necessários para as práticas da área. “Desenvolvemos, em abril de 2020, projeções e maneiras de realizar as práticas, baseados nos protocolos internacionais relativos à fotografia e à cinematografia. Nós auxiliamos também a produzir o protocolo vigente do setor audiovisual e fotográfico gaúcho, que é de responsabilidade da Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos (APTC) e do Sindicato da Indústria Audiovisual (Siav).”
O professor cita que alguns estudos sobre os protocolos internacionais, como o de Bali e o da Espanha, ajudaram a planejar os critérios para a realização de aulas práticas. Para Maurício, foi fundamental desenvolver esses tópicos, porque é muito difícil ensinar saberes práticos de forma remota. “Corre-se o risco do conteúdo se tornar algo praticamente subjetivo”, comenta.
Amanda Flora iniciou a graduação neste ano. Ela se prepara para, em breve, participar das aulas práticas de Introdução à Realização Audiovisual. “É bem complicado estar em um curso que é extremamente prático. Vou chegar em um momento em que basicamente produziremos curtas-metragens, o que torna muito complicado se ainda estivermos vivenciando essa situação de pandemia”, acredita. Amanda diz estar com um pouco de receio com a demora da vacinação, mas ansiosa para poder estar presente em todas as atividades presenciais.
Gianluca Cortinovis não tem dúvida: apesar da situação complicada, as práticas são necessárias. Ela enaltece o esforço da Unisinos em manter o ambiente seguro: “Eu estou feliz que as práticas estão voltando. Aprendo muito com esses encontros. Sei que a universidade e a coordenação estão fazendo o máximo para nós, alunos, aprendermos mesmo com as atuais circunstâncias”.
A coordenadora do curso de Fotografia, Marina Chiapinotto, ministra aulas para Realização Audiovisual também. Em uma delas, a atividade foi também no campus da Capital, para a turma de Projeto Experimental em Fotografia, onde foram usadas as famosas salas dotadas de paredes móveis, localizadas no 8º andar da Torre Educacional, para criar um espaço bem amplo. Durante uma hora, houve revisão de conteúdo e, depois, os estudantes seguiram para a prática nos espaços ao ar livre. Os alunos deveriam escolher um “recorte temático”, aplicando questões técnicas de fotografia.