Nos processos de lavanderia, assim como em toda a cadeia têxtil, empresas têm desenvolvido tecnologias e insumos cada vez mais sustentáveis, buscando diminuir o impacto ambiental, como o uso excessivo de água e agentes químicos dispensados na natureza. Na noite desta quarta-feira, 18 de novembro, o curso de Moda da Unisinos promoveu uma aula aberta da disciplina de Tecnologia Têxtil 2, coordenado pela professora Paula Visoná. O tema foi “Beneficiamento Sustentável pelo Jeans”.
O convidado foi Carlos Eduardo, técnico de lavanderia da Vicunha, localizada em Pinheiros, São Paulo. Ele atua há 16 anos no ramo de lavanderia industrial. Iniciou sua carreira em 2004 na Fama Lavanderia, na cidade de Brusque, em Santa Catarina. Tem ainda passagens por empresas como Lança Perfume, Detox Denim e Criativa Têxtil.
De acordo com Carlos Eduardo, hoje já existem equipamentos modernizados e tecnologias avançadas que conseguem diminuir a necessidade de agentes químicos, do uso da água e da mão de obra direta, dando mais qualidade ao trabalhador e permitindo aumento expressivo de produção e padronização do produto final. “Temos como exemplos os equipamentos a laser, o gerador de ozônio e uma máquina que faz aplicação de nebulização”, comenta.
Carlos Eduardo contou que, antes de surgir e aperfeiçoarem o laser, todos os processos do jeans eram feitos de forma manual, com a ajuda de elementos como lixa e permanganato de potássio – agente oxidante químico na qual em muitos países da Europa já é proibido o seu uso. Ele costuma ser aplicado de com auxílio de uma pistola spray ou por meio de uma esponja ou pincel.
O uso do ozônio
Um recurso que tem sido muito utilizado pelas empresas atualmente é o ozônio – uma molécula constituída por três átomos de oxigênio –, elemento presente na alta atmosfera que protege os organismos vivos na superfície da Terra por meio da prevenção da luz ultravioleta, altamente prejudicial.
“O ozônio pode ser utilizado de três maneiras: no início, para desengomar, no meio, para a oxidação, e no final, na limpeza”, explicou Carlos. O ozônio para uso em lavanderias comerciais, segundo o profissional, teve início nos anos 90, nos Estados Unidos. “Os equipamentos dessas empresas são construídos de aço inoxidável para resistir à corrosão por agentes químicos fortemente alcalinos utilizados na lavagem convencional. Eles são totalmente adaptáveis para a tecnologia do ozônio”, destaca.
O ozônio também oferece benefícios econômicos significativos para os processos de lavagem. O fato de que deve ser usado com água em temperatura ambiente traz economia de energia que seria necessária para aquecer a água no sistema convencional. “Além disso, a capacidade do ozônio para desinfetar e oxidar reduz as quantidades de produtos químicos utilizados convencionalmente”, diz Carlos.
Há ainda outras vantagens. O ozônio reduz o número de ciclos de enxágue necessários, permitindo, assim, que mais roupas possam ser lavadas no mesmo período, reduzindo o tempo de trabalho da equipe. Além disso, menos ciclos de lavagem em temperaturas ambiente refletem em resultados de economia de energia e água, proporcionando uma lavagem de qualidade superior. Adequadamente projetados, instalados e controlados, sistemas de ozônio podem economizar em cerca de 50% os custos de lavagem convencional.
Atenta à apresentação de Carlos, a aluna de Moda Rafaela Godoy, 25 anos, revelou que sempre está ligada ao mundo jeans, ainda mais quando está relacionado ao cuidado com o meio ambiente. “Acredito que sustentabilidade e otimização de processos estarão entre as prioridades da indústria de moda”, comentou.
O jeans e a água
O técnico de lavanderia explicou que o Projeto Pegada Hídrica Vicunha mostrou, pela primeira vez no país, o impacto hídrico no ciclo de vida de uma calça jeans, do plantio do algodão ao consumidor final. “O resultado é um relatório que agora é compartilhado com todo o mercado, indústria e sociedade pela plataforma A Moda Pela Água, que conecta empresas, consumidores e ONGs com o objetivo de unir a cadeia e promover discussões sobre a gestão responsável da água.
A partir da metodologia global Water Footprint Network, o estudo revela um consumo médio de 5.196 litros de água por calça jeans no Brasil. O cálculo foi baseado em três indicadores que, somados, conferem a Pegada Hídrica total: o volume da água da chuva utilizada pelas plantas nos processos agrícolas da cadeia produtiva (Pegada Verde); o consumo advindo das fontes de água doce, das superfícies subterrâneas e que não são devolvidos para as mesmas fontes de captação (Pegada Azul); e o volume de água necessário para a natureza assimilar o efluente devolvido ao meio ambiente (Pegada Cinza). De acordo com o levantamento, o volume total consumido por uma calça jeans corresponde a 41% de água verde, 11% de água azul e 48% de água cinza.
Separado por etapas, revela Carlos, gasta-se o seguinte com água em cada elo da cadeia: 4.247 litros no plantio, 127 litros na tecelagem, 362 litros nas fases de lavanderia e confecção e 460 litros nas lavagens caseiras realizadas pelo consumidor final.
Carlos ainda destaca que a Vicunha, onde trabalha, recicla resíduos de processo e transforma-os novamente em fio de algodão. A empresa é pioneira no uso de casca de castanha de caju como combustível para geração de vapor. Também converte o resíduo final do processo de fiação em combustível para alimentar as caldeiras.