Você tem curiosidade em estudar como os territórios impactam nas diversas atividades comunicacionais? Uma boa oportunidade de se inteirar e aprofundar mais sobre o assunto é assistir a microssérie “Territórios Afetivos da Imagem e do Som”, disponível no canal do projeto no YouTube.
Nos três episódios, que possuem duração aproximada de 15 minutos cada, 12 pesquisadores ligados ao projeto refletem sobre as próprias pesquisas, lembram suas trajetórias acadêmicas e vislumbram o futuro da área em meio aos processos turbulentos dos dias atuais.
Os vídeos são resultado do projeto de pesquisa “Cartografias do Urbano na Cultura Musical e Audiovisual: Som, Imagem, Lugares e Territorialidades em Perspectiva Comparada”, criado em 2013 a partir de edital do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (CAPES/PROCAD). Por trás do estudo estão pesquisadores de três universidades brasileiras. O grupo de professores formou, assim, uma rede brasileira de estudos sobre o universo midiático que circula pelas ambiências digitais.
Território
A microssérie faz um esforço para explicar como a pesquisa teórica na área pode beneficiar o dia a dia de estudantes e pessoas pouco familiarizadas com a temática. Adriana Amaral, professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Unisinos, foi uma das coordenadoras do projeto. Ela cita a pandemia como um dos exemplos mais fáceis para visualizar a proposta do estudo. “Agora, com o isolamento social, temos um problema que tem a ver com o nosso território. Ficamos restritos a um espaço físico menor para nos movermos. Ao mesmo tempo, aumentou o acesso às plataformas de streaming.”
Pode-se dizer que é um projeto que estuda as práticas comunicacionais tanto nas redes quanto nas ruas. “Tem impacto direto em como a sociedade lida com a cultura, com fenômenos de produção cultural, por meio de videoclipes, de mobilizações nesses territórios. E até como lida com o barulho do vizinho”, exemplifica Adriana.
A pesquisa se divide em vários focos, entre música e som, tudo reunido sob a noção de que o território modifica os significados. Os pesquisadores se aprofundaram no cinema nacional contemporâneo, no cinema internacional, nas paisagens ou na música da periferia. Esse é o debate principal do primeiro vídeo da microssérie, que destaca também a importância de se entender a comunicação como um lugar de produção de sentidos, portanto, de invenções.
Para Adriana, é primordial que a comunicação consiga enxergar as imagens e os sons, a música, o cinema e até mesmo a arte como parte parte do território. “Esse é um debate sobre a sociedade e o espaço de todos as pessoas, já que, ocasionalmente, acompanhamos processos de ataque à gêneros musicais populares, como o funk”, explica. No primeiro episódio, os pesquisadores reforçam a chamada de atenção para a quantidade de informação que é debatida, reforçada pela própria música popular brasileira.
No segundo episódio, o debate gira em torno dos comportamentos urbanos e como eles se relacionam com a cultura digital, em que as redes digitais possibilitam o crescimento de comunidades. Nesse ponto, ainda que altamente teórico, o debate acompanha a performance das pessoas nas redes, com enfoque nos indivíduos pesquisados pelos envolvidos no projeto, e as imagens que se tornam virais, com um significado criado pela própria imagem. Além disso, os pesquisadores também trabalham com ativismos de fãs, imagem e sexualidade, e vários elementos que se relacionam com imagens vistas todos os dias pela sociedade.
Questões como cancelamento, retratação pública, readaptação de performance e cyberbullying são alguns dos desdobramentos que implicam interesse para fora da academia. “Os memes, as imagens virais, o ressignificado de imagens por fãs ou internautas são assuntos que acabam se relacionando com a pesquisa, e é essa troca que os pesquisadores comentam no segundo curta”, detalha a professora Adriana.
No episódio 3, a cultura pop assume a frente da discussão, já que, apesar da premissa de ser global, sofre marcação do território onde é produzida ou consumida. “Um exemplo são os videoclipes de funk que conquistaram o mundo a partir de cantoras nacionais, como Anitta e Ludmilla, que são rotulados como periféricos, mas saem desse território”, sublinha Adriana. Nessa discussão, os pesquisadores misturam globalização e desigualdade com o avanço do cenário musical nas redes.
O projeto
A pesquisa, que chegou ao fim em 2020, analisa o cenário político e cultural que mudou radicalmente nos sete anos de duração do projeto, e trespassa as informações do contexto com o conhecimento produzido pelos 12 pesquisadores associados. Além da Unisinos, participam a Universidade Federal Fluminense (UFF), com a coordenação de Simone Pereira de Sá, e a Universidade Federal de Pernambuco (UFP), com coordenação de Jeder Janotti Junior.
Além da microssérie, as trocas de conhecimento e os cursos promovidos pelo grupo de pesquisa ganharam os espaços acadêmicos por meio de outros materiais. “Produzimos várias publicações, capítulos de livros, e agora vão sair dois e-books pela editora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que não participou da pesquisa, mas veio ajudar na questão dos livros”, conta Adriana. Será lançado até o final do ano um documentário em versão extendida, além de um episódio no podcast Diva Pop. O projeto promoveu ainda um seminário, cujas mesas estão todas disponíveis no Facebook.
Segundo Adriana, houve o cuidado da produção ir além da entrega acadêmica tradicional, que são os capítulos dos livros e artigos. “A gente queria ter um pé muito forte nessa questão dos produtos midiáticos, na popularização da ciência. Fazer circular esses materiais”, enfatiza a pesquisadora.