O Esquinas – Ciclo de Debates é um projeto do Jornal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), que traz periodicamente, agora via live, discussões sobre as mais variadas temáticas. Na terça-feira (29), o evento tratou sobre “Jornalismo e Atualidade”. Professor do curso de Jornalismo na Unisinos e editor chefe do Jornal da Universidade na UFRGS, Everton Cardoso foi o mediador desse debate.
O convidado foi José Roberto de Toledo, que reúne um currículo amplo. Toledo é ex-presidente da Abraji, precursor do jornalismo de dados no Brasil, colunista e editor na revista Piauí, editor executivo , debatedor do Foro de Teresina, podcast da Piauí. O jornalista ainda apresenta o Luz no Fim da Quarentena, um podcast que trata dos assuntos que estão em alta durante a pandemia da Covid-19. Bastante ativo nas redes sociais, principalmente na sua conta no twitter, o jornalista comenta que os podcast são uma ferramenta eficaz para se relacionar com o público jovem, que não espera mais pelo impresso.
Uma referência no jornalismo de profundidade, Toledo respondeu perguntas durante a live e fez uma série de comentários sobre o momento que o jornalismo vive hoje. “Quando eu era jovem, havia debater na TV aberta. Alguns eram bem improvisados. Mas acho que nós retrocedemos nesse setor”, diz ele. Um dos problemas, segundo o jornalista, é que a mídia deixou de ouvir cientistas, epidemiologistas, para focar na declaração de autoridades políticas, atrasando a informação. “É preciso dar voz à ciência.” Este seria um das lacunas que motivou a criação do Luz no Fim da Quarentena, um programa mais simples, menos complexo de editar, e focado em descomplicar as novidades científicas ligadas à Covid.
O jornalismo declaratório foi outra questão pontuada por ele. “Isso não é jornalismo. Tanto que no momento os políticos perceberam que não precisavam mais de nós, deixaram na mão e criaram seus próprios canais”, salienta José Roberto. Essa possibilidade de comunicação na mão de todas as pessoas, segundo o jornalista, transformou o problema de escassez no problema da inundação de informação imediata.
Nunca fomos tão lidos e tão mal pagos
“Quando comecei, os jornalistas tinham o monopólio da informação. Hoje dia qualquer pessoa com um celular e uma conta se torna cinegrafista”, comenta o jornalista de 54 anos. “Isso tem aspectos positivos. Mas um dos negativos é que o financiamento via publicidade está se esgotando rapidamente. Nunca fomos tão vistos, tão lidos e ouvidos, e nunca fomos tão mal pagos.”
Essa falta de publicidade gera o que chamamos de deserto de notícias, que é o fechamento de redações, gerando cidades sem nenhum tipo de veículo de comunicação. Como a migração para o meio digital é uma das possibilidades, José Roberto alerta para os perigos de se trabalhar tendo em vista apenas a instantaneidade da rede. “A prioridade é contar boas histórias, mas é preciso se adequar. As matérias acabam sendo menores e apuradas mais rapidamente.”
A internet trouxe um nível de feedback que não era possível antes, por isso, o aspecto positivo é o fato do jornalismo ser provocado a sair da bolha, ou seja, deixar de escrever pensando principalmente nos outros . “A gente tem mais chance de não falar só com uma bolha, graças a esse feedback amplo. Mas se só der o que o leitor quer, vai ficar na média. E na média não é bom.”
Para os novos jornalistas, José Roberto de Toledo recuperou dicas básicas que sempre funcionam: ouvir muitas fontes para se aproximar da verdade, ter matérias que fogem do agendamento e ter uma boa relação com as fontes. Segundo ele, nunca antes tivemos tantos dados e informações disponíveis para se trabalhar e fazer um bom jornalismo.