O ano é 2018 e Elisa Brum era formanda no Ensino Médio Técnico. No final daqueles 12 meses, ela não apenas estaria se preparando para a faculdade, como, também, carregaria o diploma de Técnica em Eventos pelo Instituto Federal Sul-Riograndense (IFSul). Uma das atividades mais esperadas pelos alunos do curso é a saída de campo para Minas Gerais e Rio de Janeiro. É nessa viagem que os alunos veem a profissão na prática. Elisa estava lá como uma futura técnica em eventos, mas outra profissional também começava a aparecer dentro dela. Nesse momento, mesmo ela não percebendo, nascia a Livreta.
Como forma de avaliação, os estudantes precisavam entregar, ao fim da viagem, um caderno de campo. Elisa fez um artesanal para ela mesmo, o que acabou chamando a atenção de alguns colegas, que também se interessaram pelo produto. Aquilo passou a ser um hobby. Depois, cresceu e alcançou pessoas de fora do círculo de amizade dela. “A Livreta, que é uma papelaria artesanal, se tornou mais do que um passatempo e até me influenciou, inclusive, na escolha da graduação”, conta.
Hoje, ela está no terceiro semestre de Publicidade e Propaganda, curso escolhido para auxiliar no processo artístico dela e de criação na Livreta. Nada mais do que natural, já que o “ser artista”, conforme lembra Elisa, estava dentro dela desde criança. Nessa época, a pequena era incentivada a desenhar. Durante o Ensino Fundamental, experimentou a flauta transversal. A mãe bordava e o pai desenhava. Elisa recorda que ambos sempre deram recursos para ela e a irmã, principalmente na área das artes. Só alguns anos mais tarde, quando participou do Encontro de Arte, Cultura e Cidadania, que Elisa se reconheceu. Ela inscreveu um de seus desenhos no evento e foi selecionada para expô-lo. Lá, o crachá de identificação mostrou à Elisa o que viria a ser uma de suas grandes habilidades: artista.
Foi, também, nesse período que ela desistiu de prestar vestibular para Medicina e começou a olhar para os cursos da Escola da Indústria Criativa. “Eu sempre atuei na comunicação dos eventos no IFSul. Foi ali que o interesse despertou em mim”, comenta Elisa. No curso de PP, ela tem desenvolvido a criatividade e até mudou alguns detalhes da Livreta.
Durante a quarentena forçada pela pandemia de Covid-19, outro lado artístico de Elisa despertou. Ela começou a fazer ilustrações digitais e divulgar nas redes sociais. Às vezes, ela sofre com bloqueios criativos, mas sempre tenta trabalhar neles: “Eu penso no que tá me bloqueando e coloco no papel, em desenho ou palavras, mesmo que fique ruim”, explica.
A arte influenciou Elisa no crescimento pessoal e, também, no empoderamento feminino. “Consigo me expressar muito pela arte, me abro pras pessoas, porque pessoalmente sou tímida”, conta. Algo que surpreendeu a artista foi sobre o quanto a forma com que se expressa atinge as pessoas positivamente. “Falam para mim que gostam do meu trabalho e que eu sou uma artista incrível. Eu não esperava tamanho reconhecimento”, confessa.
A Elisa artista e estudante dividem o mesmo espaço de criação. A mesa do quarto é cheia de desenhos e cadernos. Para se organizar, ela precisar tirar as ilustrações do local para conseguir focar na aula. A artista e a estudante se entrelaçam, e uma auxilia a outra no processo criativo.
O maior retorno de Elisa é a troca com as outras pessoas. “É a experiência de criar algo, de se colocar no lugar do outro e ver o que quer. Eu me dedico ao máximo”, explica. Através da Livreta e das ilustrações, ela fez amizades. É possível perceber, apenas ao ouvir a artista falar sobre o que faz, o quanto aquilo se tornou uma parte importante da personalidade e da vida dela. A artista inquieta não esperava que um projeto inocente do Ensino Médio tomasse proporções tão grandes, mas foi por meio dele que a Elisa de 2018 se transformou na artista de 2020.