Consumir conteúdos culturais é parte da rotina de todos os alunos de Comunicação Social, seja por causa do trabalho ou por puro prazer. Talvez, o que não faça parte da rotina é pensar que, além de espectadores e leitores, tem também gente que produz arte e está logo ali, sentado do seu lado, na sala de aula.
No primeiro texto da série #nossostalentos, vamos conhecer melhor a cantora gospel que escolheu Relações Públicas e tenta aliar as duas vocações.
A relação com a música
Relações Públicas e música. À primeira vista, parece não combinar, mas quando Raquel Lemos conheceu o curso, viu nele uma ótima oportunidade. E se pudesse juntar a paixão por cantar com uma faculdade que lhe ajudasse a trabalhar com outros músicos ou com sua própria carreira? Foi dessa maneira que o curso de RP entrou na sua vida. Agora, quase no quinto semestre, ela tem certeza que é possível mesclar suas duas aspirações.
“Eu sempre amei música e gostaria de fazer algo relacionado a isso”, relembra Raquel. “Ao conhecer o curso de Relações Públicas, percebi que poderia linká-lo com diversas áreas, inclusive com a música.”
Como a maioria das pessoas que se aventura por Comunicação, Raquel descobriu que várias áreas estão intercaladas. “O curso engloba todo um lado artístico com disciplinas de fotografia, desenvolvimento de projetos, apresentações e muitas oportunidades de aprender a se desinibir”, comenta.
A estudante de 32 anos começou cedo a vida musical: lá pelos 7. Desde os 2 aninhos, quando mal tinha começado a falar, Raquel já emendava as primeiras notas. O apoio da família foi essencial para ela continuar se desenvolvendo, com o talento guiado pela família, pelo coração e pela música gospel, que hoje se insere numa indústria importante do entretenimento.
O estilo se originou no blues norte-americano. O nome se traduz como “evangelho”. As letras falam sobre o amor de Deus e a adoração dos fiéis. O estilo tem alcance mundial e também é bastante explorado aqui no Brasil, onde já ganhou novos acordes como os do sertanejo, do rock e até do funk.
A Associação de Empresas e Profissionais Evangélicos (Abrepe) estimava que em 2018 a música gospel correspondia a 20% do mercado fonográfico brasileiro, com movimentações em torno de R$ 2 bilhões por ano. É um mercado que envolve cerca de 4,5 mil cantores e bandas no país, e que ganhou ainda mais adesão durante a pandemia. Plataformas virtuais de música, como o Spotify, indicam que o Brasil teve um crescimento de 44% no número de ouvintes do gênero, que no ano passado perdia apenas para a música sertaneja.
“Toda a minha família é envolvida com a música”, conta a estudante. “Na família do meu pai, todos tocam e cantam. Não profissionalmente, mas todos têm envolvimento. Desde cedo recebi essa influência.”
Com instrumentos em casa, os pais, as irmãs e o irmão cantando na igreja, não foi surpresa Raquel seguir os mesmos passos. Começou com aulas de flauta doce, algumas aulas de piano e, na adolescência, veio o violão e o interesse pela guitarra. Os primeiros acordes de violão foram ensinados pelo irmão mais velho, Daniel.
O que sempre foi uma das prioridades é o canto. O primeiro evento grande de que participou soltando a voz foi um festival infantil na igreja. Raquel abriu as apresentações cantando uma música autoral do maestro local Sílvio Costa, que já havia sido seu professor nas lições de flauta.
“Eu ficava muito nervosa, com vergonha, mas quando começava a cantar, fluía naturalmente”, diz Raquel, feliz pelas lembranças. “Outro evento marcante foi em 2004, em um festival gospel, em Sapucaia. Minha irmã me inscreveu e eu ganhei o primeiro lugar.”
O primeiro prêmio, além de ajudar na confiança da pequena cantora, abriu portas que ela não esperava. “Participei de alguns grupos de canto, depois fui vocalista de uma banda gospel e, com ela, chegamos a participar de alguns eventos. Hoje, eu continuo cantando na igreja.”
Raquel chegou a cursar um semestre de Técnico em Música na Faculdade EST, em São Leopoldo, mas teve que trancar o curso por dificuldades financeiras e de deslocamento. “Mas pretendo concluir um dia”, garante ela. Na Unisinos, mais tarde, teve a oportunidade de fazer duas disciplinas optativas do curso de Produção Fonográfica: Teoria Musical e Harmonia, uma possibilidade de incluir novos conhecimentos e experiências ao currículo.
Depois que a banda a qual pertencia acabou e os membros foram em busca dos próprios objetivos, a música seguiu sendo mais do que um hobby para Raquel, mas ainda longe de uma profissão. “Busco sempre me aperfeiçoar, porque é algo que faz parte de mim. Que me faz bem. Acho que a música aproxima as pessoas. Embora nem todos gostem do mesmo estilo, ela proporciona bons momentos e troca de experiências. A música é ampla.”
Para alcançar todos os corações, Raquel gosta de cantar com os amigos e a família, aliados principalmente à fé. “Deus é a minha inspiração, por isso canto músicas que falam do amor de Deus. Eu acredito que elas transmitem paz e amor aos corações. Quando cantamos, o ambiente fica mais leve.”
Outro hobby que Raquel transformou em paixão foi a culinária. No tempo livre, prepara receitas novas e se dedica ao que chama de “arte da cozinha”. “Eu sempre digo que a música e a culinária são terapias”, acredita. A arte da cozinha também se estende ao preparo de chimarrão, sempre elaborados. “Eu faço tudo com muita dedicação, porque me identifico com a profissão e percebo essas características nos colegas da área.”
Para o futuro, a estudante pretende se formar e trabalhar, se dedicando à música em paralelo. Mesmo durante o isolamento social causado pelo coronavírus, ela segue trabalhando como secretária. Já atua há 15 anos na área administrativa. “Meu trabalho relaciono com Relações Públicas, porque tem muito relacionamento com pessoas, muita comunicação com diversos públicos. Eu acredito que tudo é aprendizado.”