Na noite desta segunda-feira, 21 de outubro, nomes do Jornalismo e do Direito se reuniram para discutir as várias facetas das notícias falsas. A mediação foi do professor de jornalismo Felipe Boff. Dentre os palestrantes, a pesquisadora Christa Berger, o jornalista e professor Juremir Machado, o ativista digital Lucio Uberdan, e o professor do curso de Direito, Guilherme Azevedo. Clique aqui para saber mais sobre os convidados.
Os debatedores trouxeram análises e visões diversas sobre o tema, aprofundando a discussão com o auditório que, além de alunos, recebeu a comunidade. Um dos pontos de acordo entre os convidados foi que as fake news não são um fenômeno simples.
Para a doutora em Comunicação e ex-pesquisadora da Unisinos e da UFRGS, Christa Berger, deveríamos começar a questionar até mesmo o termo “fake news”. Afinal, para ela, notícias já partem de fatos, então é errado considerar que um boato seja uma notícia. Mas para além da análise do termo, a pesquisadora ainda critica a participação indireta dos meios para a disseminação das notícias falsas. “A grande imprensa preparou o terreno para as notícias falsas das redes sociais, fazendo o trabalho sujo de suprimir do noticiário o que foi a ditadura militar, boicotando a comissão da verdade, reivindicando anistia para os dois lados, despolitizando o discurso político, criminalizando os movimentos sociais, transformando em heróis promotores e juízes da Lava Jato, associando a corrupção diretamente ao PT.”
Christa Berger fez um retrospecto da cobertura e participação dos grandes veículos de imprensa até a eleição do governo de Bolsonaro, pontuando momentos de deslize que favoreceram sua ascensão. “A ausência de rigor ligado ao voto de Bolsonaro mostra a convivência da grande imprensa com a ditadura, com a tortura.”, lembrou ela, referente ao voto do atual presidente sobre o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Na ocasião, o atual presidente dedicou seu voto ao coronel Ustra, declarado torturador do período militar.
Para o articulista Juremir Machado, o trabalho do jornalista é avançar por múltiplas resistências. “Eu parabenizo todos aqueles que fazem jornalismo de resistência, os sites que fazem o que pode ser chamado de jornalismo alternativo. Mas eu também valorizo o que chamo de ‘teoria da trincheira’, que é um jornalismo feito de dentro da velha e tradicional mídia que ainda tem grande impacto na sociedade e que precisa ser feito”, comentou Juremir. O apresentador do programa Esfera Pública, da rádio Guaíba, lembra ainda que mesmo de dentro de empresas tradicionais, o jornalismo encontra maneiras de se posicionar. Com seu jeito bem humorado, também fez ligações entre acontecimentos recentes do governo Bolsonaro envolvendo disseminação de fake news, ou ainda, com omissão de informações. “Daqui a pouquinho, nós saberemos o que o presidente falou com os ministros. Tudo vaza. Porque tem sempre um jornalista em algum lugar para apurar e divulgar.”
Lucio Uberdan foi o terceiro palestrante e trouxe, pela sua experiência com a Bateia Mineração de Dados, um levantamento de como e por quais meios as fake news se proliferam. Segundo ele, as fake news hoje estão mais perto de uma conspiração política global do que mera propaganda política. “O extremismo é um projeto global”, explicou Uberdan, que é também ativista digital e palestrante sobre o tema. “Nenhuma eleição é ‘local’. Toda eleição passa por um banco de dados que é global, inclusive as eleições municipais.”
Ligado a isso, o ativista trouxe um exemplo sobre como a tecnologia é invasiva e facilita a disseminação de fake news. Assim como há softwares para reconhece a emoção do usuário através do rosto e projetar conteúdos que melhorem seu humor, há os que mapeam perfil de eleitores indecisos e entregam conteúdos falsos personalizados para convencê-los. Foi o que ocorreu nas últimas eleições.
E por fim, um dos coordenadores do Direito de São Leopoldo, Guilherme Azevedo, trouxe a visão legal acerca das implicações de notícias falsas e punições. “O fenômeno da comunicação depende não só do que é transmitido, mas do que acontece quando alguém recebe a mensagem. Isso muda tudo. O Direito, para regular, precisa entender uma série de coisas, por exemplo, a autoria. Quem é o autor? Quem deve ser responsável pelo processo de fake news? Quem produz? Quem encomenda? Quem compartilha? Ou pior, quem acredita nela?”, discutiu o pesquisador, levantando o questionamento sobre o papel da educação midiática. Escapando das penalidades previstas em lei, que quanto mais duras menos são apoiadas por juristas, as escolhas mais simples são as mais eficazes, como a checagem dos fatos. Mas Guilherme também lembra que o chamado “direito de resposta”, a retratação das informações errôneas, não alcançam a mesma quantidade de pessoas que chamadas absurdas de mentiras.
O fato de mais questões terem sido levantadas do que respondidas foi uma das características elogiadas pelos participantes que estavam na platéia. O debate trouxe à tona diversas discussões. Você pode conferir evento clicando aqui. Acompanhe e veja na íntegra as discussões.