Deu certo

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Um clique no metrô
"Com técnica de fotografia furtiva, Thiéle registra figuras peculiares no trem"
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“Comecei a fotografar aos 15 anos, não sei bem o porquê, mas fazia fotos do quintal de casa, e fui gostando cada vez mais”. De lá para cá, a fotografia se tornou uma paixão na vida de Thiéle Elissa, hoje com 26 anos. 

Quando chegou na faculdade, escolheu estudar na Unisinos, e optou por Jornalismo, pois ainda não existia o curso de Fotografia. Dois anos depois, a Universidade, como se ouvisse as preces de Thiéle, inaugurou a graduação na área. Não deu outra: a paixão falou mais alto, e ela mudou de curso.

Aprendeu muito com seus professores, que lhe trouxeram bagagem teórica, referencial e prática. “Sempre fomos instigados a produzir projetos e ensaios, então ajudava muito com a criatividade e com a necessidade de criar algo interessante”, conta a jovem. Dentre tantos projetos, surgiu…

ESTRANHOS ÍNTIMOS

“Com o nascimento de grandes aglomerados urbanos, tivemos que aprender a lidar com a ideia de multidão. Mais do que aquela que nos tromba e confronta pelas ruas, uma multidão de fisionomias que cruzam nossos olhos todos os dias. Partindo de uma fala de Walter Benjamin que diz que antes do desenvolvimento dos transportes coletivos, as pessoas não conheciam a situação de se olhar reciprocamente por minutos ou horas a fio sem dirigir a palavra umas às outras, passei a registrar os olhares de usuários de metrô. Com uma estética de close furtivo, obtida na pós-produção, desloco-os de seu local de origem, levando-os para outro espaço temporal, remontando a troca de olhares desses estranhos íntimos”

Thiéle Elissa

Foi a partir da ideia de aproveitar o tempo que passava no transporte público para fotografar e transformar as imagens em objeto de pesquisa e trabalho que surgiu o projeto Estranhos Íntimos. No início, Thiéle optou em realizar retratos mais clássicos, mas, conforme aprendia com as disciplinas, modificou o seu trabalho, chegando em uma estética de close. As imagens foram recortadas para aproximar os olhos ou detalhes dos rostos de seus personagens. 

Tudo foi feito com o celular. Não interessava a presença do trem nas imagens, a artista queria apenas deslocar seus personagens para outro espaço temporal, criando uma atmosfera de sonho e devaneio. “Imagens abstratas que lembram constelações, a superfície da lua, um céu estrelado”, conta a artista. 

“Ela conseguiu construir um trabalho muito coerente e consciente a partir da própria rotina dela. Como ela pegava muito trem, ela conseguiu utilizar esse tempo e essa temática para desenvolver a série”, conta Thiago Coelho, professor de Fotografia da Unisinos. 

O ensaio foi finalista do Prêmio Conrado Wessel e do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. Esteve exposto na Sala Antônio Caringi, na Secretaria de Cultura da cidade de Pelotas de 3 de setembro a 11 de outubro. O curador, Gabriel Bicho, conta, de forma poética, o que buscava com as imagens de Thiéle: “O trânsito entre a indefinição da realidade e a ampliação do significado para sustentar o que de mais explícito o trabalho da artista poderia nos dar: seu próprio discurso”. 

Tem algum personagem que lhe chamou a atenção durante o desenvolvimento desse trabalho? 

“Todos de alguma forma. A premissa para serem fotografados era que algo neles despertasse a minha atenção. Algo interessante que aconteceu foi rever um deles em outra ocasião no próprio trem. Pra mim, ele era tão íntimo já. Para ele, eu era desconhecida.” – Thiéle Elissa

Outros íntimos

Estranhos Íntimos foi a primeira exposição individual de Thiéle, mas a fotógrafa já havia feito outras mostras coletivas, como “Apto 202”, “Ocupação”, “Limiares” e o “Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia”, que esteve em exposição no Museu do Estado do Pará, em Belém, no ano passado. 

“Apto 202” foi produzido em 2014 e 2015, chegando ao grande público em 2016, quando foi exposto na Galeria Mascate. No trabalho, a artista acompanha o cotidiano de sua segunda casa, habitada por sua tia Diná. Objetos e fotografias tornam-se retratos de sua personagem. Thiéle fez da memória sua principal ferramenta para compor a história de suas fotografias. 

Atualmente, Thiéle é integrante da Galeria Mascate e também faz parte do Grupo de Estudos em Fotografia, ministrado por Tiago Coelho e Marco Antonio Filho, no Barraco Cultural, em Porto Alegre. Já recebeu menção honrosa na convocatória da Galeria Ponto de Fuga para a Bienal Internacional de Curitiba, em 2018. Também foi vencedora da 12ª edição do Projeto Vitrine do Ateliê da Imagem, no Rio de Janeiro. 

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